O Governo Dilma Rousseff continua
colecionando dados negativos. Em
outubro, o déficit externo foi o maior da história, com US$ 8,1 bilhões. Até o referido mês o balanço de transações
correntes – trocas de bens e serviços do Brasil com o resto do mundo – acumula
déficit de US$ 70,7 bilhões, o mais
alto para o período, correspondente a 3,74%
do PIB.
Os recordes ruins
não param aí. No passado, o Brasil compensava os resultados negativos da
remessa de juros, além do envio de lucros e dividendos para o exterior, com o
saldo positivo no balanço comercial (troca de mercadorias).
Continuamos a
ser um país com pauta de exportações de commodities
(matérias primas). Através dos
séculos tem sido a nossa sina. Houve queda generalizada na cotação desses
produtos de base no mercado internacional.
Por outro lado,
como não mais dispomos de indústria automobilística nacional – como tínhamos no
passado, com o Aero Wyllis, o Gurgel, etc.- os lucros dessa fonte
produtora – no caso, das sucursais - migram para as matrizes, que ficam nos
Estados Unidos, Europa e Ásia (Japão e até Coréia do Sul). Essa carga tende
ainda a aumentar quando as matrizes enfrentam crises, com a retração nas vendas
nas Europas e Estados Unidos.
Como disse, no
passado, e repito são verdadeiras feitorias, aqui instaladas como as
lusas na Costa Africana, para exportar a mais-valia, então para o mundo
europeu. No nosso caso, será para o norte desenvolvido. E como se não bastasse,
o Brasil é o único país em tal alto nível de Produto Nacional Bruto que é
submetido à tal contingência. Se não faltou a Juscelino Kubitschek a visão de
largo prazo para a implantação de montadoras nacionais no Brasil, sobrou aos
governos posteriores, notadamente o regime militar e até FHC, a miopia
histórica de permitir essa veia para sempre aberta, com a completa
desnacionalização das montadoras.
Daí, o peso
histórico do balanço de invisíveis que tende a ser marcadamente negativo. Com
Copa do Mundo e tudo, houve recuo nos recursos deixados por estrangeiros no
Brasil. Os valores caíram de US$ 533 milhões, em outubro de 2013, para US$ 488
milhões no mês passado.
Ao contrário da
tendência histórica, em que a balança comercial do Brasil é superavitária – e
nesse sentido pode servir de colchão para os déficits em transações correntes,
notadamente invisíveis - nas três primeiras semanas de novembro houve um
déficit de US$ 2,252 bilhões
(exportações US$ 11,735 bilhões e
importações de US$ 13,987 bilhões), o que compõe um déficit acumulado no ano de
US$ 4,123 bilhões.
Por
outro lado, os gastos dos brasileiros no exterior – turismo e as compras
consequentes – se explicam em boa parte pelo abismo nos preços entre os
produtos comprados aqui e no exterior (notadamente nos Estados Unidos).
É outra
consequência direta da brutal carga tributária que incide generalizadamente
sobre os produtos nacionais (até remédios). Dadas as consequentes colossais diferenças de
preço, é uma decorrência inelutável que o turista brasileiro compre muito no
exterior, não porque os artigos sejam necessariamente melhores, mas pela
acintosa disparidade com as cotações das mercadorias de Pindorama, sob o gravoso peso dos tributos da insaciável receita.
Sem embargo,
continuamos a ser um destino preferencial para os investimentos estrangeiros.
Se eles caíram 8,4% em relação a outubro do ano anterior, 2014 vem mostrando um
resultado melhor do que o ano precedente: são US$ 51,2 bilhões, com
alta de 4%. Há no mercado a expectativa
de que o dólar estadunidense mais caro ajude a arrumar as contas externas do Brasil,
eis que estimula as exportações (por torná-las mais competitivas externamente,
ao ficarem mais baratas, além de inibir relativamente as aquisições (gastos) no
exterior – que ficam mais caros com a depreciação do real em passagens aéreas e
diárias na Europa e Estados Unidos.
Daí, a
necessidade de uma melhora no trato da economia, com mais rigor fiscal. Se
continuarmos na linha anterior, a queda na nota de avaliação da economia pelas
agências de Wall Street nos espera em uma esquina próxima. Ao perder o grau de
investimento, caímos no pântano dos especulativos. Não obstante o pan-americanismo e a
solidariedade latino-americana, não creio seja o caso de reingressarmos nas incertezas dos
tempos pré-Plano Real, assim como no charco do chavismo e do peronismo-kirchnerista...
( Fonte: O Globo )
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