quinta-feira, 13 de março de 2014

Adeus UPPs ?

                  

          Qual a semelhança entre as imagens da terça-feira onze, transmitidas pelo “Jornal Nacional”, da Rede Globo, e aquelas já longínquas, da operação conjunta de Forças Armadas e da Polícia Militar, solenemente tomando posse do Complexo do Alemão, em 2011?  Uma das cenas mais repetidas da épica jornada em que o Governador Sérgio Cabral içou as bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro, no ponto mais alto da área então solenemente ocupada e reintegrada sob o poder público, é a da fuga em massa de trezentos a quatrocentos homens, saídos das vielas e becos do casario do Alemão, e ganhando estrada de terra. Muitos correm desabaladamente, outros utilizam carros, caminhonetes, carroças, e motocicletas. São os traficantes e seus sequazes, que fogem. Com tal debandada, via-se que, realmente, o Alemão ficara limpo da bandidagem que o dominara por tantos anos.  Compreendia-se, então, a alegria das autoridades, a começar pela mais alta do Estado do Rio de Janeiro.

            Com operação tão bem sucedida, de que participaram blindados das Forças Armadas – Exército, Marinha (Fuzileiros Navais) e destacamentos dos PMs, não esquecendo o batalhão do BOPE – ficava fácil de entender o júbilo oficial, militar e mesmo popular, que culminava com a expulsão do tráfico sob os olhos de milhares, digo milhões de telespectadores !

            E, no entanto, quem dos muitos telespectadores a presenciarem a histórica cena não terá, por um instante, perguntado a seus botões  para onde íam correndo, mas livres, tantas centenas de traficantes e seus auxiliares ? Saíam, debandavam das vielas, agora livres e desimpedidas, do Complexo do Alemão – a imensa área por tanto tempo fora do controle da Lei – mas a pergunta, a dúvida que ficava em todos os assistentes era: para onde estão todos esses bandidos ? Poucos perguntaram por qual razão não estariam sendo presos, conquanto a visão de tanto meliante correndo, muitos deles armados, não espicaçasse muitos com a indagação: afinal, o Alemão ficara livre dos fora-da-lei? Sem dúvida um grande e ansiado evento, comemorado não só no Rio de Janeiro, mas transmitido para todo o mundo, quem sabe como o evento daquele domingo.

            É bem verdade que as autoridades oportunamente explicaram que tudo fora feito de acordo com planejamento pré-estabelecido. E essa suposta fuga dos traficantes, registrada por tantas câmeras, fazia parte do programado, eis que a estratégia da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora, introduzida pelo Eng° José Mariano Beltrame, Secretário de Segurança, com o apoio do Governador Sérgio Cabral, não previa a prisão dos traficantes, e sim trabalhava no sentido de induzi-los à fuga. Quanto à eventual captura, era deixada para outra oportunidade.

          E a implantação das UPPs continuou em todos esses anos, e no momento o estado do  Rio de Janeiro tem 38 UPPs, em um total de 1071 favelas, segundo identificadas pelo censo de 2010. No entanto, se o projeto vai avante, restam poucas dúvidas de que atravessa um momento de crise.

         As cenas captadas pela câmeras de monitoramento da UPP na Rocinha mostram a nova estratégia do crime organizado contra a pacificação no favelão. O vídeo é apresentado pela PM como uma nova estratégia do crime contra a pacificação na Rocinha. Nova ou não, o que se vê são dois policiais dominados por um grupo de meliantes desarmados, que cercam e agridem os dois policiais sem que estes tentem qualquer revide. Na ação dos criminosos, um dos PMs é chutado e o carro policial tem os vidros quebrados.

             A leitura da cena pelo delegado Gabriel Ferrando é que o tráfico tenta, dessa maneira, atrapalhar o processo de pacificação. Dos agressores, quatro foram identificados. E a onze do corrente foi preso o bandido que, em fevereiro, comandara ataque à  UPP. Por outro, no Alemão – que já foi cenário da bem-sucedida novela Salve, Jorge, houve um protesto fechando avenida contra a prisão de suspeitos de crime.

             Já a interpretação da cena pelos telespectadores poderá ser diferente. O que se depara em realidade no tal vídeo são policiais que não reagem. Dão a impressão de estarem amedrontados. Ainda por cima, nada fazem quando o veículo policial é danificado – janela quebrada, pneus chutados como se não houvesse testemunhas e agentes policiais na proximidade. Não há, de resto, qualquer tentativo de impedir dano a um veículo policial, empenhado em missão de interesse público (tinham apreendido armas e drogas). Os policiais estão intimidados e não reagem. Será esta a nova orientação da chefia da UPP, para não atrapalhar o processo de pacificação?

             Entrementes, nos dias anteriores à publicação do vídeo (transmitidas a onze do corrente, pelo JN conforme indicado acima), houvera uma sucessão de manchetes em O Globo, encimadas por Em defesa da Pacificação e nas letras garrafais do cabeçalho “Estado reage ao tráfico e instala a 38ª UPP’’. E mais abaixo: Comunidade com cerca de 100 mil pessoas é disputada por quadrilha.

            E neste dia treze de março, conforme anunciado, a Vila Kennedy, em Bangu, em operação de apenas vinte minutos, foi  ocupada pela polícia, em operação que  a cargo do BOPE e do Batalhão de Choque da PM. Não é por acaso que tal ocupação se completa uma semana após o PM Rodrigo Paes Leme, na Favela Nova Brasília, no acima citado Complexo do Alemão ter sido assassinado por traficantes.

            Como se assinala, há muita tensão na área, por causa da guerra travada por traficantes pelo controle da Vila Kennedy.  E tampouco foi por acaso que o Secretário José Mariano Beltrame decidiu acelerar a instalação de novas UPPs, baseando-se na ideia de que a reação do tráfico é sinal de que a expansão das unidades vem incomodando aos criminosos.  Nesse sentido, e pelos argumentos acima, a Vila Kennedy passou à frente do Complexo da Maré, cuja ocupação vinha sendo planejada há meses.

            Segundo informe de hoje, quinta-feira, a ocupação pela UPP na Vila Kennedy, realizada em tempo dos citados vinte minutos, não topou com qualquer obstáculo, realizando-se conforme previsto normalmente, sem nenhum confronto ou problema imprevisto. Por medida de cautela preventiva, foram fechadas dezessete escolas na área.

                                                                                                       (a continuar) 

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