Vitória da Direita na França
O presidente François Hollande amargou pesada derrota
nas eleições municipais ontem realizadas na França. Desde muito que o governo socialista de
Hollande vem registrando aprovação popular muito baixa, o que agora se reflete
no avanço da direita na França, com o antigo partido gaullista, atualmente UMP (União por um Movimento Popular),
ganhando na maioria das 150 cidades com mais de nove mil habitantes.
Também a Frente Nacional, de extrema direita,
registra avanços importantes. Presidente da FN desde 2011, Marine Le Pen, filha de Jean-Marie Le Pen, deseja tornar o partido
mais palatável para o eleitorado. Passou a negar ser de extrema-direita, e
ambiciona tornar-se movimento patriota de direita (sic), que se contraporia aos
dois partidos tradicionais, o Socialista,
de esquerda moderada, e a conservadora UMP.
No
entender de Marine Le Pen, o bipartidarismo seria coisa do passado. Se o antes
xenófobo Front National conseguir
passar tal imagem para o eleitorado, superaria a barreira do Parlamento –
eleito por voto distrital majoritário e não o proporcional – e formaria bancada
bem superior aos dois deputados que
tem atualmente.
Diante
do desastre político, é muito pouco provável que François Hollande não mude de
Primeiro Ministro. O atual, Jean-Marc
Ayrault passa imagem demasiado burocrática, e sem carisma, não somando à
declinante popularidade do bloco socialista.
Por isso,
especula-se que Hollande chamaria o Ministro do Interior, Manuel Valls para o Palais Matignon (que é a sede do
Primeiro Ministro). Se no Ministério do Interior a passagem de Valls não se compara, por exemplo, à de Nicolas Sarkozy (cujo discurso o
catapultou para a liderança da UMP e
a presidência), a maioria de esquerda poderá diminuir, com a saída dos
ambientalistas (que se opõem a Valls).
Por outro
lado, em Paris, o Partido Socialista elegeu para a prefeitura (mairie) de Paris, Anne Hidalgo. É a primeira mulher a ser eleita para o cargo.
Como o
chefe do AKP, Recep Tayyip Erdogan, enfrenta há tempos oposição cerrada da
juventude e de forças liberais, a par de sua postura autoritária e pesadas
acusações de corrupção (inclusive gravações de conversas telefônicas com o
filho que incriminam Erdogan), os totais dos islamistas nas prefeituras dão inesperado
novo alento às pretensões de Erdogan de candidatar-se à presidência no pleito
de agosto vindouro.
Se o
desgaste sofrido por Erdogan não pode deixar de ser computado, a sua força
junto a população interiorana e de menor poder aquisitivo é fator que mantém
vivas as suas ambições
presidencialistas. Como as provas que o
inculpam de corrupção passiva são respeitáveis, o seu triunfo, antes havido
como certo, ora oscila entre o provável e o possível. Erdogan tem opositores
temíveis, inclusive no próprio partido, e na hubris contraída pela longa permanência no comando ele coletou
inumeráveis inimigos entre militares, jornalistas, intelectuais e a classe
média turca.
Apoio popular à Revisão da Anistia
Talvez em função
dos trabalhos da Comissão da Verdade, assim como do cinismo que tem
caracterizado declarações de ex-militares que confessam abertamente – e alguns
mesmo se jactam disso – aumentou a maioria da população que apóia a revisão da
Lei de Anistia (com que os militares em 1979 realizaram o que foi considerado
uma auto-anistia).
Desse modo,
agora 46% da população é a favor de anular a norma tal como foi
aprovada em 1979, de modo a que possam ser julgadas e presas as pessoas que
praticaram tortura, assassinato, sequestro, e outros crimes durante a ditadura
militar.
Os que são contra alterar a lei somam
37%. Nos entrevistados com
curso superior, o apoio à
revisão é de 52%, e a taxa de rejeição à medida, de 40%.
Como se sabe,
o Supremo Tribunal Federal, em anos anteriores, votou contra a revisão da Lei
da auto-anistia. No entanto, a jurisprudência internacional do direito
internacional humanitário pende de forma marcada para a imprescritibilidade dos crimes de
tortura e de atentados contra os
direitos humanos. Tanto nas cortes europeias, quanto nas latino-americanas
essa já constitui a tendência prevalente.
Crescendo o
apoio popular – conforme determinado pelo Datafolha – algum dia chegará ao
nosso mais alto tribunal esta visão mais consentânea com a progressão do
moderno direito humanitário. Quando ocorrerá esse magno evento, é outra
história.
(Fontes: Folha de S.
Paulo, O Globo)
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