Nesses jornais de domingo, há discursos para todos os gostos. Não há negar
que Joaquim Levy é quem concentra as atenções. Especula-se muito, no contexto,
sobre a atitude que tomará a presidenta. Tenho para mim que ela, por ora, há de
preferir não assumir a direção da economia. Não há de esquecer – nem as
prováveis mediatas consequências de seus passos em falso estarão aí para reforçar-lhe
as linhas de defesa – que o seu
desenvolvimentismo trouxe de volta a inflação, o desequilíbrio fiscal y otras
cositas más.
Fantasma sabe
para quem aparece, e não se podia esperar de um Guido Mantega, depois da
marolinha e das capitalizações, que o Lula II desse condições de sustentabilidade para a sua
candidata de algibeira.
E,
infelizmente, o desastre econômico-financeiro do Dilma I não poderia ocorrer de
outra forma. A Presidenta, com o
passar do tempo, agiu como se a recuperação econômico-financeira trazida pelo
Plano Real – e todo o seu conjunto normativo, incluída, como chave de abóbada,
a Lei da Responsabilidade Fiscal – continuasse a merecer a atitude confrontativa
do PT na oposição.
Assim,
Meirelles foi despachado sumariamente por
ter ousado agitar a bandeirinha da autonomia que, até aquele momento, mal
ou bem se mantinha. FHC terá cometido o erro de não incluí-la formalmente no
pacote, cioso quiçá dos respectivos poderes.
Além do estilo
dílmico, Guido Mântega não tinha a têmpera de tentar contrariar a briosa
presidente. No primeiro quadriênio,
depois que veríamos repontar a cabeça hedionda do dragão, a carestia se
transformaria na falsa cereja do bolo fiscal.
Quem poderia
ter ilusões sobre os projetos de exação fiscal e controle inflacionário de
alguém que convide para almoço no Planalto a Delfim Netto e Luiz Gonzaga
Belluzzo? Que seriedade teriam esses projetos, se ninguém do Plano Real foi
convidado? E nesse ponto está talvez o erro central da economista Dilma
Rousseff. Tratou como se fosse do PSDB o plano Real, quando na verdade foi conquista
nacional.
Agora, jogadas
ao vento as suas práticas, ela nos condenou a repeti-las, como se fácil fora
delas desmerecer, e as substituir com slogans
e projetos sem lastro fiscal.
É difícil
acreditar, mas por vezes nós espectadores do show-Brasil ficamos com o
ressaibo, mais do que a impressão, de que a candidata selecionada por Lula da
Silva, e aprovada com sumo louvor pela aliança petista e assistencialista, com
a medíocre participação de uma oposição sem personalidade (ou sem coragem) de
brigar pelo mando, que essa senhora, repito, se julgou acima do tempo e da economia,
como se, por algum capricho da História, ela estivesse aninhada em cápsula do tempo.
O poeta
Virgílio nos legou o verso: Tenho medo dos gregos, sobretudo quando dão
presentes[1]. Recordei-me dessa responsabilidade de Lula,
que agora – como todos os problemas mal resolvidos não quer partir e deixar-nos
em paz. A Santa Aliança da bolsa-família e o aparelhamento do Estado persiste
na reeleição do Primeiro Poste.
No entanto, a
História – essa narração sem sentido – tem a sua perversa dinâmica, da qual o
cartunista Chico Caruso nos dá hoje mais uma demonstração de gênio criativo. O desenho
é o das peças de um dominó, e talvez aí estejam os dados de um claro enigma.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
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