quarta-feira, 2 de abril de 2014

A Ditadura Chavista

                            
 

           Talvez nem mais a Velhinha de Taubaté se animaria a acreditar na democracia de Nicolás Maduro. Sem o preparo, nem o traquejo do modelo antecessor, o presidente venezuelano mete os pés pelas mãos, e apela para uma repressão que se torna sempre mais crua e violenta, à medida que a situação piora.

          A brutalidade no desrespeito a qualquer sopro de espírito democrático – como, v.g., no caso da deputada da oposição Maria Corina Machado – chega ao grotesco. Como é público e notório, essa deputada foi cassada no grito (literalmente) pelo presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello.

           Com a justiça sob inteiro controle da matilha chavista – que em Pindorama será vista com olhos compridos pelos cumpanheros petistas, embora se lhes reconheçam avanços – Cabello, a despeito do nome, se pode permitir toda e qualquer descabelada infração processual que, de antemão tem assegurada, a ratificação de uma autêntica justiça carimbo, que faria inveja às do antigo bloco socialista.

           Veja-se o caso da corajosa deputada, que buscava furar o muro da conivência internacional – da OEA, Unasul e quejandos – por meio de valer-se do banco do Panamá. Para Cabello, se se trata de oposição, não há qualquer necessidade de eventuais arremedos de respeito aos princípios do contraditório, do processo legal, e do respeito à jurisprudência e a norma em vigor.

           A tudo o colérico Diosdado sobrestou, porque a seu critério, um valor mais alto se alevantava. Referia-se à preservação dos privilégios chavistas. Em demonstração que terá comovido às lágrimas, verificou-se que se a economia e as finanças vão mal, se não mais vige o respeito à convivência com a discordância, pode ver-se – e isto há de levar às lágrimas os cumpanheros daqui, que lutam pelo controle social da mídia –a  presteza com que todo o aparelho do Estado – e todo ele, como nos regimes autoritários de boa cepa – trabalha bem azeitado e célere na implementação do direito pela ótica do poder dominante. Dessarte, o Tribunal Supremo de Justiça – e isto na noite de segunda-feira, 31 de março – ao confirmar a cassação do mandato da deputada, colocou, metaforicamente por enquanto, a cabeça de Corina Machado na soleira do presidente da Assembleia, vincando bem firme o princípio de que ali o que vale não é o processo legal burguês, mas o respeito à vontade do sistema, que, pelo visto, não carece de normas legais e de jurisprudência.

            Trocando em miúdos: no arraial chavista, a força nua do poder é o que vale.

             A esse propósito, Corina afirmou que a decisão do Tribunal Supremo de Justiça que confirmou a perda de seu mandato de deputada evidencia que não há separação entre os Poderes do Estado em seu país: “Isso é algo que acontece apenas em ditaduras, porque na realidade se trata de uma confabulação entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos controlados por Nicolás Maduro, que preside um regime ditatorial”.

            Hoje – dois de abril - a deputada falará no Senado do Brasil sobre o governo de Nicolás Maduro e as perseguições que a oposição venezuelana vem enfrentando.

             Nesse sentido, consoante noticia a Folha, a Comissão de Relações Exteriores convocou sessão extraordinária para ouvi-la.   

             É de esperar-se que a Tevê pública do Senado, que viria enfrentando dificuldades de pessoal e técnicas, esteja em condições de transmitir esse importante testemunho.

 

(Fonte:  Folha de S. Paulo)

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