Talvez nem
mais a Velhinha de Taubaté se
animaria a acreditar na democracia de Nicolás
Maduro. Sem o preparo, nem o traquejo do modelo antecessor, o presidente
venezuelano mete os pés pelas mãos, e apela para uma repressão que se torna
sempre mais crua e violenta, à medida que a situação piora.
A
brutalidade no desrespeito a qualquer sopro de espírito democrático – como, v.g., no caso da deputada da oposição Maria
Corina Machado – chega ao grotesco. Como é público e notório, essa
deputada foi cassada no grito (literalmente) pelo presidente da Assembleia
Nacional, Diosdado Cabello.
Com a
justiça sob inteiro controle da matilha chavista – que em Pindorama será vista com olhos compridos pelos cumpanheros petistas, embora se lhes reconheçam avanços – Cabello,
a despeito do nome, se pode permitir toda e qualquer descabelada infração
processual que, de antemão tem assegurada, a ratificação de uma autêntica
justiça carimbo, que faria inveja às do antigo bloco socialista.
Veja-se o
caso da corajosa deputada, que buscava furar o muro da conivência internacional
– da OEA, Unasul e quejandos – por meio de valer-se do banco do Panamá. Para
Cabello, se se trata de oposição, não há qualquer necessidade de eventuais
arremedos de respeito aos princípios do contraditório, do processo legal, e do
respeito à jurisprudência e a norma em vigor.
A tudo o colérico
Diosdado sobrestou, porque a seu critério, um valor mais alto se alevantava.
Referia-se à preservação dos privilégios chavistas. Em demonstração que terá
comovido às lágrimas, verificou-se que se a economia e as finanças vão mal, se
não mais vige o respeito à convivência com a discordância, pode ver-se – e isto
há de levar às lágrimas os cumpanheros daqui, que lutam pelo controle social da
mídia –a presteza com que todo o
aparelho do Estado – e todo ele, como
nos regimes autoritários de boa cepa – trabalha bem azeitado e célere na
implementação do direito pela ótica do poder dominante. Dessarte, o Tribunal Supremo de Justiça – e isto na
noite de segunda-feira, 31 de março – ao confirmar a cassação do mandato da
deputada, colocou, metaforicamente por enquanto, a cabeça de Corina Machado na
soleira do presidente da Assembleia, vincando bem firme o princípio de que ali o que vale não é o processo legal
burguês, mas o respeito à vontade do sistema, que, pelo visto, não carece de
normas legais e de jurisprudência.
Trocando
em miúdos: no arraial chavista, a força nua do poder é o que vale.
A esse
propósito, Corina afirmou que a decisão do Tribunal Supremo de Justiça que
confirmou a perda de seu mandato de deputada evidencia que não há separação entre
os Poderes do Estado em seu país: “Isso
é algo que acontece apenas em ditaduras, porque na realidade se trata de uma
confabulação entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, todos controlados
por Nicolás Maduro, que preside um regime ditatorial”.
Hoje – dois de abril - a deputada falará no
Senado do Brasil sobre o governo de Nicolás Maduro e as perseguições que a
oposição venezuelana vem enfrentando.
Nesse
sentido, consoante noticia a Folha, a
Comissão de Relações Exteriores convocou sessão extraordinária para ouvi-la.
É de
esperar-se que a Tevê pública do Senado, que viria enfrentando dificuldades de
pessoal e técnicas, esteja em condições de transmitir esse importante
testemunho.
(Fonte: Folha de S. Paulo)
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