Pensou-se que Barack Obama aprendera a lição
do primeiro biênio de seu mandato inicial, em que, dispondo de maioria nas duas
Casas do Congresso, transformara a Casa Branca em local insular, quase autista.
Aí o presidente Obama, como se fora ainda chefe de instituição de ensino,
realizou sem-número de seminários em que seu Assessor para Assuntos econômicos,
Larry Summers, exercia inaudito
controle. Com efeito, conforme assinalado pelo livro Homens de Confiança, de Ron Suskind, Obama concordava em que fossem
rediscutidos temas debatidos na véspera, e nos quais já havia manifestado a
respectiva opinião.
Em outras
palavras, ele, o 44º presidente dos
Estados Unidos, admitia que assessor seu reabrisse questões em que ele batera o
martelo, sinalizando o favor presidencial a respeito de determinada posição.
Tal
flexibilidade, se pode ser praticada em ambientes como Harvard – de que Barack Obama tinha sido o primus inter pares – dificilmente se coadunaria com as normas e
usanças atinentes à Casa Branca.
Todos nós
sabemos como terminou tal período, senão no desastre eleitoral do shellacking (tunda), em que não só o
Partido Democrata perdeu a maioria na Câmara de Representantes, mas também tornou
possível instrumentalizar a construção pelo GOP de bases para a permanência de artificial maioria republicana
na Câmara Baixa, com as danosas consequências de representação partidária que não está afinada
com a vontade política nacional. O assunto em tela já foi objeto de estudo em
mais de um blog, aos quais me permito
remeter o leitor (Eleições intermediárias
nos EUA (I e II), de primeiro e dois de outubro p.p.).
O velho Buffon tampouco perdeu a aplicação no
caso. Se o estilo continua a definir o
homem, mesmo que tal maneira de ser
tenha implicações negativas para alguém na posição de Primeiro Mandatário, fica
mais fácil entender porque Obama reincida em práticas que decerto não se
coadunam com os fins de seu presente ofício, para o qual foi reeleito em 2012.
Recentemente,
como reportado neste blog, o
Presidente convocou Jeffrey D. Zients, ainda jovem executivo para
encarregar-se da operacionalização do deficiente site da reforma para a saúde. O prazo que se concedeu Zients vai
até 30 de novembro corrente. Chamado in
extremis, resta verificar se ele terá condições de operacionalizar a
contento o dito site HealthCare.gov
Segundo relata
o recente best-seller “Double down”, o ex-presidente Bill Clinton – que, apesar de
não ter relação próxima com Obama, o ajudou bastante na campanha pela
reeleição, disse a amigos que “Obama faz
certo toda a parte difícil de governar, mas não sabe fazer a parte fácil”. Nesse contexto, Clinton está de acordo com as
grandes conquistas de seu sucessor – reforma da saúde, retirada das tropas do
Afeganistão e a política do estímulo econômico, mas no particular considera que o presidente é insular, alienado,
distante da cozinha política com aliados e opositores, e até mesmo de sua equipe.
A esse
respeito, Obama foi surpreendido pelos problemas burocráticos da implantação da
reforma da saúde, deixado por conta da Secretária de Saúde Kathleen Sebelius,
cujo conhecimento da questão ela demonstrou pelas abismais respostas dadas às
perguntas dos congressistas.
Atualmente,
Barack Obama está empenhado em um “tour
de desculpas”, em que já visitou cinco estados.
Não surpreende,
portanto, que a popularidade do Presidente tenha despencado de 51%, em maio, para 41% agora.
Por outro lado,
o baixo número de pessoas inscritas no programa de saúde (106 mil) em que a maior parte, i.e. 76.319 provém
das câmaras estaduais (exchanges) e
não daqueles que recorreram ao site
oficial da assistência custeável da saúde (26.794) manda mensagem desfavorável para o Congresso.
As previsões
anteriores, veiculadas pelo não-partidário C.B.O.
(Escritório Congressual do Orçamento), em que cerca 465 mil pessoas se
registrariam no primeiro mês se acham
muito aquém da marca.
Malgrado o
nervosismo dos congressistas democratas, é preciso ter presente que os
primeiros meses nos planos desse gênero (como aconteceu em Massachusetts) se
caracterizam por movimento fraco. A notar que o prazo de inscrição se estende até
15 de dezembro p.f., para cobertura completa para o ano vindouro. Para efeito
de matrícula, essa cobertura para 2014 se fecha até 31 de março. Tudo isso, por
conseguinte, além de indicar um habitual menor número de adesões nos meses iniciais, não exclui que os
totais cresçam quando estiverem iminentes os prazos finais de registro.
(Fontes: Folha de S.
Paulo, New York Times)
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