Exclusão da Rússia
Convocadas de urgência por Barack Obama – que parece ter acordado
de seu torpor – as potências reunidas na Holanda decidiram excluir do G-8 [1](que
passa a ser G-7) a Rússia, por comportamento não conforme aos princípios
que orientam o Grupo.
A Rússia estava há quinze anos no G-8, mas o
seu profissional Ministro do Exterior, Sergei
Lavrov, não viu problema na decisão: ‘se nossos parceiros ocidentais
acreditam que esse formato está esgotado, não fazemos questão (dele)’.
Dentro do festival Sochi, promovido por Vladimir Putin – o maior certâmen
havia sido os Jogos Olímpicos de Inverno – esse centro invernal no Cáucaso não
mais sediará, portanto, a reunião das principais potências, dado o cancelamento
do encontro em Sochi.
O afastamento
da Federação Russa do grupo é faca de dois gumes. Se funciona como ‘punição’
pelo comportamento não-conforme ao direito internacional e aos tratados
firmados do regime Putin, a reunião regular poderia ser cenário para discussões
informais que tenderiam a dar via de escape para as tensões.
Por outro lado,
conforme referido anteriormente pelo blog,
a Assessora de Segurança Nacional Susan E. Rice
anunciara uma reavaliação das relações com a Rússia pelos Estados Unidos.
Não foram
poucas as críticas dos dois principais partidos estadunidenses quanto à
negligência de Obama no que tange às questões europeias (leia-se Síria e
Ucrânia). A respeito, tem sido objeto de não poucas censuras a atitude de
retraimento de Obama, não só quanto ao Ditador
Bashar al-Assad, senão no que tange a gospodin
Putin.
A conversa com
o então presidente Dmitri Medvedev
representa marco importante. Captado por microfone deixado operante por descuido
– o que seria uma espécie de ‘testemunha
acidental da história’ - Obama disse
que oportunamente (depois das
eleições presidenciais de 2012) cuidaria de desativar o escudo anti-míssil na
Europa, que era um dos pontos de atrito de Putin com o Ocidente. Animado pela
boa nova, Medvedev disse que se daria pressa em transmiti-la para Vladimir (que
logo reassumiu a presidência).
A interpretação
de muitos é que esse escudo representava deterrente importante no que tange a
Moscou, e que Vladimir Putin, uma vez reeleito para a presidência (no caso, uma
formalidade) começou a tirar as deduções que a seu talante cabiam no que
respeita às relações com o Ocidente (e o tratamento dos países considerados na
sua suposta esfera de influência).
Obama, na
reunião da Holanda, não omitiu alfinetada em Moscou, a que denominou de ‘poder
regional’.
Sem embargo,
para Kiev
– que acaba de assinar o acordo com a
União Europeia, acordo esse rejeitado na vigésima-quinta hora pelo então
presidente Viktor Yanukovich, em
favor da União Aduaneira proposta pelo Kremlin – a movimentação das tropas
russas na sua fronteira oriental com a Rússia constitui motivo de grande
apreensão, mormente após a tomada ilegal da Criméia.
A Democracia Venezuelana
O Presidente Nicolás
Maduro anunciou a prisão de três generais da Força Aérea que estariam
conspirando contra o estado democrático chavista. Se há consistência ou não
nesta grave acusação, os fatos não deixarão de demonstrá-lo. Com as iniciativas
do governo chavista voltadas agora para a repressão de conspiratas militares, a
situação naquele país não será das mais tranquilas, o que é direta decorrência
da funda e sólida incompetência do sucessor do Comandante Hugo Chávez.
Por outro lado,
o presidente da Assembléia Nacional da Venezuela, sem trocadilho nos vem com
uma descabelada decisão. Com efeito, Diosdado
Cabello de sua curul assemblear anunciou que a deputada da oposição Maria
Corina Machado perdera o mandato e está proibida de entrar no
recinto da Assembléia!
A ‘motivação’
dessa ilegal resolução – há um procedimento legal para as
cassações de mandato, que obviamente não se coaduna com a intempestiva, sponte sua determinação de Cabello –
está em que a deputada aceitou o papel de representante suplente do Panamá, e
solicitou o direito à palavra em sessão da OEA
nesta sexta-feira. Dada a
impossibilidade até agora de a OEA ouvir relato da oposição sobre a situação na
Venezuela (com grandes protestos populares contra o governo Maduro desde o
início de fevereiro), o Panamá cedeu lugar na sua delegação para que a OEA
fosse inteirada.
Sem embargo, os
representantes dos países-membros na OEA, por maioria de votos, aprovaram (22
votos a favor, três contrários e nove abstenções) a moção da delegação
venezuelana de que fosse retirado da agenda o ítem dedicado à análise da
situação no país. Dessarte, o corajoso empenho da deputada foi preventivamente
calado. Cabello – que não se pejou de cassar o mandato da deputada, posto que
para tanto não dispusesse de qualquer base legal – mostrou, a contrario sensu,
qual é a verdadeira situação na pobre Venezuela. Para os distúrbios que, apesar de
tudo, continuam – para os surdos de tanto ouvirem – há macabro balanço de 36 mortos desde 12 de fevereiro.
Será que disse algo a propósito o saltitante passarinho que aparecera na campanha no ombro
do caminhoneiro Maduro?...
(Fontes:
The New York Times, Folha de S.
Paulo, O Globo)
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