Fraqueza ocidental estimula Rússia
Foi necessário
que separatistas do leste ucraniano sequestrassem treze observadores da Organização
para a Segurança e a Cooperação na Europa - OSCE para que o G-7 afinal
reagisse. Segundo a Ministra da Defesa da Alemanha, Ursula von der Leyen, os
treze monitores incluem três militares alemães, e um tradutor do alemão.
Até o momento, fiados nas tíbias reações de
Bruxelas e dos países europeus, os rebeldes do Leste – que são criaturas com
existência fundada no apoio logístico e nas diretivas do projeto russo de
apoderar-se de províncias orientais na Ucrânia – ousaram capturar os monitores,
a despeito do propósito pacífico de sua missão.
O sequestro desses observadores – que
muito provavelmente teve o ‘placet’ da Rússia – mostra até que ponto os
capangas separatistas (e até a reação de Bruxelas) e seus mandantes russos se julgam em
condições de realizar.
Sob a
ameaça de imposição de novas sanções – para variar, com efeitos mais danosos
sobre a economia russa – Moscou prometeu que ‘envidará esforços’ no sentido de
liberar os observadores.
A resposta
do Ocidente – a começar pela de Obama – à anexação ilegal da Ucrânia se pautou
pela moderação e, mesmo, pela tibieza. Não causa assombro, por conseguinte, que
Vladimir Putin haja passado à fase dois de seu projeto imperial. Com efeito,
a concentração de quarenta mil homens na fronteira da região oriental é
na visão do imperialista Putin a sequência natural do corrente processo de
acosso a um país soberano.
Uma vez
mutilado da península da Criméia, como um rebanho de gado de corte entra em
outro corredor polonês, sob as ameaças e as invasões de sedes de administração
regional, tudo debaixo da coordenação de agentes russos infiltrados, além das
tropas de assalto (sturm truppen)[1]
com os já conhecidos uniformes descaracterizados que se apoderaram das débeis
bases armadas da república ucraniana naquela península. Como se voltássemos ao
tempo da barbárie, o saqueio também foi a regra nesta fase ‘B’ da conquista da
Ucrânia.
Como é
notório, Putin considera o Presidente estadunidense, Barack Obama, um fraco.
Esse juízo se formou notadamente pelas hesitações de Obama no que tange à
Bashar al-Assad. Uma das regras cardeais nos processos de confrontação é que
ameaças não devem ser feitas em vão. Nada desmoraliza mais uma autoridade do
que fazer ameaça que não tenha a
intenção de levar a cabo, se porventura desrespeitada. Ao vacilar no capítulo –
a famosa linha vermelha que não deveria ser cruzada no emprego de armas
químicas – o presidente americano teve de valer-se dos bons ofícios de Putin.
Dever favores a um tal personagem não é postura recomendável.
Entende-se, por conseguinte, porque
o fanfarrão (bully) do Kremlin
não tenha muito respeito pelo seu homólogo americano. É matéria discutível que gospodin Vladimir Putin possa
ser induzido a mudar de curso por força de ameaça do presidente americano. No episódio da Ossétia do Sul, Putin escarneceu do antecessor George W. Bush, que teve ao final de engolir
o seu tratamento da Georgia.
A
Ucrânia está em outra ordem de grandeza. Um seu eventual despedaçamento seria
acontecimento gravíssimo, e ficaria ainda mais grave (e com mais sombrias
consequências ulteriores) se o autocrata Putin aumentasse na marra o território
da Federação Russa com mais uma anexação ilegal (como o seria a invasão – que
está nos seus pródromos – da larga faixa oriental ucraniana, de fala russa na
sua maioria, mas não totalidade).
Tanto
Moscou, quanto Washington dispõem de arsenal com armas que são, em princípio,
inutilizáveis, pelas consequências que acarretariam. Daí o processo de
desarmamento mútuo a que, no passado, se empenharam. Pelas implicações do uso
dessas armas, a redução dos arsenais e a implementação de um desarmamento tão
abrangente quanto possível não se realiza pelos belos olhos do adversário, mas
em estrita obediência ao próprio interesse racional.
Isto
posto, as eventuais represálias por ações julgadas inaceitáveis entram na
esfera de operações militares convencionais e, com maior probabilidade, no
campo da aplicação de sanções financeiras e econômicas.
A superpotência dispõe de poder
econômico-financeiro muito superior ao de Moscou. Em termos esportivos, não
estariam na mesma divisão.
Se Putin
continuar a querer aplicar a sua ideologia eurasiana à vizinha Ucrânia – o que
envolveria gravosas perdas demográficas e de recursos para Kiev – soará a hora
de fazê-lo recuar do projeto de conquista. Seria o momento apropriado para
aplicar as sanções sobre a economia russa – em especial, a matriz energética –
para que, se não deseja sofrer as consequências econômico-financeiras da
projetada volta ao tempo dos mongóis, Vladimir Putin tivesse um estalo de
Vieira e acedesse às propostas de restabelecer o statu quo anterior.
Não é
admissível – nem lógico – que o mundo assista a um poder regional se arrogar a
invasão e a conquista de país vizinho, somente pela mera razão de que se dá na
telha de Vladimir Putin.
Inflação Venezuelana
O
desabastecimento na Venezuela prevalece desde os tempos de Hugo Chávez Frias,
mas tanto a carestia, quanto a falta de gêneros e artigos de primeira
necessidade só tem aumentado. Para
combater esse inimigo invisível, o caminhoneiro Maduro apelou inclusive para os fusis, mas se ignora
se os dedicados agentes e milicianos chavistas tiveram algum êxito nesta
campanha.
Para que
se tenha pálida idéia do desabastecimento, nas prateleiras vazias dos
supermercados falta, por exemplo, leite, café e açúcar, e de outra parte,
sabonetes, papel higiênico e desodorantes.
À cata de bichos papões e de
secretas campanhas contra a economia nacional, os órgãos chavistas – e a
homogeneização nesse campo reflete inegável êxito, pois o chavismo inclui a
Justiça e a Procuradoria Estatal – afirmam (por meio do BCV) que as ditas
manifestações (da oposição) constituem “uma nova onda concreta de guerra
econômica” contra o governo do presidente Nicolás Maduro.
Forçoso
seria reconhecer o caráter inovador dessas novas influências sobre a Ciência
Econômica (a ciência sombria – dismal
Science) de Schumpeter e tantos economistas de nomeada, que agora – como a
Europa tantas vezes fez em relação ao Brasil – deverão curvar-se (possivelmente
nas suas tumbas e através de seus discípulos) e tomaram conhecimento desse novo
e importante fator no campo da teoria econômica...
Em pleno
inferno astral – decorrência da extensa incompreensão popular das boas
intenções da governante Dilma Rousseff – a nossa Presidenta foi de novo vaiada
em Belém do Pará, ao ensejo de um evento de entrega de máquinas a prefeitos.
Já no
início do discurso, a presidenta foi interrompida por manifestantes aos gritos
de “não vai ter Copa”, e queremos mais dinheiro para saúde e educação.”
Os
estádios padrão-FIFA – que a respeito deles faz todo tipo de exigência
(inclusive com ameaças de ponta-pés no traseiro, oportunamente apresentadas
pelo cartola Jérome Valcke), mas, a par de colher polpudos dólares (também
aceitam reais) os subordinados do presidente Joseph Blatter, sucessor de
Havelange, só contribuem para aumentar o preço a ser pago pelo Brasil, por causa
das inúmeras benfeitorias exigidas por esses zelosas cartolas.
Outro dia,
em um evento nacional, o senhor Gilberto Carvalho discursou emoldurado por uma
faixa contrária à Copa do Mundo no Brasil.
É
realmente um momento difícil para a Presidenta – e seus diligentes assessores –
pela incompreensão do povo brasileiro com as pirâmides, desculpe os estádios da
Copa, espalhados por todo o Brasil por determinação de Lula da Silva.
Ela
desafortunadamente não tem como Catarina a Grande a acompanhá-la na sua tournée
por esses Brasis com estádios magníficos o Príncipe Potemkin. Ao contrário das
chamadas vilas Potemkin – encenações para a soberana de uma ficção – os
estádios existem de verdade, consumiram muitas verbas públicas, embora seja
discutível a sua serventia se comparados com outras obras públicas...
A cerimônia de canonização de
dois Papas foi uma das maiores em público dos tempos modernos. Trezentas mil
pessoas na Praça São Pedro e até na via
della Conciliazione, a grande
avenida que conecta com o Lungotevere
o Estado Vaticano. Estima-se que quinhentas mil pessoas acompanharam nas ruas
de Roma, a Cidade Eterna, o grande evento.
Dada a
sua relevância e a diversa mensagem transmitida pelos dois Pontífices, seria de
estranhar que não houvesse comentários sobre o significado da elevação dos dois
novos santos da Igreja.
Não é
segredo que pela sua postura e respectiva posição, Papa Francisco está muito mais
próximo de Papa Roncalli, o Papa Bom,
que surpreendeu ao mundo com a sua eleição – a primeira interpretação é que
seria um Pontifice de transição, dada a idade avançada. Nascido na vila de Sotto il Monte, em casebre de
camponeses, na tarda manhã de 25 de novembro de 1881, e elevado à Sé de Pedro a
28 de outubro de 1958, logo faria setenta e sete anos. Para muitos
vaticanistas, o conclave elegera um velhinho que prepararia a Igreja para a
vinda de outro Papa, mais jovem. Após o longo pontificado de Pio XII, e as
celeumas provocadas, a Igreja necessitaria de um intervalo, que a preparasse
para novo e enérgico Sucessor de Pedro.
Todos sabemos que não foi assim. É
interessante como se escreve a História. O desígnio de certas ações pode
escapar por inteiro aos que as urdiram, como os quase cinco anos do pontificado
joanino o demonstraram. Escolheram um ancião, um Papa de transição – que em
português se traduziria melhor por interino
– e não é que este senhor, logo depois de canonicamente aceitar o encargo,
perguntado que nome escolheria, responderia
João.
Nesse instante, soou a
primeira campaínha: João, o apóstolo das gentes ? Desde a Idade
Média, 7 de agosto de 1316, princípios do
século XIV portanto, que esse nome não fora assumido por nenhum pontífice.
Esse primeiro toque terá inquietado algum prelado conservador, mas em meio ao
entusiasmo geral com o bom e simpático velhinho, tal indício de comprometimento
maior do que o de um mero Papa de transizione passaria desapercebido.
Em
breve, no entanto, João XXIII mostraria ao que veio. Depois dos fatos, é fácil
um desígnio. Como o atual, pela sua humildade e imensa simpatia, o novo
Pontífice, ao invés de uma hierática sombra, começou a surpreender o mundo.
Primeiro, a Cidade Eterna, que é
compreensivelmente cética diante dos Santos Pontífices. No entanto, a sua imprevista
visita à Prisão de Rebibbia indicaria
que o Bispo de Roma não se considerava prisioneiro dos muros vaticanos, e
estendia a sua mão aos infelizes da Terra.
Não
pretendo aqui esboçar uma biografia do Papa Bom, mas apenas mostrar o porquê de
se haver tornado o maior pontífice do Século XX, em menos de um lustro. Já em
janeiro do ano seguinte (1959) reservava uma senhora surpresa para o colégio de
cardeais e a Igreja. Na basílica de São Paulo fuori mura (fora dos muros romanos), perante escassos dezenove
cardeais, anunciaria o Concílio !
Deus
não lhe deu a saúde necessária para levar a termo as sessões do Concílio. Mas
na sua oração introdutória para os bispos reunidos na basílica vaticana, traçou
os grandes objetivos do cometimento, com a abertura da Igreja aos tempos
modernos e a indicação de uma nova época em que as condenações não mais
constituíam a ênfase da Igreja Católica. O Papa formulou esta nova orientação
de forma inequívoca no seu solene discurso de abertura do Concílio: “Sempre a Igreja se opôs aos erros; muita vez os
condenou com a máxima severidade. Sem embargo, agora a Esposa de Cristo prefere
usar o remédio da misericórdia, ao invés daquele da severidade. Ela considera
de vir ao encontro das necessidades de hoje mostrando a validade de sua
doutrina, ao invés de reiterar
condenações.”
Não
é aqui o espaço para uma ulterior relação das grandes realizações do Papa do
Concílio.
Morreria em aura de santidade – uma morte pentecostal, como a definiria
um prelado – a três de junho de 1963.
A
sua grandeza espiritual e imensa bondade se refletiriam na participação mundial e
ecumênica de sua agonia e morte. Não se fala de cerimônias protocolares, em que
o fasto e a pompa por vezes substituem o conteúdo e a eventual relevância.
Os
bispos conciliares haviam pensado proclamar, ao cabo do Concílio Vaticano II, a
santidade de João XXIII. No entanto, não era esta a idéia de seu sucessor, o
intelectual Paulo VI, que desde cedo parecera predestinado à Sé de Pedro (ao
contrário de seu antecessor, a que muitos tinham desmerecido). Papa Montini seria personalidade
torturada pela dúvida, quase um personagem hamletiano. Diante da grandeza de seu
antecessor – de que o secretário, dom Loris Capovilla, foi um ardente difusor e defensor,
com uma série de obras a que movia o desígnio de alcançar a beatificação do
Papa do Concilio - se quedava o silêncio da hierarquia e a falta de qualquer avanço na sua causa.
Sucedeu-lhe o Papa do sorriso, João Paulo I. Não tenho dúvida de que
Papa Luciani beatificaria a Papa Roncalli, mas a estranha brevidade de seu
pontificado (pouco mais de trinta dias), não lhe ensejou o tempo necessário.
Veio em seguida o papa polonês, João Paulo II. Ao contrário das
indecisões de Papa Montini, Papa Wojtyla era movido por certezas. Figura
carismática, não pretendo aqui acrescentar aos numerosos elogios que recebe e
receberá ao ensejo de sua rápida canonização. Não posso, no entanto, silenciar
acerca de sua atitude sobranceira e generosa, ao reconhecer a beatificação de
Papa Roncalli, como o fiz na data de dois de março de 2000, em artigo na
imprensa “Um Santo para os nossos dias”.
Pensei então que a canonização viria naturalmente, mas o meu engano pode ser explicado facilmente pela continuada presença conservadora à testa da Igreja. Aliás, e não é facécia, só o Espírito Santo talvez, possa explicar as eleições de João XXIII e de Papa Francisco. Dada a longa permanência conservadora, e a consequente pletora de criações de cardeais no mesmo sentido, só mesmo essa intervenção do Espírito Santo para ensejar as eleições de João XXIII e, em especial, de Papa Francisco.
Falecendo João Paulo II em 2005, sucedeu-lhe o cardeal alemão Joseph Ratzinger,
que tomou o nome de Bento XVI, e que, como seria de prever, nada fez pela
canonização do Papa do Concílio.
A sua
presença, como Papa-emérito, na canonização dos dois Papas, tem muito a ver com
o seu mentor João Paulo II, e pouco ou nada com João XXIII. Se tivesse
continuado à frente da Igreja, nunca assistiríamos à cerimônia de canonização
do Papa do Concílio, sob os auspícios do respectivo Papado.
No
que tange a João Paulo II, a sua popularidade é grande, e muito meritório o seu
empenho na Igreja, a que sacrificou a própria saúde, precipuamente por causa do
atentado de Ali Agca, um episódio deplorável, e de que não estão ainda plenamente
esclarecidos os motivos que conduziram ao infame intento de magnicídio. A saúde
do Pontífice – que se acreditou restabelecida, tanto que participara de
cerimônia vaticana – sofreria outra séria recaída, que muito contribuiu para
debilitar-lhe a constituição e a resistência física. Mais tarde a doença
de Parkinson’s lhe atingiria, mas,
sempre dando mostra de grande força de vontade, persistiu no respectivo
esforço, com férreo intento que foi muito além da previsível luta contra essa
enfermidade.
Sem
embargo, o seu viés conservador o fez ter em conta personalidades como Escrivá de Balaguer – a quem fez santo –
e movimentos como a Opus Dei, que não
luzem bem nos espelhos da História. Por outro lado, o caráter de seu
pontificado nos trouxe o que o teólogo do Concílio, o grande Karl Rahner, S.J.
denominou como o inverno na Igreja. O clima glacial para a teologia trazido pelo
Papa polonês não ensejaria o florescimento e o consequente avanço da ciência
teológica, ocasionado pela abertura conciliar, tão bem expresso nas lapidares
palavras do ‘Gaudet Mater Ecclesia’, que
encetam o discurso em latim que abre o Concílio Vaticano II, memoravelmente
pronunciado por Papa João XXIII.
Não
será pelo aspecto intelectual, embora haja tido louvável atividade nesse campo,
mas sim pelo incansável empenho, a
grande coragem, e o carisma pessoal, posto a inteiro serviço da Igreja,
assim como, entre outras causas, sobretudo a da amada pátria Polônia, em que teve enorme influência
para o enfraquecimento do regime comunista, de todo alheio ao ethos polonês, e posterior queda.
O seu longo pontificado – um dos mais
alentados da Igreja – iniciado no ano dos três Pontífices (Paulo VI, João Paulo I e, por fim, João
Paulo II) se estenderia de 16 de outubro de 1978 a 2 de abril de 2005.
(Fontes:Annuario Pontificio 1988, Enchiridion
Vaticanum 1, Pope John XXIII, de Peter Hebblethwaite; Folha de S. Paulo, O
Globo)
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