Acordo provisório com o Irã
Optou-se por entendimento provisório, dada a complexidade das diversas questões ainda em suspenso, no que tange às medidas indispensáveis que deverão ser tomadas por Teerã com vistas à assinatura de documento definitivo sobre a matéria.
Dada a
complexidade das questões envolvidas, optou-se por documento que estabelecesse
o congelamento temporário do programa nuclear iraniano. Esta foi a rationale a que se ativeram os
negociadores, que teriam, de acordo com tal raciocínio,mais tempo para chegar a um acordo abrangente. Resta
verificar se esse acordo provisório será instrumental suficiente para conter o
programa nuclear do Irã, e assegurar sua
utilização exclusiva para fins pacíficos.
O Ministro do
Exterior Mohammad Javad Zarif, disse
esperar que o acordo possibilite restaurar a confiança entre o Irã e os Estados
Unidos. Nesse sentido, Zarif sublinhou o caráter pacífico do programa, e que o
povo iraniano merece ser respeitado pelo Ocidente.
Nesse sentido,
o Irã concorda em deter o enriquecimento do urânio no nível de 5%, bastante
para a produção de energia (para fins militares o urânio necessita de
enriquecimento em níveis mais altos).
Para assegurar
o caráter pacífico, o governo iraniano se comprometeu a desmontar as atuais
conexões na sua rede de centrífugas.
Quanto ao estoque já existente de urânio enriquecido até 20% (assaz próximo
daquele utilizável para fins militares), ele seria convertido em óxido, de modo
a não estar disponível para fins militares.
Dentro da mesma linha, o Irã também se comprometeu em não instalar novas
centrífugas,nem pôr em funcionamento as não-operantes, assim como não criar
novas facilidades de enriquecimento de urânio.
Sem embargo, o
governo iraniano poderá continuar a enriquecer urânio até o nível de 3 a
5%. Tampouco carece de desmantelar as
existentes centrífugas.
Em troca do
acordo, os Estados Unidos concordaram em conceder de seis a sete bilhões de
dólares em compensação pela imposição das sanções. Deve-se ter presente que
cerca de 4.2 bilhões desta soma se refere a renda de petróleo, que fora
congelada por bancos estrangeiros.
Este
instrumento foi acertado de modo a ser implementado por decreto presidencial.
Diante da mui possível resistência do Congresso (que tenderia a exigir o
desmantelamento prévio do programa nuclear iraniano), a Casa Branca preferiu
recorrer a uma solução provisória da questão. Sem embargo, nas suas palavras o
presidente Barack Obama não deixou de aludir às preocupações (de Israel e
também da Arábia Saudita e de outros aliados de Washington no Golfo Pérsico):
‘eles têm boas razões para encararem com ceticismo das intenções (de Teerã)’. O
Presidente enfatizou , no entanto, ‘a profunda responsabilidade’ de testar as
perspectivas de uma solução diplomática para essa questão.
Nos termos do
acordo provisório, o regime iraniano poderá aumentar o estoque de urânio de baixo enriquecimento
para 8 tons. (das sete atuais). Ao cabo de seis meses, contudo, Teerã deverá
retornar às sete hodiernas.
Os fiscais da
AIEA poderão visitar as instalações de Natanz e a usina subterrânea em Fordo, diariamente, com vistas à verificação do filme
das câmeras aí instaladas.
Como igualmente
seria previsível, a oposição mais forte ao acordo negociado em Genebra vem de
Tel-Aviv. O governo Netanyahu preferiria
um documento muito mais severo, que implicasse na terminação dos programas de
enriquecimento do urânio pelo Irã. As potências do Conselho de Segurança e a U.E.
se pautaram pela regra diplomática de que a negociação deve realizar-se dentro do regime do possível e não do
teoricamente preferível.
O novo governo iraniano do presidente
Hassan Rouhani tem dado indicações de maior flexibilidade e relativa moderação.
Tudo vai depender da atitude na prática do Líder Supremo Ali Khamenei, para que
o entendimento seja implementado de boa fé.
Após haver
jogado a carta da independência atômica – e do enriquecimento nuclear bem acima
dos níveis compatíveis com a utilização pacífica – caberá ao ayatollah Khamenei fazer com que seus
aliados à direita (os guardiães da revolução e os que desejam a morte do grã Satã) se
conformem com os novos parâmetros, para as que as sanções sejam levantadas, e a
economia iraniana possa recuperar-se.
A Comissão Feliciano e o que
significa
Depois de
apossar-se da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos
Deputados, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) logrou mostrar para os
observadores o significado do domínio de
uma Comissão por um movimento político engajado na obtenção de realidades
objetivas que estão na contramão da modernidade e do consenso constitucional
vigente.
Por muito, a Comissão de Direitos
Humanos esteve sob o controle do PT. A presença do Partido dos Trabalhadores na
aludida presidência se não se traduziu em agenda pró-ativa, tampouco se
caracterizou pelo que ora se vê. A presença do deputado evangélico Marco
Feliciano, marcada de início por série de manifestações de repúdio – o que
contribuíra para dar-lhe à presença na comissão um enganoso aspecto farsesco - agora involui para medidas que são
suscetíveis de interpretação de viés homofóbico.
Consoante O
Globo, nesta semana, a Comissão Feliciano “aprovou (a 20 do corrente) dois
projetos contrários aos interesses dos homossexuais e ainda rejeitou outro que
atendia aos pleitos da comunidade. Entre os projetos aprovados está a suspensão
da resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) que autorizou cartórios a realizarem
casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Já a proposta que foi rejeitada daria a
companheiros de gays o direito a receber pensão pelo INSS.”
O Congresso
das quartas-feiras (até mesmo a veia inconstitucional da Comissão corre neste
dia da semana) permitiu, por um misto de incompetência e de negligência, que de
repente surgisse na costa esse novo presidente de comissão, de um partido da
direita evangélica, que venha substituir a longa e ineficaz presidência do PT
na Comissão dos Direitos Humanos, nominalmente de esquerda, por uma assunção de
questionável oportunidade e de discutível significação para a atual Câmara, de
parte de movimento fora do consenso prevalente da sociedade civil e, na aparência,
com uma agenda que não reflete o sentir da direção da Câmara e do próprio
governo Dilma Rousseff.
Pela sua
continuada presença, o Senhor Marco Feliciano mostrou que a Câmara e a sua Mesa
diretora não dispõe de instrumentos – ou não quer deles valer-se – para afastar
da direção de uma Comissão de Direitos Humanos um deputado que já deu mostras
suficientes de que não tem condições tanto pessoais, quanto constitucionais
para ocupar tal presidência.
Superpoderes para Maduro !
O presidente
Nicolás Maduro já deu sobejas mostras de qual nicho lhe reserva a história
política da Venezuela. O ex-caminhoneiro, ao apagar das luzes da presidência chavista
indicado como sucessor do moribundo caudillo,
se insere dentro de uma tradição já referida, de que a farsa é a continuação de
certas situações políticas.
O nível
intelectual do atual presidente é uma triste realidade, em que se infantiliza a
sociedade civil que, no passado, já se assinalara por grandes presenças no
mundo político. O próprio Hugo Chávez, fundador do corrente regime venezuelano,
jamais no curso de seu neopopulismo, seria cúmplice ou fautor de atos e
atitudes como os que vem sendo realizados pelo seu herdeiro de ultimíssima
hora.
A pretexto de
controlar a alta dos preços que já acena para a hiperinflação, Maduro exigiu
da Assembleia Legislativa da Venezuela –
e a concessão foi manchada pelas habituais ilegalidades – a outorga de
superpoderes para governar a Venezuela e, em particular, dominar a inflação.
Pelas
declarações e iniciativas do Presidente Maduro, foi dado ao povo venezuelano
uma visão tipo Brucutu da economia. No entender de Sua Excelência, há inimigos
por toda a parte, e a carestia (a par do desabastecimento e um vastíssimo etcetera)
se deve a inimigos do Povo, a tubarões empresariais, etc. etc.
Os plenos poderes dados a Maduro, que por um
ano governará por decreto, serão utilizados muito provavelmente com fins
demagógicos, na busca de supostos culpados por todos os males que enfrenta a
população venezuelana.
É de indizível
pobreza intelectual que alguém se proponha a combater a inflação através de uma
caça às feiticeiras, ou através de medidas coercitivas de congelamento de
preços, ou de incriminação de empresários e patrões como bodes expiatórios do
atual desgoverno.
A economia é
ciência decerto imperfeita. O que dela sabemos, no entanto, nos permite
algumas certezas. Uma delas é que a realidade econômico-financeira não respeita
os decretos e os ukases (ordens ditatoriais).
Embora ainda
exista gente não de todo convencida em Pindorama, a heterodoxia não funciona na
ciência econômica.
Os plenos
poderes de Maduro terão consequências. Só se pode garantir, no entanto, é que
não valerão para o que nominalmente se propõem. Ao cabo de um ano, o presidente
constitucional, seja ele quem for, não terá controlado nem a inflação, nem o
desabastecimento, nem a insatisfação crescente de um povo que sequer tem o que comprar.
(Fontes:
O Globo, New York Times)
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