Surrealismo ambiente
Não é só em
reunião formal da Petrobrás que se tem a impressão de deparar duas realidades
superpostas.
De um lado, a
postura grave das autoridades, os lábios cerrados, por vezes crispados. Em
outros tempos, Aporelly falaria que existiam mais coisas no ar que os aviões de
carreira. Hoje, a alusão a conluios e conspirações semelha até ingênua, pela
quase física presença de um constrangimento – que está ali e não está -, como
se os partícipes vivessem uma realidade transitória – e o que é mais grave,
disso não tivessem dúvida – e com olhos mergulhados em um futuro de que cada um
parece sentir o peso, mas se esforça em fazer de conta que não existe.
A Petrobrás, a
nossa maior empresa, não merece tal sorte.
Como voltar a infundir confiança, nesse colegiado de indicados
políticos, que afundam os olhos, como se a realidade lhes assustasse ou
preferissem sequer encará-la ?
E a palavra impeachment, e o emaranhado de onde
costuma crescer, volta a ter relevância.
Lula da Silva
que, por causa do mensalão, já arrostou esse fantasma, reagira positivamente à
destituição de Fernando Collor. Declarado impedido o presidente caçador de
marajás, disse o líder petista: “foi uma coisa importante o povo brasileiro,
pela primeira vez na América Latina, dar a demonstração de que é possível o
mesmo povo que elege um político destituir esse político. Peço a Deus que nunca
mais o povo esqueça essa lição.”
A esse propósito,
Merval Pereira, em sua coluna hodierna,
coloca as manifestações a favor
do impeachment de Dilma, seja nas
ruas, seja de políticos ou de meios de comunicação, em um campo intermédio.
Elas podem ser precipitadas e inconvenientes politicamente, mas não golpistas,
como os governistas e órgãos chapa-branca buscam rotulá-las.
O que será
necessário pôr a limpo é a indicação, feita pelo doleiro Alberto Youssef, de
que a campanha de 2010 foi financiada por dinheiro do petróleo.
Por outro lado,
falta vistoriar e aprovar a prestação de
contas da campanha deste ano – a ser analisada no TSE pelo Ministro Gilmar
Mendes.
Para Temer, governo está ‘tranquilíssimo’.
O
Vice-Presidente Michel Temer – na qualidade de Presidente em exercício –
afirmou que o Governo está
tranquilíssimo com as investigações da Lava-Jato.
No seu
entender, o governo está incentivando a apuração dos desvios sobre os contratos
da Petrobrás: ‘Você sabe que a competência é da Polícia Federal de um lado, do
Ministério Público, do outro, o Congresso Nacional de outro, fazendo CPI. De
modo que o governo está tranquilíssimo” (sic).
Entrementes, a
oposição, por intermédio do Senador Aloysio Nunes Ferreira (o candidato a Vice
de Aécio) afirmou que a oposição já começou a coletar assinaturas para uma nova
CPI sobre a estatal. Aloysio Ferreira
fez, da tribuna do Senado, duro discurso apontando Dilma como a beneficiária
dos malfeitos na estatal: “Não seria leviano aqui para dizer que a presidente
Dilma é, pessoalmente, desonesta. Mas que ela se beneficiou desse esquema, se
beneficiou. Ela se beneficiou eleitoralmente, politicamente. Ela fez parte de
um governo sustentado na lama. E ela nada fez para impedir.”
Aragão é contra Gilmar Mendes ?
O Ministério Público Eleitoral
apresentou recurso ao Tribunal Superior Eleitoral contra a decisão do
presidente do tribunal, Ministro Dias Toffoli, pela redistribuição via sorteio
do processo de prestação de contas da campanha da Presidenta Dilma Rousseff.
Eugenio
Aragão questionou a escolha (mesmo por sorteio) do Ministro Gilmar Mendes. Também
questionou a seleção de Mendes para relatar as contas da direção nacional do
PT.
Como se
sabe, na apreciação pelo TSE da Rede Sustentabilidade, o Vice-procurador geral
Eugenio Aragão foi contra. O único voto favorável foi o do Ministro Gilmar
Mendes.
É um
fenômeno interessante e decerto deva ser avaliado de forma positiva, a postura
mais republicana e autônoma que o Ministro Dias Toffoli vem demonstrando na sua presente gestão como presidente do
TSE.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
Nenhum comentário:
Postar um comentário