terça-feira, 8 de abril de 2014

A Desestabilização da Ucrânia

                                

        No que parece movimento coordenado pelo Kremlin, irromperam distúrbios de manifestantes pró-Rússia em diversas cidades da Ucrânia oriental, em que a população é de fala russa.  Os motins ocorreram em Donetsk – em que têm maior intensidade -, Kharkiv, Luhansk e Mariupol.  Há óbvia similitude com o que aconteceu na Crimeia, com a relevante diferença que as ditas ‘espontâneas’ revoltas não colheram maior aprovação da população.

       Há um claro intento subversivo – e nunca o emprego dessa palavra, em geral descritiva da particular ótica de como regimes ditatoriais encaram intentos revolucionários, no caso em tela tem o precípuo desígnio  de subverter o estado ucraniano. Tampouco não subsistem  maiores dúvidas sobre quem esteja puxando os cordões da citada revolta.

        Por um lado, Sergei Lavrov, o ministro dos negócios estrangeiros, vem enfatizando nas suas declarações a necessidade da federalização na Ucrânia. Para um país em que as duas principais regiões apresentam a marcante diferença de que uma é de fala ucraniana, e a outra de fala russa, favorecer o regime federativo em situação como a presente – em que Moscou desestabiliza abertamente a região oriental, em que o idioma russo predomina – seria aplicar um dissolvente de ação rápida e intensa para acelerar o processo.  

        Em Donetsk, a ‘revolta’ teve a participação de várias centenas de demonstrantes, e culminou com a tomada da sede da administração regional (note-se que a mesma tática fora empregada na Crimeia).

       O interesse do governo russo é sublinhado pela grande cobertura dada pela mídia  às ações dos revoltosos. Igualmente se suspeita  que tais iniciativas estejam sendo manipuladas por instâncias russas, conforme de resto ao figurino observado na Crimeia. Em Donetsk o governo central de Kiev logrou retomar as instalações do departamento de segurança, mas até agora os secessionistas mantêm sob controle a sede da administração regional (que está cercada de arame farpado).

       Em um script que é deveras similar ao da Crimeia, os manifestantes nessas áreas proclamam a sua independência de Kiev, e pedem em seguida ao Presidente Putin que mande tropas para garantir-lhes a paz. Isso parece retirado da cartilha anterior que levou à anexação da Crimeia.

       O Departamento de Estado americano já comunicou a Moscou que se confirmada mais uma intervenção na Ucrânia, tal acarretaria novas sanções, possivelmente mais pesadas do que as anteriores. Não há negar que o Kremlin se vale de um momento especialmente delicado na Ucrânia, em que o seu governo é interino, e a constituição de um governo permanente – que teria melhores condições para enfrentar essa situação -  só ocorreria após as eleições presidenciais marcadas para  maio p.f.

        Nesse quadro, a declaração do Primeiro Ministro interino Arseniy Yatseniuk merece especial atenção:  o script (da ação desestabilizante ora em desenvolvimento) é o desmembramento e a destruição da Ucrânia e sua transformação em território escravo sob os ditames russos”.

        A ex-Primeiro Ministro Yulia Timoshenko – que é a principal dirigente do Partido Pátria, a que se filia Yatseniuk – viajou para a área de Donetsk. Na sua observação, as ações dos demonstrantes, e respectivas opiniões, não tem obtido maior repercussão junto à população daquela região. É de frisar-se que a Timoshenko favorece a autonomia para as regiões na Ucrânia, mas não a federalização.

      Presume-se que a viagem da ex-Primeiro Ministro – e candidata a presidente no pleito de maio – se realize a título particular, embora tal caráter deva ser matizado, por ser muito conhecida e pela circunstância de que muito provavelmente esse deslocamento deva ter algum apoio do governo central.

 

(Fonte: The New York Times)           

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