Os meus leitores saberão que muito
aprecio a coluna semanal de Ricardo Noblat em O Globo. Mas talvez terão
igualmente presente que procuro sempre pautar-me pelo velho ditame Amigo de Platão, porém mais amigo da verdade.
Em sua crônica
de hoje, “O Adversário de Dilma”, Noblat aponta Lula como o principal rival da
presidente na próxima eleição. Pode ser verdade.Lula pintara Dilma como a
grande administradora.
Apresentou-a
como a gerente ideal, que contribuiu para o êxito de seu governo. Diante de seu
desempenho e o desencanto do eleitorado – como cita Noblat, em cerca de ano
cresceu de 34% para 63% o percentual dos que dizem que Dilma faz pelo país
menos do que eles esperavam – é natural que se preocupe com um eventual malogro,
que poria abaixo toda uma construção de poder que está aí para quem quiser ver.
Como toda criatura, Dilma tende a afastar-se do criador. Se pleiteou o
cargo, uma vez eleita o quadro muda. Dentro da maioria governamental, tampouco
surpreende que surjam dois campos, uns favoráveis à criatura, outros ao
criador.
O PT
atravessa uma crise e não adianta empurrá-la só para o colo de Dilma. Os
desacertos na Petrobrás remontam à administração de Lula, embora, como se vê no
escândalo da refinaria de Pasadena, muita vez a responsabilidade é partilhada.
Aliás, quando se fala de crise, a
singularidade deve ser evitada. O poder afetou deveras o Partido dos
Trabalhadores. Sua capacidade de corromper é um triste lugar comum – e como diria
Lord Acton o poder absoluto age de forma ainda mais abrangente.
Por isso, se sentir que Dilma não tem
mais condições de garantir tudo o que aí
está, Nosso Guia hesitará porventura em responder ao clamor que só ele
distingue claramente vindo das bases e dos companheiros, e, em sacrifício
supremo, submeter-se ao combate político e ao temível juízo das urnas ? Se for para salvar o PT de algum trânsfuga
que venha pôr toda essa faina – e toda essa rede de influência e poder – em perigo,
será lícito duvidar que não trepidará por um átimo em submeter a tal chamamento,
dando mais uma vez prova de seu desprendimento ?
(Fonte: ‘O adversário de Dilma’,
de Ricardo Noblat (O Globo) )
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