Invasão russa da Crimeia
Embora a
magnitude da questão seja muito superior à da crise na Geórgia em agosto de
2008, a invasão russa daquele ano na pequena Geórgia pode apontar as grandes
linhas da reação dos Estados Unidos (e da União Europeia), a atitude da
população local direta ou indiretamente envolvida (reporto-me, em ordem
crescente de gravidade, a reações pontuais da população de fala russa na zona oriental
da Ucrânia, incluída a Crimeia), e do próprio Kremlin.
Se Obama
falou dos custos dessa operação para Moscou, e a sua conversação telefônica de
noventa minutos – que, na verdade, correspondem a 45 minutos para a tradução
respectiva (por questões protocolares, não é provável que Vladimir Putin tenha
falado em inglês), o exemplo anterior de George Bush mostra que, na maioria dos
casos, Moscou não se inquieta com restrições pontuais (depósitos bancários,
limitações ao intercâmbio), se a questão é de prestígio nacional ou de alto
interesse (como o é agora o caso da Crimeia).
Autorizada por
resolução unânime do Senado, a invasão branca da Crimeia pode doravante
realizar-se de forma aberta. No entanto, não será fácil ocultar o viés
imperialista da operação. Como afirma o cientista político Alexander Konovalov:
“não está clara a missão dessa força expedicionária. Apesar da linguagem da
resolução apresentada pelo Kremlin, não havia nenhuma evidência de perigo aos
cidadãos da Crimeia ou de ameaça à base russa de Sebastopol.”
Na Crimeia, o
primeiro-ministro Sergei Aksionov é considerado ilegítimo pelo governo
central. Com efeito, a eleição de
Aksionov, na quinta-feira, viola a Constituição Nacional. Feita a portas
fechadas, e um dia após que um grupo armado se apossou do parlamento local, há
toda razão para suspeitar de que se trata de operação que visa a aproveitar-se
do virtual domínio de Moscou sobre a Crimeia. Nesse contexto, Aksionov anunciou
ontem que ira adiantar para trinta de março, referendo aprovado na quinta pelo
parlamento já tomado, com vistas a ampliar a autonomia da Crimeia.
Por sua vez,
os nacionalistas ucranianos – próximos de Yulia Timoshenko, a ex- Primeiro
Ministro que Yanukovich fez condenar por
um processo suspeito – ocupam atualmente os cargos de presidente e
primeiro-ministro. Nesse sentido, o presidente interino da Ucrânia colocou as
Forças Armadas nacionais em ‘alerta máximo’ e o governo instruíu o seu
representante permanente na ONU, o embaixador Yuri Sergeiev, para acionar o
Conselho de Segurança para interromper a agressão russa.
Se Moscou
privilegia a força, seja embuçada, seja arrimada a posteriori por resolução do Conselho da Federação (Senado), voltamos a um cenário do século XIX, em que o
mundo se deparava com o concerto das Grandes Potências (a que tudo ou quase
tudo se permitia) e o restante das
Nações, que se empenhavam pelo respeito ao direito internacional.
Essa
involução – de que o Presidente Vladimir Putin se tem valido, como o atesta o
precedente do ataque à Geórgia e a anexação (virtual ou não) das repúblicas da
Abkazia e da Ossétia do Sul, em 2008 – é processo perigoso e deletério. Se a
força nua passa a ser a razão bastante para decidir do traçado das fronteiras,
aonde ficam a Corte Internacional de Justiça da Haia, os Tratados de limites e,
não por último, o Direito Internacional Público ?
A
República do Retoque
Por que as
notícias da véspera costuma ser melhores? No setor das contas públicas, fica
mais fácil entender as involuções surpreendentes. Em dezembro último, as contas
foram maquiadas, no sentido de que para apresentar um balanço mais luzidio o
governo preferiu atrasar os pagamentos em dezembro.
Dessarte, o
que se ocultou em dezembro, reponta em janeiro – despesas federais com pessoal,
programas sociais e investimentos – com um incremento de 19,5% sobre janeiro do
ano passado. A gastação corre no sangue da administração de d. Dilma.
Por isso,
dadas as iteradas recaídas no campo da ficção fiscal, seria mais apropriado que
se olhasse com cuidado todas as súbitas reconversões da Administração. Eis que
são tantas as vezes que a imprensa, bem-comportada como sempre, registra
obediente as promessas de cristão-novo
deste governo petista, quem é na verdade que estão fazendo de bobo
? Será que pensam manter sempre a
credibilidade? Ou imaginam que esse primarismo vá poupá-los do rebaixamento da
nota pelas Agências de avaliação de Wall Street?
A República do Retoque (2)
A brutal
discrepância entre os salários pagos a profissionais médicos de outros países,
e os pífios vencimentos que recebem os cubanos, sob regime de virtual
escravidão – como assinala mestre Ives Gandra Martins - ainda mais com a retenção feita pelo
governo cubano – quem acreditou que um tal mostrengo seria politica e
eticamente viável na república federativa do Brasil ?
Costurado por Alexandre Padilha, quem
cuidou de minorar o erro inicial? Pois
foi mesmo Lula da Silva, quem viajou a Cuba para convencer Raul Castro que o
esquema, no Brasil, era insustentável. De acordo com o noticiário, os médicos
cubanos passam a ganhar US$ 1,245.00 (cerca de três mil reais e não mais apenas
mil). O Ministro Arthur Chioro entrou na questão pro-forma, como se a
iniciativa fosse do próprio Ministério da Saúde.
Como a
discrepância continua, posto que reduzida, não está escrito que a questão vá
ficar nesses termos.
O Samba da Diplomacia Doida
A Revista VEJA
dessa semana sob o título ‘O samba da diplomacia doida’ (inspirado sem dúvida
no famoso samba do crioulo doido, de Sérgio Porto) nos informa de um vexame
ocorrido em Bruxelas.
Ao ler o
registro sem nexo de afirmações peremptórias se experimenta talvez o que Lord
Altrincham afirmara dos discursos lidos pela vozinha esganiçada da jovem rainha
Elizabeth – uma dor forte no pescoço. O problema está em que o fato é real, e
corresponde a um discurso pronunciado obviamente de improviso pela Presidenta.
Dois exemplos: “A Zona Franca de Manaus, ela está numa região. Ela é o centro
dela, porque é a capital da Amazônia” e “Nós consideramos como estratégica essa
relação, até por isso fizemos essa parceria estratégica.”
O Mensalão vai virar pizza ?
De acordo com o
informe, quem abre alas nesse Carnaval é o Ministro Ricardo Lewandowski. Como
está na fila para assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal, toda especulação
– sobretudo com a formação de uma nova maioria já na última votação – é
possível. Ainda mais pela circunstância de que falta muita coisa a decidir na
pauta do tribunal quanto à Ação Penal 470...
(Fontes: Folha de S.
Paulo, O Globo, The New York Times, VEJA)
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