Vendo onde o Governo de sua pupila
está indo parar, será que Lula pensa em que talvez se haja precipitado, ao
indicar alguém para sucedê-lo que no seu quarto de ano mandato tem bagagem tão
pouco convincente ?
Os erros e os
escândalos se acumulam. É bem verdade que entre esses não há nenhum que sequer
chegue perto do mensalão, quando o medo de Nosso
Guia de ser levado de roldão pela crise não era mais hipótese acadêmica,
como o próprio comportamento de D. Marisa, ao obter passaporte italiano, não
deixa qualquer dúvida.
O problema com
Dilma Rousseff está na sua entrada em ano eleitoral com um punhado de problemas
que já são de bom tamanho.
Ela trouxe a
inflação de volta. Entra mês, sai mês, a taxa média está sempre batendo no
teto, o que traz para o convívio diário a incômoda presença do Dragão. Se os surtos
inquietantes foram contidos, a dificuldade está em que a economia se descobre
sempre próxima do teto, o que traz nefastas consequências com a sopa dos
índices, e o consequente vezo dos incrementos embutidos numa expectativa de
viés sempre em alta.
O Plano Real
corre o risco de virar definitivamente retrato na parede, porque não se
descortina ou competência, ou vontade de pôr a economia em ritmo menos
subfebril de o que se assinala até agora, entra ano, sai ano.
Nesse contexto,
o anúncio do rebaixamento da economia brasileira até que surpreendeu, mas por outros motivos. Contudo,
o entorno de certa maneira frisa o relativo descrédito da corrente
administração econômico-financeira. A
nota mais salgada saíu há menos de duas semanas de reunião entre representantes
da Standard & Poor’s e o Ministro Guido Mantega, que apresentara coleção de
dados novos à consideração da Agência.
Apesar da
barretada e do nível do mensageiro, a expectativa de que a queda ficasse para
depois das eleições logo se esfumou. Com esse balde de água fria, o desempenho
econômico do governo Dilma Rousseff se descobre com o aval de Wall Street ainda
mais fragilizado nos debates das próximas eleições.
Encerra-se,
assim, uma década de elevações da nota brasileira pelas agências de
classificação de risco. E por mais
voltas que se busque dar para minimizar a queda, o flanco fica em aberto.
Estamos agora dependurados no último ítem de
investimento (BBB-). O abismo do junk (lixo) seria a próxima parada. Não
há mais qualquer faixa que dele nos separe.
Como sublinha
Miriam Leitão não foi surpresa a decisão da Standard & Poor’s. Ao invés de
procurar reverter a tendência, consoante frisa a colunista, “o governo ignorou
todos os alertas e insistiu em manobras para manipular as contas públicas, em
vez de corrigi-las.”
No passado, o
nosso PIB crescia e havia a expectativa de progressão. Passamos para uma outra
faixa, aquela da turma de trás, que apesar da poeira semelha não ganhar muita
experiência.
Infelizmente, não
está na natureza da administração de Dilma Rousseff não tratar sem artifícios
fiscais as eventuais dificuldades. As nossas contas, com tantos truques,
perderam boa parte de sua credibilidade. O pior na ingenuidade (para não dizer
outra coisa) de parte das manipulações fiscais. A par de criar ambiente
desfavorável, elas não enganam a ninguém.
Tampouco é
firula acadêmica o rebaixamento da nota.
As notas atribuídas pelas agências impactam igualmente o custo da dívida
de empresas e países, porque os juros sobem. Quanto pior a imagem do país, mais
alto pagará em juros, o que funciona como a mais valia do risco acrescido. Por outro lado, quanto melhor a
classificação, menos tenderá a ser o dispêndio com os juros. Não é um bom negócio, portanto, para os empresários
se partem para as chamadas captações. Esse
eufemismo para a tomada de empréstimos será, doravante, de gosto mais salgado.
Por outro lado,
a rebaixa tem um efeito genérico e desmoralizante sobre a economia atingida em geral. Se o viés passa a ser
negativo, decresce o interesse, diminuem os IEDs (investimento econômico
direto), sem falar de inversões mais duráveis. Se aumentam os investimentos
especulativos, dada a sua volatilidade, não representa aporte confiável para um
país que se debate nos andares debaixo da economia internacional.
Talvez esse
tenha sido o erro mais pesado e ameaçador da impetuosa economista Dilma
Rousseff. Não se pode nunca esquecer que a economia depende em grande medida da
confiança na gestora.
A grande ironia
disso tudo estaria quem sabe na circunstância de que Lula da Silva foi procurar
na sua chefa de gabinete uma gerentona para o Brasil. Pensou em termos
administrativos eis que, enquanto Presidente, muito dependeu da atuação de
Dilma no nível administrativo. No político, pensava ele.
Como grande
eleitor, Lula conseguiu o feito, que é negado a tantos presidentes, vale dizer,
eleger o próprio sucessor. O único problema terá sido que se esqueceu de
constituir um elemento indispensável para o sucesso da fórmula. Deu-nos uma
gerente, quando o Brasil carece de um pouco mais.
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
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