quinta-feira, 3 de abril de 2014

Da Visita da Deputada Corina


                            

         Em sua vinda ao Brasil, a deputada Corina Machado comparou o governo Maduro à ditadura brasileira (regime militar) e pediu a renúncia do Presidente Nicolás Maduro como saída para a atual crise.
        Como a atitude do regime Maduro é conhecida, com a sua opção por radicalizar e reprimir, o espaço para o diálogo se tem mostrado por enquanto inacessível para a oposição.

        A deputada Corina faz a respeito um raciocínio: o regime chavista persegue a todos que pensam diferente, não importa se dirigente estudantil ou político, sindicalista ou jornalista. Exemplo disso é o líder oposicionista Leopoldo López (preso em fevereiro) e de dois prefeitos igualmente presos por se negarem a reprimir atos (manifestações, passeatas). O governo Maduro dispara contra estudantes, tortura, censura. Um regime desses se chama ditadura.
       A deputada Corina propugna o direito de mudança de regime no marco da Constituição (referendo revogatório, emenda constitucional, assembleia nacional constituinte, exigência de renúncia).

       Dada a situação política, a saída mais rápida seria a renúncia. Para tanto, Corina e a oposição venezuelana preconizam criar condições políticas – através de grande mobilização coletiva, pacífica e organizada na rua – para viabilizar a exigência da renúncia pela sociedade.

       Maduro partiu para a radicalização. A ele não interessa o diálogo com essa oposição. A violência para o chavismo – como para todas as ditaduras – é uma falsa solução. Corina, a esse respeito, rebate o argumento de que a oposição não consegue reunir multidões nos bairros pobres de Caracas. As zonas populares estão sob controle político e pessoal pelos ‘coletivos do terror’ (grupos paramilitares).  No bairro 23 de janeiro – que é tradicional reduto chavista – aconteceu nas últimas semanas uma contundente forma de protesto: o panelaço.  Solução dada pelos coletivos:  dispararam contra as janelas de onde vinham os ruídos. Além disso, marcaram com tinta as portas das casas onde suspeitam haja manifestantes anti-chavistas.

        A respeito da participação no processo de organizações interamericanas ou sul-americanas, forçoso é reconhecer que não saem bem na fotografia. Como assinala Corina, a Unasul se colocou ao lado do regime chavista. Isso não gera confiança no povo venezuelano. Apesar de o que Brasil tenha co-assinado nota do Mercosul que criminaliza as manifestações, Corina acredita ainda que o governo Dilma Rousseff mude de posição.

        Dada a hostilidade do PT à visita da corajosa deputada Corina (evidenciada nas vaias no Congresso, e em movimentos de entidades ligadas ao PT como o MST e o MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores), tal possibilidade se afigura bastante remota, pela cegueira ideológica.

       Ao ensejo do aniversário dos cinquenta anos do golpe militar de 31 de março de 1964, a crença em uma posição de Estado da diplomacia brasileira coerente e sustentada se vê, desmentida pela postura partidista e ideológico-oportunista do PT.  O que os militares  não conseguiram no que tange à nossa política externa – que continuou a pautar-se pelos princípios da diplomacia de estado – acima das ideologias e na defesa do interesse do país, por enquanto nesse quarto e último ano de mandato de Dilma Rousseff, tais princípios basilares e institucionais correm o risco de virar quadros na parede.

 

(Fonte: Folha de S. Paulo )

Nenhum comentário: