quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Folhetim

                                                   

O Litígio Khodorkowsky



          Neste último verão boreal entrou em tribunal na Haia consórcio de nome GML com o pleito de ressarcimento no montante de US$ 50 bilhões.

          O processo impetrado contra a Federação Russa se deve à desapropriação em 2004 da empresa petrolífera Jukos, então de propriedade de Mikhail Khodorkowsky. Além da propriedade perdida, Khodorkowsky foi condenado a  dez anos em prisão russa.

          Depois de transcorrer um largo período nas inefáveis masmorras russas – de que F. Dostoiewski nos deixou o testemunho imortal de Recordações da Casa dos Mortos – o antes mega-empresário Khodorkowsky ‘ganhou’ ainda uma extensão de sentença, infligida por um dócil juiz (que mereceu a maldição da mãe do ex-empresário, então presente à leitura da ulterior pena).

          Com os seus amigos e partidários, o anterior chefe da Jukos logrou afinal emigrar dos domínios do Kremlin.

           Agora, os investidores defraudados pela intervenção do governo de gospodin Putin pensam conseguir judicialmente a indenização pelos prejuízos incorridos.

           O plano de Khodorkowsky e seus associados é o de lograr judicialmente a paga pela enorme perda incorrida por força da intervenção do governo russo.

           Nunca investidores privados se propuseram arrancar do governo russo um tal montante a troco de prejuízos sofridos. O valor da questão é de grandes proporções (corresponderia aos orçamentos argentino ou da Romênia).

           Dadas as suas transações, as empresas estatais russas Gazprom e Rosneft, assim como a Rosatom, correm o risco de terem os respectivos ativos penhorados.

          Os governos europeus interessados – e por conseguinte o próprio governo federal alemão – podem se  ver a braços com essa questão. Nesse contexto, Moscou não exclui a possibilidade de retaliar, na defesa dos respectivos interesses.        

          A Duma (o parlamento russo) já considera a elaboração de legislação  que  possibilite o confisco de propriedades estrangeiras na Rússia se empresas russas sofrerem prejuízos no exterior.  

          Da legalidade de tais medidas – e dos eventuais prejuízos que causariam aos interesses da Federação Russa – à luz dos Direitos internacional público e privado é decerto uma outra estória.

          Segundo a reportagem do Spiegel, o governo alemão estaria apostando suas cartas em uma barganha, que  afastasse à última hora a iminente guerra de penhores recíprocos. Contra renúncia – total ou parcial – dos investidores da Jukos de coletarem pagamentos bilionários, o governo russo não mais levaria adiante procedimentos penais contra antigos gerentes e empregados da Jukos.

           Nesse contexto, Moscou poderia indultar o chefe da segurança da antiga Jukos, Alexei Pitschugin, que foi condenado em processo criminal. Dessarte, um dos principais investidores do GML e íntimo de Khodorkowsky, Leonid Newslin, declarou faz pouco: “Pela liberdade de Pitschugin estamos dispostos a muitos sacrifícios.”

 

( Fonte:  Der Spiegel (nr. 43/20.10.2014)  

Nenhum comentário: