Dilma, a ex-revolucionária
Dentro da
linha do temor reverencial, de que nos falou Maria Celina D’Araujo, Dilma Rousseff pronunciou ontem
um bem-comportado discurso de ocasião, a propósito dos cinquenta anos do golpe
militar de 31 de março de 1964.
Seguindo
ao pé da letra a orientação de seu líder e criador, Luiz Inácio Lula da Silva,
Dilma continuou a seguir a linha do estamento político brasileiro – ao
contrário da posição afirmativa da Argentina, em defesa do poder civil. Com
efeito, após a observação de que respeita os que ‘morreram e desapareceram’ na
luta contra o regime militar, cuidou de assinalar a sua aprovação aos “pactos
políticos” que nos anos derradeiros da chamada ‘Revolução’, foram elaborados e
aprovados para assegurar a democratização do país.
Alinhada
à extrema cautela de Lula da Silva – que, como foi recentemente lembrado,
chegou a demitir um ministro civil da Defesa, e manter um militar como Comandante
do Exército, pela simples causa de que, na prática, aquele recorrera à
prerrogativa da supremacia do Poder Civil, o que é anátema para a elite civil a
que tratou de associar-se Lula da Silva - Dilma não hesita em pôr-se na
contramão do pensamento da Nação, como o demonstra a última sondagem do Datafolha: 46% dos brasileiros são a
favor de rever a Anistia, e 37% são contra.
Quando
os políticos não são como Epitácio Pessoa e, por conseguinte,
não acreditam na primazia do poder civil eleito sobre a corporação militar,
muitas coisas ficam mais fáceis de entender em Pindorama.
Hollande apela para a direita socialista
Para
evitar o inconveniente da chamada coabitação
– que Jacques Chirac, ainda no seu
primeiro mandato, teve de engolir, com a partilha do poder com Lionel Jospin e os socialistas – a
mudança de fachada do novo gabinete socialista, sob Manuel Valls, visaria a reverter a baixa popularidade de Hollande.
O
descontentamento grassava no eleitorado francês e o resultado nas eleições
municipais, é o reflexo dessa tendência.
Semelha difícil antecipar se essa mexida no gabinete, com uma nova
composição atenderá aos reclamos populares.
Nesse sentido, Hollande prometeu aos franceses um ‘governo de combate’: “Ouvi
sua mensagem, ela é clara. Poucas mudanças e excesso de lentidão. Poucos
empregos e muito desemprego. Pouca
justiça social e impostos demais. É
tempo hoje de abrir uma nova etapa. E confiei a Manuel Valls a missão de
conduzir o governo da França. Será uma
equipe compacta, coerente e unida.”
Assinale-se que o discreto Hollande corre um risco ao convidar para a
direção do barco francês alguém que tem ambições presidenciais – e com algum
potencial para disputar o Palais de l’Elysée
(residência e sede do Presidente da República), Manuel Valls, de 51 anos,
nasceu na Espanha e naturalizou-se francês em 1982. No Interior – que é um
ministério ‘trampolim’ (V. Sarkozy)
assumiu posições e atitudes enérgicas, com maior aceitação na UMP do que no próprio Partido
Socialista. É uma aposta ousada de
François Hollande. Mas na sua situação, continuar com Ayrault seria um suicídio
político.
(Fontes: Folha de S.
Paulo, O Globo)
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