terça-feira, 5 de novembro de 2013

Com Dilma, governo cada vez mais chavista

                      

       Como já foi referido neste blog, está em curso um ataque contra a Lei da Responsabilidade Fiscal. Reitero que não foi por acaso que o Partido dos Trabalhadores, então na oposição, levou seu ataque à LRF, após fracassar no Congresso, até a  contestação nos tribunais contra tal disposição, que é uma espécie de chave de abóbada em termos de disciplina fiscal.
      O malogro de então, para felicidade das contas e da solidez do Tesouro, não foi lição duradoura. Todo o desempenho de Dilma Rousseff, neste seu mandato como ‘mulher do Lula’, tem sido investida sustentada contra o Plano Real, tanto na exação fiscal, quanto em tudo que diga respeito ao controle das contas.

     Como o jornalista Ricardo Noblat – de que saúdo com os melhores votos o retorno à prestigiosa coluna, após o tratamento médico-hospitalar a que teve de submeter-se – nos assinala, a fama de boa gestora de Dilma Rousseff é outro atestado da singular habilidade comunicativa de Lula da Silva.
     Nos seus anos de governo – e já se apresta a adentrar o quarto e final do mandato – dona Dilma agiu como se o Plano Real não fosse uma conquista da nacionalidade. Tímida em termos de grandes reformas de que o Brasil carece – a política e a fiscal em primeiro lugar -, a pupila de Lula logo mostrou grande desenvoltura aonde não devera, tratando a inflação como se fosse moçoila a quem bastaria a sovada linguagem retórica do ‘não permitirei’ para que não levantasse a hedionda cabeça que é mais ávida do que os fiscais para cobrar do povo o tributo iníquo da carestia.

      Por força de suas irresponsabilidades fiscais, o dragão voltou. Como a reação popular foi forte – e por mais que tergiversasse a responsabilidade pelo abalo no Plano Real lhe caiu como luva maldita – o medo de pagar nas urnas o desgoverno na economia, fê-la recuar e reapresentar-se como convertida às medidas anti-inflacionárias, a começar pelo nível da taxa Selic. Essa administração converteu em meta fiscal o índice inflacionário no seu teto. Desse modo, andamos pelos seis por cento, como se fosse o desejável.
      No entanto, a Presidenta não é nem crente, nem recém-convertida na estabilidade fiscal. Por isso, ela permite agora a criminosa manobra contra a Lei da Responsabilidade Fiscal.  Como ela não gosta do edifício, tampouco aprecia a guardiã da credibilidade das contas públicas.

      Foi aprovado pela Câmara de Deputados, o projeto de lei complementar n° 238, para tentar recompor as finanças da Prefeitura de São Paulo. A medida corre no Congresso para socorrer o companheiro Fernando Haddad, que chora sobre a situação da prefeitura da maior cidade do país.  Enquanto ali esteve um tucano, ou assemelhado, a enorme dívida contraída pelo Municipio não mereceu especial atenção do Planalto. Agora, as lamentações de Haddad comoveram D. Dilma.  Em manobra legislativa que mina a credibilidade já abalada da LRF, são mudados os índices de correção de dívidas de estados e municípios com a União e autoriza o recálculo desses débitos retroativamente.
     Mas não fica nisso a obra de quem solapa a Lei da Responsabilidade Fiscal. Com casuísmo irresponsável, autoriza seja contornado um dos pilares da lei, que exige a indicação de fonte de receita firme sempre que nova despesa é criada.

       A Lei da Responsabilidade Fiscal – que sofre agora um magno ataque, eis que o mau pagador (a prefeitura de São Paulo) será privilegiada em relação aos que saldaram suas dívidas em dia, além de sobrecarregar a União com o enorme passivo da metrópole paulista - já recebera no passado, em quatro momentos, sérios ataques contra os seus princípios básicos.
       Tal ocorreu,por exemplo, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cujas despesas foram transformadas em obrigatórias em projeto de lei. Com isso, se driblou a norma da LRF que proíbe o repasse de recursos da União a entes que estejam inadimplentes, com exceção de despesas obrigatórias. Também houve flexibilização na forma de os governos regionais comprovarem que estão em dia com pagamentos como o recolhimento do INSS.

        E tampouco houve disposição do governo federal em fixar limites para o endividamento da União, previsto na Lei, mas que depende de regulamentação. Por hoje, só estados e municípios estão sujeitos a limites de endividamento.
        Mas a má-vontade do Governo petista (Lula da Silva, incluído) impediu a criação do Conselho de Gestão Fiscal, previsto no art. 67 da LRF, com ampla participação de todos os setores da sociedade envolvidos por essa Lei capital.  Sem o Conselho, a fiscalização da LRF é falha, havendo estados e municípios que não incluem gastos com inativos nas despesas com funcionários, para mascarar os limites da Lei.

        No frigir dos ovos, a atribuição de fiscalizar fica exclusivamente com o Tesouro.  Tudo isso contribui para tornar o Orçamento da União mais obscuro. Todos nós sabemos por experiência de vida, que a mentira tem as pernas curtas. Entramos assim na companhia pouco prestigiosa das economias chavistas – como a da viúva Cristina de Kirchner – e não nos iludamos que a nossa condição esteja melhor. Com as artimanhas fiscais e o arsenal de truques  de que participam ativamente Mantega & Cia. , além dos grandes bancos estatais, que mais parecem especializados em meter-se em esquemas falimentares (V. Eike Batista e a OGX), na verdade cada vez se engana menos gente, como é a sina dos operadores dos sistemas hetorodoxos, ricos em imaginação, mais paupérrimos em resultados.
          É uma estória triste, cujo final será sempre o mesmo. Para tal modelo, quanto mais rezarem, mais assombrações hão de aparecer, e cada uma pior do que a anterior.

          Não há outra saída, senão o convencimento do eleitor. Para tanto se precisa de gente com competência no ramo, pois a regra é clara. Para varrê-los, se carece da maioria dos votos.  Não é tarefa fácil, mas a jornada das mil milhas começa sempre com um passo.

 

(Fonte: O  Globo )  

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