Qual a
semelhança entre as imagens da terça-feira onze, transmitidas pelo “Jornal Nacional”, da Rede Globo,
e aquelas já longínquas, da operação conjunta de Forças Armadas e da Polícia Militar,
solenemente tomando posse do Complexo do Alemão, em 2011? Uma das cenas mais repetidas da épica jornada
em que o Governador Sérgio Cabral içou as bandeiras do Brasil e do Rio de
Janeiro, no ponto mais alto da área então solenemente ocupada e reintegrada sob
o poder público, é a da fuga em massa de trezentos a quatrocentos homens,
saídos das vielas e becos do casario do Alemão, e ganhando estrada de terra.
Muitos correm desabaladamente, outros utilizam carros, caminhonetes, carroças,
e motocicletas. São os traficantes e seus sequazes, que fogem. Com tal
debandada, via-se que, realmente, o Alemão ficara limpo da bandidagem que o
dominara por tantos anos.
Compreendia-se, então, a alegria das autoridades, a começar pela mais
alta do Estado do Rio de Janeiro.
Com operação
tão bem sucedida, de que participaram blindados das Forças Armadas – Exército,
Marinha (Fuzileiros Navais) e destacamentos dos PMs, não esquecendo o batalhão do BOPE – ficava fácil de entender o júbilo oficial, militar e mesmo
popular, que culminava com a expulsão do tráfico sob os olhos de milhares, digo
milhões de telespectadores !
E, no
entanto, quem dos muitos telespectadores a presenciarem a histórica cena não
terá, por um instante, perguntado a seus botões
para onde íam correndo, mas livres, tantas centenas de traficantes e
seus auxiliares ? Saíam, debandavam das vielas, agora livres e desimpedidas, do
Complexo do Alemão – a imensa área por tanto tempo fora do controle da Lei –
mas a pergunta, a dúvida que ficava em todos os assistentes era: para onde
estão todos esses bandidos ? Poucos perguntaram por qual razão não estariam
sendo presos, conquanto a visão de tanto meliante correndo, muitos deles
armados, não espicaçasse muitos com a indagação: afinal, o Alemão ficara livre dos
fora-da-lei? Sem dúvida um grande e ansiado evento, comemorado não só no Rio de
Janeiro, mas transmitido para todo o mundo, quem sabe como o evento daquele
domingo.
É bem
verdade que as autoridades oportunamente explicaram que tudo fora feito de acordo
com planejamento pré-estabelecido. E essa suposta fuga dos traficantes,
registrada por tantas câmeras, fazia parte do programado, eis que a estratégia
da implantação das Unidades de Polícia Pacificadora, introduzida pelo Eng° José
Mariano Beltrame, Secretário de Segurança, com o apoio do Governador Sérgio
Cabral, não previa a prisão dos traficantes, e sim trabalhava no sentido de
induzi-los à fuga. Quanto à eventual captura, era deixada para outra
oportunidade.
E a
implantação das UPPs continuou em todos esses anos, e no momento o estado do Rio de Janeiro tem 38 UPPs, em um total de
1071 favelas, segundo identificadas pelo censo de 2010. No entanto, se o
projeto vai avante, restam poucas dúvidas de que atravessa um momento de crise.
As cenas captadas pela câmeras de
monitoramento da UPP na Rocinha mostram a nova estratégia do crime organizado
contra a pacificação no favelão. O vídeo é apresentado pela PM como uma nova
estratégia do crime contra a pacificação na Rocinha. Nova ou não, o que se vê
são dois policiais dominados por um grupo de meliantes desarmados, que cercam e
agridem os dois policiais sem que estes tentem qualquer revide. Na ação dos
criminosos, um dos PMs é chutado e o carro policial tem os vidros quebrados.
A
leitura da cena pelo delegado Gabriel
Ferrando é que o tráfico tenta, dessa maneira, atrapalhar o processo de
pacificação. Dos agressores, quatro foram identificados. E a onze do corrente
foi preso o bandido que, em fevereiro, comandara ataque à UPP. Por outro, no Alemão – que já foi
cenário da bem-sucedida novela Salve,
Jorge, houve um protesto fechando
avenida contra a prisão de suspeitos de crime.
Já a
interpretação da cena pelos telespectadores poderá ser diferente. O que se
depara em realidade no tal vídeo são policiais que não reagem. Dão a impressão
de estarem amedrontados. Ainda por cima, nada fazem quando o veículo policial é
danificado – janela quebrada, pneus chutados como se não houvesse testemunhas e
agentes policiais na proximidade. Não há, de resto, qualquer tentativo de
impedir dano a um veículo policial, empenhado em missão de interesse público
(tinham apreendido armas e drogas). Os policiais estão intimidados e não
reagem. Será esta a nova orientação da chefia da UPP, para não atrapalhar o
processo de pacificação?
Entrementes, nos dias anteriores à publicação do vídeo (transmitidas a
onze do corrente, pelo JN conforme
indicado acima), houvera uma sucessão de manchetes em O Globo, encimadas por Em defesa da Pacificação e nas letras
garrafais do cabeçalho “Estado reage ao tráfico e instala a 38ª
UPP’’. E mais abaixo: Comunidade
com cerca de 100 mil pessoas é disputada por quadrilha.
E neste
dia treze de março, conforme anunciado, a Vila Kennedy, em Bangu, em operação de apenas vinte minutos, foi ocupada pela polícia, em operação que a cargo do BOPE e do Batalhão de
Choque da PM. Não é por acaso que tal ocupação se completa uma semana após o PM
Rodrigo Paes Leme, na Favela Nova Brasília, no acima citado Complexo do Alemão
ter sido assassinado por traficantes.
Como se
assinala, há muita tensão na área, por causa da guerra travada por traficantes
pelo controle da Vila Kennedy. E tampouco foi
por acaso que o Secretário José Mariano Beltrame decidiu acelerar a instalação
de novas UPPs, baseando-se na ideia de que a reação do tráfico é sinal de que a
expansão das unidades vem incomodando aos criminosos. Nesse sentido, e pelos argumentos acima, a
Vila Kennedy passou à frente do Complexo da Maré, cuja ocupação vinha sendo planejada
há meses.
Segundo
informe de hoje, quinta-feira, a ocupação pela UPP na Vila Kennedy, realizada em tempo dos citados vinte minutos, não topou com qualquer obstáculo, realizando-se conforme previsto
normalmente, sem nenhum confronto ou problema imprevisto. Por medida de cautela preventiva, foram fechadas
dezessete escolas na área.
(a continuar)
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