A tática do ‘fato consumado’ do
Presidente Vladimir Putin contribuíu desde já para mudança substancial na
reação dos Estados Unidos e do Presidente Barack Obama – para quem vão todos os
olhares do Ocidente quando um cenário de confrontação se delineia.
São conhecidas
as dúvidas tanto internas, quanto externas no que tange à firmeza de Obama em
tal situação. No Congresso Americano, há clara predisposição tanto de
democratas, quanto de republicanos, no sentido de fazer pagar a Putin pela sua
invasão da Crimeia – não há mais ilusões quanto ao estabelecimento de total controle
da península pela Rússia.
Posto que a
Chanceler Angela Merkel tenha arrancado de gospodin Putin a ‘concessão’ da
formação de um grupo de diálogo político sobre a crise, Obama ao montar a reação do Ocidente terá de
contar com a unidade da aliança no que tange às medidas de retaliação.
Se a volta da
guerra fria não é perspectiva encorajante, há indicações de que Berlin não veja
com favor o afastamento da Federação Russa do Grupo dos Oito. Nesse sentido,
indicou ceticismo o Ministro do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, que é social democrata (a
chamada grande coalizão CDU-SPD está de volta). Dentre as represálias
ocidentais, a ‘expulsão’ da Rússia do
G-8 significaria medida que afetaria o prestígio do Kremlin. Como a próxima
reunião do G-8 está marcada para Sochi, depreende-se que se faria Putin pagar
um certo preço formal pela sua invasão da Ucrânia tipo século XIX.
A par dessa
possível dissonância – tanto David Cameron, do Reino Unido, quanto François
Hollande, da França, apoiam o
afastamento da Rússia do G-8 - Obama
terá de calibrar a própria resposta, de forma a convencer os republicanos ( e
os democratas ), que será firme na sua posição. Dadas as limitações dessa
reação – ninguém por certo deseja provocar uma confrontação nuclear – a coisa
não parece simples. Afinal, quem tinha fama de durão – George W. Bush – tampouco
logrou curvar Putin, quando da crise da
Abkazia e da Ossétia do Sul, em 2008.
Amanhã, o
Secretário de Estado John Kerry visitará Kiev, para marcar a presença do
Ocidente, enquanto a Ucrânia enfrenta o ‘desastre’ da intervenção russa na Crimeia,
nas palavras do Primeiro Ministro Arseny Yatseniuk. A Ucrânia é um país
dividido em dois – o Oeste com o Ocidente, e o Leste, incluída a Criméia, com a
Rússia – e a questão assume desenvolvimentos farcescos, quando o comandante da
marinha ucraniana, Denis Berezovsky, anuncia que aderiu às autoridades
pró-Rússia da Crimeia.
Para completar
o quadro, o diretor do Conselho de Segurança Nacional, Andrei Parubi, asseverou
que o Ministério da Defesa ‘chamará todos os reservistas necessários às Forças
Armadas neste momento.’
Não é decerto
um quadro muito animador. Por sua atitude – que relembra a de outras figuras em
um passado não tão distante – Putin põe em perigo a segurança da Ucrânia. Tal
se observa notadamente, como assinala Parubi, pela ‘violação dos acordos
bilaterais por parte da Rússia, em especial sobre a frota do Mar Negro.’
Há muitos
fatores a serem computados nessa crise. Putin, como agressor e infringindo
acordos internacionais, se põe a descoberto, porque o caminho da força bruta
representa uma brutal involução nas relações internacionais, desestabilizando
tratados, e fazendo retornar um cenário que muitos julgavam pretérito, pela
progressão do direito internacional público e de seus instrumentos como a Corte
de Haia.
Sem embargo,
Vladimir Putin, além da iniciativa e da desfaçatez, tem outras cartas, como a
de fornecedor energético da Europa Ocidental.
Ao apelar para a violência, a sua posição não é inexpugnável, se houver
unidade no campo ocidental.
É o que caberia a Barack Obama verificar e
tentar dissuadir o Kremlin de buscar resolver os respectivos problemas por meio
de cínicas soluções tipo século dezenove.
(Fontes:
The New York Times, Folha de S. Paulo)
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