Os oito anos de Mantega
O Ministro Guido
Mantega aparece contente na foto. Em breve, completará oito anos como
Ministro da Fazenda. Nas contas da imprensa, como logo alcançará Pedro Malan, que ficou dois mandatos sob FHC,
ele passará a ser considerado como o Ministro da Fazenda mais longevo. Epa! E o
Artur
da Souza Costa[1],
que foi Ministro da Fazenda de Getúlio Vargas, como fica? Os áulicos de plantão
já vieram com a fórmula: Mantega é o ministro de mais longa permanência em regime democrático.
Já sob tal
aspecto, o critério é dúbio. Regime democrático? O que tem isso a ver com o
peixe, se pensarmos que Ministros da Fazenda não são eleitos, mas bem
demissíveis ad nutum...
O que isto
significa? Mais um truque dentre os muitos que Mantega tem aplicado ou
permitido no seu longo ministério, a começar pelas capitalizações que tanto foram do gosto de Lula da Silva?
Mantega tem
presença afirmativa nas finanças do Brasil? A Presidenta segue as suas
recomendações ou será que é o contrário?
Mantega, nesse octênio, tem acompanhado as pegadas firmes de seu
antecessor Palocci? Ele inspira confiança, ou não? A sua
liderança na Fazenda tem sido incontrastável ou não? Ofusca a todos os demais,
ou admite que cometas, como Arno Augustin,
façam suas aparições ?
Por fim, como
Mantega vem sido avaliado externa e internamente? Excluindo o Economist, tem recebido elogios pela firmeza e transparência? E o que tem contribuído para a avaliação das
finanças brasileiras sob o mando – e põe mando nisso! – de Dilma Rousseff ?
Silêncio dos Militares ?
Reporto-me à entrevista
na Folha deste domingo. As suas palavras são de grande relevância,
sobretudo em país onde a classe política e o poder civil tem atitude de extrema
cautela com a instituição militar, postura que não fica nada bem no retrato. Se
compararmos com outros países sul-americanos – a Argentina, por exemplo – a
postura de nossos líderes democráticos
eleitos tem sido de cautela excessiva, como vemos de resto nos resultados
práticos: ao contrário daquele país, algum militar de alta patente foi
condenado e serviu pena na prisão?
A sua análise
da relação dos militares em geral me parece lapidar. E no obsequioso mutismo
prevalente, não poderia ser mais oportuna.
Há muitas
coisas importantes no seu depoimento a assinalar. Frisemos algumas: “Hoje as Forças Armadas
exercem poder de veto no Brasil, porque têm a capacidade de impedir que
informações venham a público. Quando um
ator político tem poder de veto, não há democracia.”
“Na América do Sul, somos
o único país em que ninguém foi responsabilizado individualmente pelos crimes
da ditadura. O Estado assumiu a culpa e pronto. Nossa Anistia foi uma autoanistia, os militares
perdoaram a si mesmos. Isso aconteceu em lugares como Chile e Argentina, mas
depois as pessoas foram julgadas”
“O Governo Lula foi um
retrocesso muito grande. Veja a demissão de José Viegas do Ministério da Defesa (em 2004). O General Francisco Albuquerque,
comandante do Exército, fez um manifesto defendendo o golpe de 1964 sem
consultar o Ministro, seu chefe. Era uma
dupla irregularidade, porque militar não pode fazer manifestação política e
houve quebra de hierarquia, mas Lula demitiu o Ministro e manteve o comandante
no cargo.
“Depois, o Tarso Genro (ministro da Justiça) declarou que
era favorável a rever a Lei da Anistia para que os militares respondessem por
crimes contra a Humanidade. O que o Lula disse ? ‘Não se toca mais neste
assunto.’ Ele tinha uma atitude
reverencial com as Forças Armadas.”
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo)
[1] Foi Ministro da Fazenda do
Presidente Getúlio Vargas de 24 de julho de 1934 a 29 de outubro de 1945.
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