domingo, 9 de março de 2014

Colcha de Retalhos B 9

                                       

A Crise da Crimeia

 
       O Secretário de Estado John Kerry, em suas conversações com o Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, recomendou ao governo russo a máxima cautela (restraint). Nesse sentido, Kerry explicitou que qualquer escalada militar e/ou provocações na Crimeia, ou em outras partes da Ucrânia, juntamente com medidas para anexar a Crimeia à Federação Russa, implicaria no fechamento do espaço ainda disponível para a diplomacia.
       O Secretário Kerry empenha-se, outrossim, para que se forme um grupo de trabalho integrado pela Alemanha, França, Estados Unidos, Russia e Ucrânia, com vistas a debater medidas para a solução da crise. A ideia do Secretário de Estado é de proporcionar um conduto direto de contato entre Moscou e Kiev, mas até o presente não recebeu qualquer resposta favorável do Kremlin.

       No entanto, Lavrov se prontificou a levar as propostas estadunidenses para o presidente Vladimir Putin, que ora se acha em Sochi.
       Diante da atitude pregressa de gospodin Putin, é mais do que dúbia a possibilidade de costurar um enredo que seja conducente, senão à solução da crise, pelo menos a uma postura que privilegie não a confrontação e o fato consumo, mas a troca de ideias para eventuais soluções.

       Sob pretexto de que a Ucrânia é devedora a Gazprom (estatal russa de petróleo e derivados) de US$ 1,89 bilhão, o Kremlin ameaçou cortar o fornecimento de gás à Ucrânia. Além disso, sinalizou-se o apoio ao referendo sobre a anexação da Crimeia à Federação Russa. Dada a movimentação militar precedente, a votação em condições peculiares do parlamento regional na Crimeia, e a manifestação no mesmo sentido do Senado russo, não podem subsistir dúvidas quanto aos propósitos anexionistas de Putin.
       Em cenários que são decerto reminiscentes das vésperas das crises que antecederam  a guerra mundial de 1939, Vladimir V. Putin multiplica as medidas tendentes à anexação, enquanto rejeita planos de diálogo com o Ocidente. 

      Não subsistem, de resto, dúvidas de que a anexação da península da Crimeia é apenas parte de uma investida imperialista.  Putin não quer uma vizinha Ucrânia que esteja voltada para o Ocidente, e que eventualmente se associe – como, entre outras,a vizinha Polônia – à União Européia.
       Expulso o quisling[1] Viktor Yanukovich pela revolução da Praça Maidan – os três meses de revolta do povo ucraniano se devem à própria recusa em aceitar a associação com a Federação Russa e não com a União Europeia – o autoritário Putin, desabituado a que não lhe façam a vontade no entorno do império respectivo, terá resolvido virar a mesa, imaginando talvez uma ‘solução’ tipo Abkázia e Ossétia do Sul. Que o presidente russo terá cometido uma grande calinada, restam poucas dúvidas, como exposto em meu blog “O Erro de Putin”.

        De qualquer forma, pela sofreguidão e tentativa da imposição de ‘soluções’ que importariam em colossal recuo nas relações internacionais e ao princípio basilar do ‘pacta sunt servanda’ (os tratados devem ser obedecidos), o ditador Putin semelha disposto a pôr-se fora da lei internacional. É difícil imaginar o que ocorrerá com líder nacional que voluntariamente se coloque hors la loi (fora da lei). Se as armas terríveis do passado não nos parecem aplicáveis, tampouco é crível que alguém possa agir dessa forma, sem sofrer consequências.

 

A Mensagem de Dilma

 
       Mais do que pressurosa, foi sobretudo ufanista a mensagem de Dilma sobre o Dia Internacional da Mulher. Dada a sua condição presidencial, e as próprias desenvoltas características – esta é a décima nona mensagem da Presidenta – a sua intervenção surgia como natural e devida. Dadas as características da personagem, no entanto, o entorno do discurso fornecia à Presidente da República o realce e a relevância que acompanhavam naturalmente a alocução. A data em si já era demasiado importante, e mais ainda o seria pela ocasião. Não se entendeu quiçá que a significação era tal, que dispensava a repetição.

 
 
Ataque dos nacionalistas do Xinjiang

 
          Na semana passada, na estação ferroviária de Kunming, no sudoeste chinês, houve um ataque de separatistas islâmicos do Xinjiang.  Como se sabe, existe uma rebelião larvar nessa área limítrofe no oeste chinês da população uighur, que se levanta contra o domínio colonial chinês (nos mesmos moldes das invasões do Tibete e da Mongólia).

           Ao contrário, no entanto, dos naturais do Tibete – que se imolam pelo fogo -, os uighures principiaram a levar a própria contestação fora das fronteiras do Xinjiang, anexado pela China ao cabo da derrocada de Chiang Kai-shek e da ‘redistribuição’ fronteiriça no extremo oeste.  Houve já um ataque na Praça da Paz Celestial, conforme referido pelo blog, e agora na região chinesa de Kunming, no sudoeste.
           A  investida dos extremistas uighures – era um grupo de pelo menos dez homens – usando punhais mataram 28 chineses e feriram mais 162.  Dessa unidade terrorista, cinco foram abatidos pela polícia, enquanto os outros lograram fugir.

 

A Crise nas UPPs

           No corrente ano morreram três policiais militares das Unidades de Polícia Pacificadora do Complexo do Alemão, o que mostra um recrudescimento da ação de bandidos e traficantes na área. O modelo da UPP, tão enaltecido pelo Governo Sérgio Cabral, mostraria sinais de esgarçamento ou enfraquecimento ?

            O próprio Secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, não mais descarta a possibilidade do retorno de  nova ocupação militar na área. Haveria, para tanto, seiscentos homens disponíveis, do Exército e da Polícia Federal.

            Outra área em que há baixas de policiais das UPPs  é o morro do Pavão-Pavãozinho, em que a presença do tráfico semelha levantar a cabeça, inclusive impondo fechamento do comércio ao ensejo de morte de traficantes, a exemplo do ocorrido em passado não tão afastado.

             Esta é uma outra área delicada, que afeta tanto Copacabana (no entorno da rua Sá Ferreira), quanto  Ipanema, na rua Teixeira de Melo.

 

(Fontes:  The New York Times,  O  Globo)



[1] O sobrenome do governante norueguês que se bandeara para os invasores nazistas, tornou-se sinônimo de colaboracionista traidor de sua pátria.

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