segunda-feira, 3 de março de 2014

A Ucrânia e os tambores da Guerra

                                

      A tática do ‘fato consumado’ do Presidente Vladimir Putin contribuíu desde já para mudança substancial na reação dos Estados Unidos e do Presidente Barack Obama – para quem vão todos os olhares do Ocidente quando um cenário de confrontação se delineia.

      São conhecidas as dúvidas tanto internas, quanto externas no que tange à firmeza de Obama em tal situação. No Congresso Americano, há clara predisposição tanto de democratas, quanto de republicanos, no sentido de fazer pagar a Putin pela sua invasão da Crimeia – não há mais ilusões quanto ao estabelecimento de total controle  da península pela Rússia.

       Posto que a Chanceler Angela Merkel tenha arrancado de gospodin Putin a ‘concessão’ da formação de um grupo de diálogo político sobre a crise,  Obama ao montar a reação do Ocidente terá de contar com a unidade da aliança no que tange às medidas de retaliação.

      Se a volta da guerra fria não é perspectiva encorajante, há indicações de que Berlin não veja com favor o afastamento da Federação Russa do Grupo dos Oito. Nesse sentido, indicou ceticismo o Ministro do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, que é social democrata (a chamada grande coalizão CDU-SPD está de volta). Dentre as represálias ocidentais, a ‘expulsão’ da  Rússia do G-8 significaria medida que afetaria o prestígio do Kremlin. Como a próxima reunião do G-8 está marcada para Sochi, depreende-se que se faria Putin pagar um certo preço formal pela sua invasão da Ucrânia tipo século XIX.

      A par dessa possível dissonância – tanto David Cameron, do Reino Unido, quanto François Hollande, da França,  apoiam o afastamento da Rússia do G-8 -  Obama terá de calibrar a própria resposta, de forma a convencer os republicanos ( e os democratas ), que será firme na sua posição. Dadas as limitações dessa reação – ninguém por certo deseja provocar uma confrontação nuclear – a coisa não parece simples. Afinal, quem tinha fama de durão – George W. Bush – tampouco logrou curvar  Putin, quando da crise da Abkazia  e da Ossétia do Sul, em 2008.

       Amanhã, o Secretário de Estado John Kerry visitará Kiev, para marcar a presença do Ocidente, enquanto a Ucrânia enfrenta o ‘desastre’ da intervenção russa na Crimeia, nas palavras do Primeiro Ministro Arseny Yatseniuk. A Ucrânia é um país dividido em dois – o Oeste com o Ocidente, e o Leste, incluída a Criméia, com a Rússia – e a questão assume desenvolvimentos farcescos, quando o comandante da marinha ucraniana, Denis Berezovsky, anuncia que aderiu às autoridades pró-Rússia da Crimeia.

        Para completar o quadro, o diretor do Conselho de Segurança Nacional, Andrei Parubi, asseverou que o Ministério da Defesa ‘chamará todos os reservistas necessários às Forças Armadas neste momento.’

       Não é decerto um quadro muito animador. Por sua atitude – que relembra a de outras figuras em um passado não tão distante – Putin põe em perigo a segurança da Ucrânia. Tal se observa notadamente, como assinala Parubi, pela ‘violação dos acordos bilaterais por parte da Rússia, em especial sobre a frota do Mar Negro.’

       Há muitos fatores a serem computados nessa crise. Putin, como agressor e infringindo acordos internacionais, se põe a descoberto, porque o caminho da força bruta representa uma brutal involução nas relações internacionais, desestabilizando tratados, e fazendo retornar um cenário que muitos julgavam pretérito, pela progressão do direito internacional público e de seus instrumentos como a Corte de Haia.

       Sem embargo, Vladimir Putin, além da iniciativa e da desfaçatez, tem outras cartas, como a de fornecedor energético da Europa Ocidental.  Ao apelar para a violência, a sua posição não é inexpugnável, se houver unidade no campo ocidental.

      É o que caberia a Barack Obama verificar e tentar dissuadir o Kremlin de buscar resolver os respectivos problemas por meio de cínicas soluções tipo século dezenove.

 

(Fontes:  The New York Times, Folha de S. Paulo)  

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