sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Perspectivas na Economia


                                       

         A inflação é o mais cruel dos impostos, porque atinge a todos indiscriminadamente, não tem bons efeitos econômicos – as teses em contrário, as levou o vento e o longo reino do Dragão em Pindorama -, além de minar a confiança no empresariado, e, por conseguinte, o investimento e a criação da riqueza em geral.

         Acusam-nos amiúde a nós brasileiros, de falta de constância e, por conseguinte, de carência de plano sustentado de desenvolvimento.

         Por irresponsabilidade de Lula que, por motivos dele próprios, nos brindou com o seu primeiro ‘poste’, nos descobrimos com alguém na presidência sem a necessária visão e vivência para esse cargo.

         Esse colossal erro não é privativo do líder do Partido dos Trabalhadores. Posto que o candidato então do PSDB tenha feito campanha medíocre, Dilma Rousseff foi eleita em 2010 por uma não tão sagrada aliança do atraso – no Nordeste sufragaram a ‘mulher do Lula’ – com a fragmentária política do oportunismo politiqueiro e da inegável popularidade das administrações de Lula I e Lula II. Não é de desprezar, nesse contexto, o senhor empurrão  que o líder petista receberia  da incompetência política dos tucanos, com o que minimizou os prejuízos advindos do magno escolho do Mensalão, e  pôde reeleger-se em segundo turno em 2006.

        Mas deixemos esse leite derramado. Para vencer a disputa em 2014 Dilma pode valer-se menos de suas realizações, do que da aliança do assistencialismo com o aparelhamento do Estado.

        A tão temida ameaça de Marina foi afinal afastada por uma propaganda política blindada, e a falta de que se ressentiu o carisma da candidata acreana de  estrutura partidária e um mínimo apoio para contra-arrestar a saraivada de mentiras que, por força da ignorância e da incapacidade de defesa digna desse nome, transformou-se em verdadeira floresta amazônica onde perdeu-se  sua mensagem de esperança e renovação.

         Nessas condições, com a ajuda do marqueteiro e a tarda explosão do mega-escândalo da Petrobrás, o Dilma II virou realidade, apesar da boa campanha de Aécio Neves. Esse mar oposicionista foi sustado pelos rochedos da Bolsa-Família e as alianças do esquema lulista, embora tenha sido por pouco, e com a cortesia da campanha medíocre nas Minas Gerais natal do porto-estandarte tucano.

         Dilma – que, de forma irresponsável, abandonou o Plano Real, como se fora programa do PSDB e não do Brasil – nos trouxe a inflação de volta. E ela está aí, batendo sempre acima das metas e sobretudo batendo o dinheiro das classes menos favorecidas, dos aposentados e de toda a gente brasileira que saudara com entusiasmo a vinda do Real, que nos livrou das diversas encarnações da carestia.

          Agora, com um requinte especial, adentramos, escabreados, o Dilma II. Aécio fala de estelionato eleitoral. Apesar de ter ares de verdade, esse é um truque velho como a Sé de Braga – vencer com a esquerda e governar com a direita. Sobre os ombros de Joaquim Levy – pois os outros dois são mais frágeis – repousa o desejo comum de que a inflação seja vencida. Se é tão humana a confiança nessa determinação política, e se assemelha à tenra plantinha da democracia nos tempos do político baiano Otávio Mangabeira, o passado está aí e o seu imaginário dedo parece condenar ao inferno do fracasso a tentativa da Presidenta, saudada com tanto alvoroto pela enorme concentração das pessoas que muito têm a perder com a inflação.

            Todos nós, otimistas de plantão e pessimistas de atalaia, queremos acreditar que desta vez vamos... vencer. Todo o passado semelha condenar tão trêfega aspiração. Mal ou bem Dilma encontrara uma economia saneada e livre do dragão. Bastaram-lhe uns poucos anos para que trouxesse de volta tudo aquilo que se pensara despachado para as funduras da geena e do inferno.

            Protegei-nos, Senhor, das boas intenções dos que acreditam poder remexer impunemente com obras bem-sucedidas e, em especial, aquelas como o Plano Real que conseguira vencer uma entranhada cultura da inflação (e da hiper-inflação) onde estagnara o Projeto Brasil.

            Aos otimistas de plantão terá animado a entrada no Governo de Joaquim Levy. No entanto, esse tão denegrido mercado hesita entre confiança e desconfiança, e se fundamenta no resultado das primeiras escaramuças de uma campanha que só pode ser longa. Há demasiados mouros na costa para que nos embalemos no fácil otimismo dos néscios e dos crentes em que desta vez será diferente.

            Por trás do Ministro da Fazenda, está a Senhora Dilma Rousseff que é a Presidente do Brasil, mas também não deixa de ser quem causou toda essa destruição não-criativa que foi o seu primeiro mandato.

            Quando em uma equação abundam as incógnitas e os imponderáveis, o jeito é pensar em Nelson Rodrigues. Talvez seja a hora do Sobrenatural de Almeida e quem sabe ?...

 

( Fonte:  O  Globo)     

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