terça-feira, 1 de abril de 2014

Direita, volver !

                                  

Dilma, a ex-revolucionária



            Dentro da linha do temor reverencial, de que nos falou Maria Celina D’Araujo, Dilma Rousseff pronunciou ontem um bem-comportado discurso de ocasião, a propósito dos cinquenta anos do golpe militar de 31 de março de 1964.

            Seguindo ao pé da letra a orientação de seu líder e criador, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma continuou a seguir a linha do estamento político brasileiro – ao contrário da posição afirmativa da Argentina, em defesa do poder civil. Com efeito, após a observação de que respeita os que ‘morreram e desapareceram’ na luta contra o regime militar, cuidou de assinalar a sua aprovação aos “pactos políticos” que nos anos derradeiros da chamada ‘Revolução’, foram elaborados e aprovados para assegurar a democratização do país.

             Alinhada à extrema cautela de Lula da Silva – que, como foi recentemente lembrado, chegou a demitir um ministro civil da Defesa, e manter um militar como Comandante do Exército, pela simples causa de que, na prática, aquele recorrera à prerrogativa da supremacia do Poder Civil, o que é anátema para a elite civil a que tratou de associar-se Lula da Silva - Dilma não hesita em pôr-se na contramão do pensamento da Nação, como o demonstra a última sondagem do Datafolha: 46% dos brasileiros são a favor de rever a Anistia, e 37% são contra.

              Quando os políticos não são como Epitácio Pessoa e, por conseguinte, não acreditam na primazia do poder civil eleito sobre a corporação militar, muitas coisas ficam mais fáceis de entender em Pindorama.

 

Hollande apela para a direita socialista

 
               Segundo analistas políticos, François Hollande não tinha opção senão chamar a direita socialista. Nesse sentido, ao um tanto apagado Jean-Marc Ayrault ele substitui o Ministro do Interior, Manuel Valls, que para alguns seria uma espécie de híbrido (daí a alcunha de Tony Blair francês). Antes do final quinquênio, se realizarão as eleições para o Parlamento. Daí, a importância sentida por Hollande de melhorar os índices de aprovação com uma returbinada no Gabinete. Com efeito, se François Hollande continuar patinando em baixíssimos índices, será quase certa dentro do calendário político a eleição de uma maioria de direita.

                 Para evitar o inconveniente da chamada coabitação – que Jacques Chirac, ainda no seu primeiro mandato, teve de engolir, com a partilha do poder com Lionel Jospin e os socialistas – a mudança de fachada do novo gabinete socialista, sob Manuel Valls, visaria a reverter a baixa popularidade de Hollande.

                 O descontentamento grassava no eleitorado francês e o resultado nas eleições municipais, é o reflexo dessa tendência.  Semelha difícil antecipar se essa mexida no gabinete, com uma nova composição atenderá aos reclamos populares.  Nesse sentido, Hollande prometeu aos franceses um ‘governo de combate’: “Ouvi sua mensagem, ela é clara. Poucas mudanças e excesso de lentidão. Poucos empregos e muito desemprego.  Pouca justiça social e impostos demais. É  tempo hoje de abrir uma nova etapa. E confiei a Manuel Valls a missão de conduzir o governo da França.  Será uma equipe compacta, coerente e unida.”

                Assinale-se que o discreto Hollande corre um risco ao convidar para a direção do barco francês alguém que tem ambições presidenciais – e com algum potencial para disputar o Palais de l’Elysée (residência e sede do Presidente da República), Manuel Valls, de 51 anos, nasceu na Espanha e naturalizou-se francês em 1982. No Interior – que é um ministério ‘trampolim’ (V. Sarkozy) assumiu posições e atitudes enérgicas, com maior aceitação na UMP do que no próprio Partido Socialista. É uma aposta ousada de François Hollande. Mas na sua situação, continuar com Ayrault seria um suicídio político.

 

(Fontes: Folha de S. Paulo, O  Globo)

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