quarta-feira, 5 de março de 2014

Quarta-Feira Suja

                                           

        Hoje, dia cinco de março é quarta-feira de cinzas, dia que se supõe seja de penitência e arrependimento, o que a marca na testa deveria simbolizar. Na verdade, esse fim de carnaval carioca se assinala por uma quarta-feira suja, com o lixo por toda parte, jogado que foi por blocos e grupos de foliões.
        Uma festa – ou melhor, um conjunto de festas, festejos e festividades de todo tipo, de que a elegância, as brincadeiras para menores de dezoito anos e a alegria sem adjetivos são fenômenos raros vistos a grandes penas e à distância, enquanto a vulgaridade como a poeira se espalha por toda parte, sem precisar de convite ou crachá – uma festa, repito, que não vai ser lembrada pela animação dos foliões, a beleza das foliãs, mas sim pelo lixo que está em toda parte, nas avenidas, nas ruas, nas calçadas, sarjetas, ruelas, praças e logradouros, e os enxames das moscas, que retornam em estilo, trazendo de volta a imundície dos bons e velhos tempos.

       A que devemos essa dúbia e imprevista viagem a um passado de pouca higiene e muita sujeira? O lixo por toda parte não nos deixa esquecer quem o trouxe. Se créditos devem ser atribuídos, eles cabem, primeiro, a uma greve oportunista de uma parte do sindicato dos garis da prefeitura. Sem qualquer escrúpulo, ela não se peja de conspurcar a festa, de desfigurar a cidade e de trazer de volta as moscas – muitas moscas! – para reforçar o movimento.
       A violência tem muitas formas. Além de invadir a alegria alheia, não é que a facção da greve selvagem chega a desmoralizar ainda mais a prefeitura? Atreve-se  a impedir que outros garis, que tem respeito pela própria profissão, façam o seu serviço. O        que surpreende mais não é a audácia e o menosprezo dessa gente pela festa do Rio, mas a apatia de prefeito (e do próprio Estado) que dispõe de forças para coibir a baderna e os atos antissociais.

 

(Fonte:  O Globo on-line)  

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