A inflação é
o mais cruel dos impostos, porque atinge a todos indiscriminadamente, não tem
bons efeitos econômicos – as teses em contrário, as levou o vento e o longo
reino do Dragão em Pindorama -, além de minar a confiança no empresariado, e, por
conseguinte, o investimento e a criação da riqueza em geral.
Acusam-nos amiúde
a nós brasileiros, de falta de constância e, por conseguinte, de carência de plano
sustentado de desenvolvimento.
Por
irresponsabilidade de Lula que, por motivos dele próprios, nos brindou com o
seu primeiro ‘poste’, nos descobrimos
com alguém na presidência sem a necessária visão e vivência para esse cargo.
Esse colossal
erro não é privativo do líder do Partido dos Trabalhadores. Posto que o
candidato então do PSDB tenha feito campanha
medíocre, Dilma Rousseff foi eleita em 2010 por uma não tão sagrada aliança do atraso – no Nordeste sufragaram a ‘mulher
do Lula’ – com a fragmentária política do oportunismo politiqueiro e da
inegável popularidade das administrações de Lula I e Lula II. Não é de
desprezar, nesse contexto, o senhor empurrão que o líder petista receberia da incompetência política dos tucanos, com o que
minimizou os prejuízos advindos do magno escolho do Mensalão, e pôde reeleger-se em segundo turno em 2006.
Mas deixemos esse
leite derramado. Para vencer a disputa em 2014 Dilma pode valer-se menos de
suas realizações, do que da aliança do assistencialismo com o aparelhamento do
Estado.
A tão temida
ameaça de Marina foi afinal afastada por uma propaganda política blindada, e a
falta de que se ressentiu o carisma da candidata acreana de estrutura
partidária e um mínimo apoio para contra-arrestar a saraivada de mentiras que, por força da ignorância e
da incapacidade de defesa digna desse nome, transformou-se em verdadeira
floresta amazônica onde perdeu-se sua mensagem
de esperança e renovação.
Nessas
condições, com a ajuda do marqueteiro e a tarda explosão do mega-escândalo da
Petrobrás, o Dilma II virou realidade, apesar da boa campanha de Aécio Neves.
Esse mar oposicionista foi sustado pelos rochedos da Bolsa-Família e as
alianças do esquema lulista, embora tenha sido por pouco, e com a cortesia da
campanha medíocre nas Minas Gerais natal do porto-estandarte tucano.
Dilma – que,
de forma irresponsável, abandonou o Plano Real, como se fora programa do PSDB e
não do Brasil – nos trouxe a inflação de volta. E ela está aí, batendo sempre
acima das metas e sobretudo batendo o dinheiro das classes menos favorecidas,
dos aposentados e de toda a gente brasileira que saudara com entusiasmo a vinda
do Real, que nos livrou das diversas encarnações da carestia.
Agora, com
um requinte especial, adentramos, escabreados, o Dilma II. Aécio fala de estelionato
eleitoral. Apesar de ter ares de verdade, esse é um truque velho como a Sé de
Braga – vencer com a esquerda e governar com a direita. Sobre os ombros de
Joaquim Levy – pois os outros dois são mais frágeis – repousa o desejo comum de
que a inflação seja vencida. Se é tão humana a confiança nessa determinação política,
e se assemelha à tenra plantinha da democracia nos tempos do político baiano
Otávio Mangabeira, o passado está aí e o seu imaginário dedo parece condenar ao
inferno do fracasso a tentativa da Presidenta, saudada com tanto alvoroto pela
enorme concentração das pessoas que muito têm a perder com a inflação.
Todos nós,
otimistas de plantão e pessimistas de atalaia, queremos acreditar que desta vez
vamos... vencer. Todo o passado semelha condenar tão trêfega aspiração. Mal ou
bem Dilma encontrara uma economia saneada e livre do dragão. Bastaram-lhe uns
poucos anos para que trouxesse de volta tudo aquilo que se pensara despachado
para as funduras da geena e do inferno.
Protegei-nos, Senhor, das boas intenções dos que acreditam poder remexer
impunemente com obras bem-sucedidas e, em especial, aquelas como o Plano Real
que conseguira vencer uma entranhada cultura da inflação (e da hiper-inflação)
onde estagnara o Projeto Brasil.
Aos
otimistas de plantão terá animado a entrada no Governo de Joaquim Levy. No
entanto, esse tão denegrido mercado hesita entre confiança e desconfiança, e se
fundamenta no resultado das primeiras escaramuças de uma campanha que só pode
ser longa. Há demasiados mouros na costa para que nos embalemos no fácil
otimismo dos néscios e dos crentes em que desta vez será diferente.
Por trás
do Ministro da Fazenda, está a Senhora Dilma Rousseff que é a Presidente do
Brasil, mas também não deixa de ser quem causou toda essa destruição não-criativa
que foi o seu primeiro mandato.
Quando em
uma equação abundam as incógnitas e os imponderáveis, o jeito é pensar em
Nelson Rodrigues. Talvez seja a hora do Sobrenatural de Almeida e quem sabe
?...
( Fonte: O
Globo)
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