A coluna de Miriam Leitão constitui o tipo de verdade
ominosa, aquela que sabemos sobrepairar-nos , mas que por conveniência (ou
erro), ou até por superstição (a cidadania) preferimos represar, como se o
desconhecimento a tornasse um pouco menos grave e, por conseguinte, menos
insuportável.
Esperávamos no mágico remédio da
eleição. Infelizmente, no caso, elas já são história. Registraram, é verdade,
um grande esforço dos candidatos de oposição – Marina e Aécio Neves. A primeira
pedra no caminho foi quase fácil para o PT e sua candidata Dilma Rousseff
afastar. Depois do medão inicial, nada como a propaganda oficialista para desconstruí-la
e despedaça-la - e impiedosamente.
Diante do aparelhamento das estruturas estatais – doze anos não passam em vão –
os seus efeitos já eram previsíveis. Mas o mal não estava só aí, mas também na
patética fraqueza da estrutura (?) partidária que sustentava Marina.
Desprotegida, as suas verdades para auditórios menos enfronhados da realidade
não passaram de frágeis tendas que não podiam arrostar a pujança da propaganda
e, sobretudo, contrapropaganda oficial e oficialóide.
Mentiras é palavra a um tempo veraz e
igualmente insuficiente, porque não lograria pôr por terra - e como poderia no silêncio imposto
pelo desequilíbrio legalmente criado –
as armações do Poniatowski atual para encobrir a realidade ? A diferença é que hoje a soberana sabia de
tudo, e o intuito era desmanchar a mensagem da oposição, por demasiado
verdadeira, na cabeça do Povão, que, por compreensíveis razões, as aceitariam alegremente.
E assim foi. O outro candidato da
oposição não imitou o seu predecessor em 2010, mas tal não lhe foi bastante,
por se ter esquecido de sua terra natal.
Antes lá tinha conseguido cristianizar[1] o
rival interno. Nesta eleição, a soberba – apesar de oportunos avisos – o fez
esquecer Minas, como se fora seu feudo. Daí, o mecanismo do aparelhamento do
Estado – e as sequelas da bolsa-família – cuidaram do resto, assegurando para
governante que não enchia as medidas da avaliação das classes mais enfronhadas
da realidade nacional – pudesse arrancar em resultado decerto apertado, mas
determinante, a vitória e mais quatro
anos de governo que, guardadas algumas diferenças, vai sempre mais se
assemelhando ao neossindicalismo chavista, que ora pesa sobre nós.
Daí, os dados arrolados e comentados
pela pena de Miriam Leitão, a despeito de magistralmente expostos, já eram
tristemente previsíveis.
Se a prática indica que o mau governo
se reeleito costuma vingar-se das
descobertas – e crescentes – reticências de eleitorado mais empapado da
realidade, com a trágica fórmula de mais do mesmo, a democracia nos ensina que,
como nas turbulências aeronáuticas, o único remédio será apertar o cinto e
rezar por forças alheias à nossa vontade para que a má hora logo passe.
No futebol, como na política, as regras
são claras e inflexíveis. Não adianta
chorar sobre o leite derramado. A faina é dura e a trajetória longa. Mas
deve ser encetada como se tivéssemos a certeza de que a saída é possível e está
depositada nas mesmas urnas que produziram o resultado do último turno
eleitoral.
(Fontes: Míriam
Leitão – ‘A verdade é teimosa’, e com saudosa recordação de AFAS).
[1] Verbo surgido por prática
da eleição em 1950, quando o PSD (então o maior partido brasileiro) mandou despejar
seus votos no candidato Getúlio Vargas, ao invés de seu candidato de legenda,
Cristiano Machado.
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