No que parece movimento coordenado
pelo Kremlin, irromperam distúrbios
de manifestantes pró-Rússia em diversas cidades da Ucrânia oriental, em que a
população é de fala russa. Os motins
ocorreram em Donetsk – em que têm
maior intensidade -, Kharkiv, Luhansk e
Mariupol. Há óbvia similitude com o
que aconteceu na Crimeia, com a
relevante diferença que as ditas ‘espontâneas’ revoltas não colheram maior aprovação
da população.
Há um claro
intento subversivo – e nunca o
emprego dessa palavra, em geral descritiva da particular ótica de como regimes
ditatoriais encaram intentos revolucionários, no caso em tela tem o precípuo desígnio
de subverter o estado ucraniano.
Tampouco não subsistem maiores dúvidas
sobre quem esteja puxando os cordões da citada revolta.
Por um lado,
Sergei Lavrov, o ministro dos negócios estrangeiros, vem enfatizando nas suas
declarações a necessidade da federalização na Ucrânia. Para um
país em que as duas principais regiões apresentam a marcante diferença de que
uma é de fala ucraniana, e a outra de fala russa, favorecer o regime federativo
em situação como a presente – em que Moscou desestabiliza abertamente a região
oriental, em que o idioma russo predomina – seria aplicar um dissolvente de
ação rápida e intensa para acelerar o processo.
Em Donetsk, a ‘revolta’
teve a participação de várias centenas de demonstrantes, e culminou com a
tomada da sede da administração regional (note-se que a mesma tática fora
empregada na Crimeia).
O interesse do
governo russo é sublinhado pela grande cobertura dada pela mídia às ações dos revoltosos. Igualmente se
suspeita que tais iniciativas estejam
sendo manipuladas por instâncias russas, conforme de resto ao figurino
observado na Crimeia. Em Donetsk o governo central de Kiev logrou retomar as
instalações do departamento de segurança, mas até agora os secessionistas
mantêm sob controle a sede da administração regional (que está cercada de arame
farpado).
Em um script que é deveras similar ao da
Crimeia, os manifestantes nessas áreas proclamam a sua independência de Kiev, e
pedem em seguida ao Presidente Putin que mande tropas para garantir-lhes a paz.
Isso parece retirado da cartilha anterior que levou à anexação da Crimeia.
O Departamento
de Estado americano já comunicou a Moscou que se confirmada mais uma
intervenção na Ucrânia, tal acarretaria novas sanções, possivelmente mais
pesadas do que as anteriores. Não há negar que o Kremlin se vale de um momento
especialmente delicado na Ucrânia, em que o seu governo é interino, e a constituição
de um governo permanente – que teria melhores condições para enfrentar essa
situação - só ocorreria após as eleições
presidenciais marcadas para maio p.f.
Nesse quadro,
a declaração do Primeiro Ministro interino Arseniy Yatseniuk merece especial
atenção: “o script (da ação desestabilizante ora em desenvolvimento) é o desmembramento
e a destruição da Ucrânia e sua transformação em território escravo sob os
ditames russos”.
A ex-Primeiro
Ministro Yulia Timoshenko – que é a principal
dirigente do Partido Pátria, a que se filia Yatseniuk – viajou para a área de
Donetsk. Na sua observação, as ações dos demonstrantes, e respectivas opiniões,
não tem obtido maior repercussão junto à população daquela região. É de
frisar-se que a Timoshenko favorece a autonomia
para as regiões na Ucrânia, mas não a federalização.
Presume-se que a
viagem da ex-Primeiro Ministro – e candidata a presidente no pleito de maio –
se realize a título particular, embora tal caráter deva ser matizado, por ser
muito conhecida e pela circunstância de que muito provavelmente esse
deslocamento deva ter algum apoio do governo central.
(Fonte: The New York Times)
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