Estranha orientação empresarial
Não faz
sentido cortar os bons valores – justamente aqueles que dão qualidade ao jornal
– sob essa regra estulta de que são mais onerosos para a Folha. Se tal orientação
prosseguir, não sei quem virá a substituir os bons profissionais, mas posso
assegurar que todos perderão: o leitor a quem se priva de uma pena de qualidade
no respectivo setor de atividade e comentário; o nível do jornal, que não mais
contará com a colaboração de profissional de primeira plana. O empobrecimento
qualitativo do jornal é a consequência imediata.
O que a Folha deve preservar é colaborador com qualidades que alavancam as
páginas do jornal para comentários e percepções acima do usual. O paradoxal
nesta anti-orientação empresarial está em desvencilhar-se de jornalista porque
custa caro. Com isso, o jornal dá um tiro no pé, a começar pela circunstância
de que o diretor encarregado do corte o faz sem levar em consideração o número
de leitores que a alta qualidade do(a) profissional atraía e mantinha.
No caso, a
burrice do corte é dupla: prejudica o jornal e indispõe o leitor. É difícil
mensurar, entre outros atributos, inteligência e conhecimento, e pensar que os colaboradores
são intercambiáveis.
Além disso, se
tal orientação fosse tão boa, porque ela não é praticada em grandes jornais, a
começar pelo maior deles, cujo endereço fica em Manhattan ?
A Coluna de Ricardo Noblat
A segunda-feira
costuma ser dia em que as edições dos
jornais não se caracterizam por um brilho especial. Depois da farra dos números
dominicais, de seus artigos e suplementos especiais, há um certo vezo de tratar
os números de segunda-feira com a mesma atenção, boa vontade e disposição que
os funcionários e empregados costumam reservar para o primeiro dia útil da
semana.
Essa
segunda-feira não é exatamente decantada em verso, nem elevada aos prazeres e
encantos que o álbum popular sói dedicar aos deleites e sortilégios do fim de
semana.
Nesse contexto,
a qualidade da coluna de Noblat se
diferencia da característica de um dia que parece um pouco jejuno em termos de
assuntos novos, originais, como se a carraspana do fim de semana ainda não
estivesse de todo curtida.
Sei que ao
fazer tal comentário me exponho a enormes riscos, ficando a descoberto para os
que Nelson Rodrigues chamava de idiotas da objetividade. Mas que seja, eis que
a excelência e a originalidade são características que não dão exatamente com o
pé – feitas todas as exceções requeridas pelos fiscais de plantão.
Nesse contexto,
é bom distinguir entre os que acompanham a toada e dançam conforme a música, e
aqueles poucos que saem a descoberto, levantando assuntos ainda não versados,
ou – o que é melhor ainda – enveredando por ângulos a que não se reservara seja
a atenção, seja a análise mais detida e por isso mais bem estruturada.
Não é, assim,
por acaso, que a segunda página de O
Globo, na morna edição da segunda-feira, será logo aberta e esquadrinhada
no seu canto direito.
Com serena
firmeza profissional, Ricardo Noblat
convida Dilma a descer do palanque. Embora estivesse na Austrália, a Presidenta
achou oportuno deitar falação sobre a Lava-Jato.
Basta, a propósito, transcrever: “
Na Austrália, do outro lado do mundo,
sob o efeito do fuso horário, talvez, como se ainda estivesse em cima de um
palanque,(...) a presidente Dilma Rousseff concedeu sua primeira entrevista
coletiva sobre o arrastão de donos e executivos de empreiteiras que marcou na
semana passada mais uma etapa das investigações sobre a roubalheira na
Petrobrás. Perdeu uma rara oportunidade de ficar calada.”
A exação verbal
é qualidade que desde muito vejo acompanhar o jornalista Ricardo Noblat.
Recordo-me, a propósito, de programa em que o então poderoso político baiano
Antonio Carlos Magalhães passava indene pelo ‘Roda Viva’, da tevê pública. Com
uma única exceção. Presente, Ricardo
Noblat, entre diversas anódinas qualificações de ACM, pespegou-lhe, como se
nada fora, o adjetivo ‘truculento’. Foi o que bastou. Antonio Carlos Magalhães
passou o resto do programa a tentar desvencilhar-se do epíteto.
Como lhe caía
qual uma luva, o esforço foi debalde.
( Fonte: O
Globo, e o programa ‘Roda Viva’ )
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