A recusa pelo TSE da Rede Sustentabilidade
se deveu a dois fatores básicos: o atraso na documentação burocrática pela Rede (enquanto siglas sem qualquer
carisma, como o Pros, atendiam à
letra das solicitações) e a operação nos cartórios do ABC recusando milhares de fichas de eleitores da futura Rede.
Com a honrosa exceção
do Ministro
Gilmar Mendes, o colégio do TSE
preferiu ater-se à letra da lei, optando por negar validade ao requerimento de
licença para o que seria o partido de Marina.
Afastou-se
dessarte a possibilidade de que Marina Silva obtivesse legenda própria. Este
percalço favorece notadamente à candidata do PT, eis que Marina continua – em hipotéticas
formulações em que concorreria como cabeça de chave – a colocar
sistematicamente Dilma em segundo turno.
Não há negar que,
com a erosão sofrida nas suas preferências, outros candidatos poderiam
igualmente levar a presidenta ao segundo round. Sem embargo, tanto Aécio quanto Eduardo não
ganharam até agora a propulsão indispensável para levar Dilma ao mano a mano
final.
Essa distinção só
tem cabido a Marina. Vê-se, assim, quão
atilada foi a criação de condições para que Marina não dispusesse de partido próprio. Pela perfeição do golpe, ele traz consigo a sua própria assinatura. Contudo
– e nisto está outra marca da destreza de seu fautor – não há certeza objetiva
e à prova de contestação jurídica desse magistral lance político (se
abstrairmos o aspecto ético, mas quem se importa com isso em país onde até um
jogador de futebol proclama que ‘roubado
é mais gostoso’ ) ?
Dado assim o vício
redibitório, se parte para a emenda. Colocá-la de vice na chapa de um candidato
novo, promissor, com boa ficha administrativa, mas ainda muito verde (sem
trocadilhos, p.f.) para enfrentar a
divisão dos pesos pesados, seria a estratégia ersatz recomendável. Como
se sabe, durante a última grande guerra, por sua falta de acesso às matérias
primas, a Alemanha ficou despojada de produtos essenciais. O jeito para o engenho germânico foi criar
produtos artificiais substitutos (daí
o nome ersatz) para que o súdito do Reich enfrentasse a falta do produto.
Mas aí é que mora
o problema. Apesar de toda a habilidade, o produto em questão seria sempre uma
versão inferior do original.
Na foto, Marina e
Campos aparecem sorridentes, eufóricos mesmo. A mesma reação do assessor de
Campos. Entrementes, o de Marina, está sério. Será que desconfia da eventual capacidade
de Marina de transferir seu cabedal de sufrágios para o novel candidato?
O Vice
sempre será encarado como acompanhante discreto do candidato cabeça de chapa.
Como se logrará convencer o eleitor de que sufragando Eduardo Campos, ele está,
na realidade, ou votando em Marina, ou o faz na convicção de que a voz de
Marina será relevante e até prevalente no novo governo?
Tais transfusões
se afiguram complicadas e pouco verossímeis no mundo real. Como um governador
conhecido pela forte personalidade passará a levar em conta e até seguir a
palavra de Marina?
Assim, malgrado
as dificuldades enfrentadas por Dilma Rousseff, e sua incrível sangria de popularidade (que ela deve,
basicamente, a seus erros e foram muitos), ainda continua difícil prognosticar
vitória de candidato de oposição.
Aécio entrou na
disputa guindado pela facúndia e a boa administração em Minas. Fala bem o neto
de Tancredo. Mas cometeu alguns erros antes de apoderar-se da chapa do PSDB,
e quiçá o mais pesado foi ter dado a impressão para gente do ramo de que, seja
por omissão, seja por comissão, não terá contribuído, em passados pleitos, para
viabilizar a vitória do companheiro de legenda José Serra. Em assim procedendo,
contrariava as lições de seu avô. As acusações, de resto, podem ser infundadas
e até injustas. Mas a impressão, de algum modo, ficou.
Em resumo,
poderá uma sombra constranger Dilma Rousseff a passar, por segunda vez, pelas
forcas caudinas do segundo turno? Pela
sua atuação desastrosa no primeiro mandato, a resposta é sim. Se é
para vencer ou não, isso dependerá da capacidade do candidato em convencer o
povo brasileiro que ele tem força e programa próprios.
(Fonte subsidiária: O Globo)
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