sábado, 5 de abril de 2014

Pílulas Agridoces

                                   

Atenção ao perigo das calçadas!



       Caminhar pelas calçadas de Ipanema pode ser passatempo perigoso, se desejares fazer súbita inflexão no teu  percurso. Pois será possível que um ciclista venha a toda pela tua retaguarda, à esquerda ou à direita. Como esses veículos se apossaram dos passeios – até se entende: é muito mais seguro para eles – corres o risco de ser atropelado por alguma bicicleta que se assenhoreou do espaço pedonal por negligente cortesia do Detran – subordinado ao Senhor Prefeito – que chega ao ponto de avisar no seu manual que os ciclistas estão obrigados a obedecer todas as leis do trânsito...

 
       Divirto-me nas minhas caminhadas por Ipanema na contemplação da bem-comportada (há exceções) grei dos cachorros. Se bem que se alastra a moda dos cães sem correia – que estariam treinados a seguir os donos – por enquanto, as coleiras são prevalentes. Se bem que Sartre tenha escrito que os homens amam os animais contra os seus semelhantes, tenho minhas dúvidas. É comovente verificar a parecença entre a cara (do humano) e o focinho do bicho. Duvido que seja só o acaso que para tanto colabore. Quem gosta de cachorro, há de procurar aqueles mais à sua feição. E procurando, procurando (além de privar do mesmo abrigo), pode surgir uma semelhança inesperada.

 

       O que foi feito das grandes e frondosas árvores da Praça Nossa Senhora de Paz ? Para quem caminha pelo calçada da Pirajá, o enorme tapume que recobre as grades da praça impossibilitam a visão de qualquer árvore, com exceção de  minguados galhos. A impressão do transeunte será de que as ditas foram arrancadas, por conta dos trabalhos da gigantesca garagem que nos subterrâneos da estação Sua Excelência pretende construir.  Dizem alguns que estão preservadas em lugar seguro e que oportunamente voltarão. Esperemos. Plantadas há setenta anos passados, formavam magnífico conjunto. Muitos abaixo-assinados foram firmados, mas o que será feito delas é um mistério.

 
         A Visconde de Pirajá, conforme anunciada, está sendo invadida pela selva de tapumes que já infestara a avenida Ataulfo de Paiva, a correspondente artéria do Leblon. É o avanço do progresso. Em tanto revirar de calçada e de pisos, será que o Senhor Eduardo Paes traria também de volta as placas, de que  ensurdece o silencio da autoridade ? Será que  Ipanema não merece, em meio a tantas obras, o singelo testemunho agora em concreto à prova de furto, sobre tantos locais e pessoas que notabilizaram a hoje memória perdida de Ipanema              

 

         Paz para José Wilker, o grande ator que, na ponta dos pés, e sob o véu da noite nos deixou. Os grandes artistas, na verdade, não nos abandonam, pois os seus milhões de assistentes, no teatro da existência, guardam-lhe a imagem, como no caso das interpretações magistrais de Wilker, a exemplo do Dr. Mundinho da novela Gabriela, Cravo e Canela.

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