Os jornais e as tevês falam de
recrudescimento da violência em Ferguson.
Antes
de correr para verberar o recurso à violência, que será sempre condenável em
tese, é mister examinar-lhe as causas mediatas e imediatas.
A justiça, por outro lado, não deve só parecer
honesta. Ela deve ir além, ser efetivamente coerente, dando aos respectivos
desafios respostas que podem afigurar-se até severas, mas que não se furtam
diante do exame imparcial das ocorrências.
A violência
da comunidade afro-americana volta a reacender-se, com uma série de
depredações, conflitos e incêndios na noite de diversas cidades. E com
característica que turbará os observadores: os protestos dessa comunidade foram
ainda mais fortes do que no dia da morte do jovem negro Michael Brown.
Essa reação,
que repontou em mais de trinta estados, estendendo-se até ao Canadá, é
decorrência de um misto de raiva e perplexidade diante de uma afronta.
Mais uma vez um
policial branco, movido por tênues suspeitas, mata um jovem negro. No caso do
estado de Missouri, um policial branco, Darren Wilson, foi levado a atirar pelo
gesto de mãos ao alto do jovem adolescente negro, Michael Brown.
Na Flórida, no
ano passado, um miliciano branco matou um jovem negro que pensava estivesse
armado.
Em ambos os
estados, o policial e o assemelhado (uma espécie de segurança armado), que permite a lei da Flórida foram declarados
não culpados.
Há distinções
técnicas entre as decisões das justiças estaduais. No caso da Flórida, foi uma
sentença de julgamento, e no mais recente, do Tribunal de Clayton, em Missouri,
um grã-juri decidiu por maioria de votos que o policial branco não seria
indiciado.
Quando uma
comunidade é colocada diante de decisões judiciais que parecem parciais, e que
favorecem objetivamente ao segurança e ao policial branco, em detrimento dos
jovens negros, como verão os negros a justiça na Terra de Tio Sam?
Ao invés de uma decantada imparcialidade
do doa a quem doer,o que se confronta é o resultado de decisões suscetíveis de
serem inquinadas de parcialidade racial. A ameaça imaginária dos jovens
afro-americanos, tomada como se fora verdade, pelos policiais armados, terá
dado ao jovem negro alguma oportunidade de esclarecer o próprio comportamento
de forma civilizada e consoante as práticas dos oficiais da lei?
Cresce, com
efeito, com a rapidez do Velho Oeste, que existiria de parte desses supostos agentes
da lei entranhada postura de racial suspeita em relação aos negros.
Eles, na
verdade, seriam suspeitos, em princípio e em fim de contas, pela sua intrínseca
condição racial. Armados, esses agentes não defendem a lei como os políciais de
antanho, mas vêem confrontação e, o que é pior, ameaça em atitudes próprias de
gente jovem. Esses, na verdade nutrem
confiança – que os fatos irão tristemente menosprezar – na circunstância de que
não desejam mal algum.
Sem embargo,
será um erro fatal, a despeito de realizado com boa fé, porque não leva em
conta - e como deveria ? – a existência
do mal que, em um e outro caso, se aninha nas suas suspicácias paranoides. Na Flórida e no Missouri, o único perigo
existente nesses falsos confrontos semelha residir na condição racial, que o policial
branco assume como se fora a verdadeira
ameaça.
É necessário
pôr um basta a esses vereditos que, ao invés da verdade judicial, expressam a
carantonha do preconceito e da provocação.
( Fonte
subsidiária: O Globo )
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