O governo da Presidenta Dilma Rousseff acumula erros na economia, apesar de suas
declaradas boas intenções. Antes de percorrer o varejo de tantos equívocos,
semelha importante perguntar sobre as causas da controversa e confusa performance.
Pois Dilma
Rousseff tem estudo e experiência na matéria. Em termos de energia, o
seu curriculum mostra cargo político
exercido no Rio Grande, não sem louvores. A par disso, Lula da Silva, seu criador, foi buscá-la nas Minas e Energia, onde
a colocara, para substituir nada menos que o maestro do Mensalão, o então
deputado e virtual Primeiro Ministro
José Dirceu.
Há a velha
crença religiosa de que não se deve servir a dois senhores. Em termos de credo,
este axioma é obedecido por panteísmo e monoteísmo. Assim, mesmo no panteon helênico, Zeus tinha a primazia. Se hoje memória dele só se consente nas
ruínas de seus templos, o princípio foi abraçado por seus epígonos, por mais
distantes e menos críveis que muitos deles ora se apresentem.
Se a diarquia
não subsiste na religião – este perene refúgio do homem em meio às tempestades
- muito menos a lógica mais comezinha poderá admiti-la na governança da
economia.
Pois, malgrado
todos os apodos e afrontas com que se visita a sombria ciência (dismal
Science) da economia política, na definição famosa de Disraeli,
primeiro-ministro inglês no século XIX, há regras firmes e inflexíveis nas suas
aparentes incertezas.
Ora, Dilma Rousseff
e seus ministros (que na sua
Administração estão bem próximos da servil etimologia do hoje altissonante
vocábulo) muita vez dizem uma coisa e fazem outra, ou, o que dá no mesmo,
enquanto a Presidenta professa a ortodoxia, por baixo do pano, ou nem tanto,
inviabiliza os resultados que afirma perseguir.
Isto veremos,
na coisas mais comezinhas, ou nas mais complexas. O leitor que me honra com a
sua atenção poderá isto confirmar na através de um sem-número de blogs.
Deste modo, a Presidenta parece
acreditar na mágica virtude da palavra, mesmo se não acompanhada de ação
coerente e diuturna. No calor do pico inflacionário – causado pelo então
manietamento do Banco Central e pela habitual gastança sem apoio fiscal – convoca almoço no Planalto, cujo prato
principal é o suposto combate à carestia. Contando com a boa-vontade de quem já sinalizou esta menção,
permito-me a ela recorrer uma vez mais, eis que as constantes visitas podem
tornar o próprio objeto mais cogente e relevante.
Na verdade, tal
episódio não é tão singelo quanto aparenta, e traz consigo uma lição
permanente. Para tratar de luta contra a inflação, ela chama para convivas Antonio Delfim
Netto e Luiz Gonzaga Belluzzo!
Está igualmente presente o favorito Arno
Augustin. Nesse contexto, também as ausências são importantes: Dona Dilma não
convida nem o seu discreto Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e tampouco os únicos que têm o que mostrar no
capítulo, vale dizer os artífices do Plano Real.
No entanto, a
Presidente Dilma Rousseff quer conciliar o inconciliável. Para tanto, ou
recorre – como era seu hábito, quando o dragão ainda dormitava – a uma esgrima
verbal contra a besta-fera, como se o flagelo de tantas décadas da economia
brasileira tivesse medo de ocas e retóricas ameaças, ou num micro-gerenciamento
desvairado, multiplica mesuras anti-inflacionárias, com um comportamento
oposto, em que se favorecem as capitalizações (as mágicas não-fiscais que tanto
agradaram a Lula), a inchação dos gastos correntes (com o desvairado
empreguismo público), as mágicas fiscais e a imitação da contabilidade da
companheira Cristina, viúva de Kirchner.Assim, de que serventia terá um superávit fiscal primário, que encolhe vexaminosamente? Também se ataca a Lei da Responsabilidade Fiscal, a chave da abóbada da boa-gestão econômico-financeira. E a investida se agrava, pelo tratamento preferencial que se pretende dar à prefeitura ora sob os cuidados do companheiro e também poste de Lula, Fernando Haddad. Trata-se agora de redigir as leizinhas malignas que permitirão aos inadimplentes um tratamento que não foi – e por justa razão – dado àqueles que deveriam pagar as próprias dívidas, e não sobrecarregar a União.
Multiplica-se em
detrimento dos investimentos, seja a opção
pelo consumo – com a sobrecarga dos cofres da União na subvenção a compras
de eletro-domésticos – ou os subsídios à conta energética, sem falar na farra
das térmicas (que não são exatamente ecológicas, com sua contribuição ao
aquecimento global), sem falar das desonerações fiscais (verdadeira
roleta-russa para os empresários) e o amadorismo clientelista, que a tudo
perpassa no seu paranoico temor da resposta das urnas. Para tanto, se
sobrecarrega o Estado com o peso de desvairado assistencialismo, cujo escopo
é o de assegurar, pela coleira de enganosos benefícios, a preferência de
inteiras regiões que torne dispensável o aleatório juízo de partidos e
eleitores independentes.
(a continuar)
(Fontes
subsidiárias: O Globo, Folha de S. Paulo)
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