Mais objeto de vergonha do que de
dúvida, todas as manipulações que o Ministério da Fazenda de Guido Mantega
procurou fazer a propósito do superávit primário, na verdade poderiam
constituir uma fábula para o exercício e aprendizado dessa gente que, com
Mantega no ápice da construção, tanto e vãmente se empenhou em lograr iludir
por um dia que fosse o público interessado.
Com efeito, a
exigência do superávit primário, em sua aparente simplicidade, na verdade, ou
configura a famosa pedra no meio do caminho do poeta Carlos Drummond de
Andrade, ou é embuste cruel para os trapaceiros, pois coloca exigência que eles
não podem cumprir.
Na mesma
linha de pensamento, nos vem à mente a máxima do Duque de La Rochefoucauld: a hipocrisia é a homenagem que o vício presta à virtude.
Sabia-se que, ameaçado pelos
piratas das agências de risco, Guido Mantega – que se diz Ministro da Fazenda –
cuidara de preparar um tapa-boca para os detratores do dílmico governo. Iria
apresentar um superávit primário que iria calar a malta dos críticos, além de
silenciar os mouros d’além-mar. Posto que provoque ceticismo a sua
reivindicação plena da ministrança – é voz corrente que Dilma assumiu a
Fazenda, como uma dúzia de outras Pastas que estão à sua altura – a azáfama de
fim de ano e a cercania do Carnaval o ajudaram na tarefa de ser levado a
sério.
Guido não
ignorava a própria dificuldade. Como um governo que gasta de forma compulsiva,
pode querer apresentar superávit primário digno do nome?
Perguntou-se então se grandes mentiras poderiam ser úteis. Talvez.
Quanto maior a construção, mais tempo teria pela frente para ocultar-lhe a
natureza.
Irritava-lhe, no entanto, ler blogs
que, malgrado os ingentes esforços,
tachavam a sua criação já a treze de janeiro de ‘Superávit Ficcional’ !
E, no
entanto, por artes que Gil Castello Branco viria a mostrar só a 18 de março, o
samba-enredo do superávit primário se transformaria em claro enigma.
Será
cansativo descrever os truques e os macetes fiscais, que envolvem intensa
manipulação. Todas essas mágicas têm vida curta. Os enganos têm prazos de
validade que qualquer farmacêutico definiria como abusivos, quase
inadmissíveis.
É um senhor esforço! Na dura realidade, todavia, será que engana
alguém ?
Movimentar
tudo isso – setenta e cinco bilhões! – com que propósito? Mostrar que
mentira tem perna curta?
Para que toda
essa parafernália? Desmoralizar as contas? Tampouco o exercício faz sentido...
Além do mais, esse tipo de contabilidade fiscal não é sério...
Então, se não
é sério, quer dizer com isto que o humor negro passou a encarregar-se das
contas nacionais...
(Pano rápido)
(Fonte: O Globo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário