Diante da larga via europeia antes
aberta para Kiev, a Ucrânia cede às
pressões de gospodin Vladimir Putin e se encaminha para
agregar-se à União Aduaneira com Moscou.
As pressões do Kremlin valeram
tanto para a pequena (e pobre) Moldova quanto para a Ucrânia, um dos maiores países que se
dissociaram da suserania de Moscou, ao ensejo do desaparecimento da URSS, no início da última década do
século vinte.
Para assegurar-lhe
o ingresso no curral russo de União
Aduaneira, o presidente Putin – cuja índole autoritária, após o hiato de
liberdade dos anos de Boris Ieltsin,
tem pesado bastante sobre o sofrido povo russo – teria exercido fortes pressões
sobre o governo de Kiev, inclusive
com a ameaça de retaliação com sanções comerciais a atingirem a Ucrânia
oriental, que constitui a principal base de apoio político para o Presidente Viktor Yanukovytch.
Assim, a
Rússia de Putin acrescentaria à União Aduaneira sob a sua égide a participação
de país de considerável extensão territorial e relevância econômica, o que
implica, de certa forma, em disfarçada reconstituição parcial de sua antiga
esfera de influência.
A Ucrânia
está dividida diante desta encruzilhada.
Enorme e multitudinária manifestação popular, vocalizando a opção pela
Europa ocidental e democrática, foi organizada neste domingo pelos três principais
partidos de oposição. Ocorreu nas principais avenidas da capital Kiev, e,
embora cercada por grande dispositivo de segurança, terminou sem incidentes
diante da sede do Parlamento.
Dela
participaram o UDAR (Aliança
Democrática Ucraniana para a Reforma), com Wladimir
Klitschko (que substituía o ausente líder e campeão de box Vitali Klitschko); o partido Pátria,
cuja líder Yulia Timoshenko continua encarcerada; e por fim o partido nacionalista
Svoboda.
Como o blog
tem amiúde referido, a União Europeia negociara acordo comercial com Kiev, cuja
relevância para o governo do Presidente Viktor Yanukovytch e do Primeiro
Ministro Mykola Azarov se afigura inegável, abrindo para a Ucrânia grandes
correntes de comércio. A assinatura em Vilnius, na Lituânia, desse
importante instrumento comercial, com boas perspectivas de abertura para a
economia ucraniana, fora condicionada à liberação para tratamento de saúde da
condenada política e ex-Primeiro Ministro Yulia Timoshenko.
Dado o
precário estado de saúde da Timoshenko – líder inconteste do principal partido
de oposição a Viktor Yanukovytch – as razões humanitárias sobrelevam inclusive
às políticas, para que o Presidente permita-lhe a saída da Ucrânia para ser
tratada em hospital da Alemanha. A
ex-Primeiro Ministro se encontra em lazareto de Kharkov e padece de grave afecção na coluna.
Através de
uma série de desculpas pretextuosas, o
presidente Yanukovytch vem eludindo há tempos a autorização para que a
Timoshenko receba o indispensável tratamento a que a piora em seu estado de
saúde torna inadiável. Não subsistem dúvidas de que a punição aplicada a Yulia Timoshenko tem motivação política. Ela concorrera com Yanukovytch para a presidência da Ucrânia, e não foram decerto dissipadas as suspeitas sobre a confiabilidade do resultado de eleição renhida e definida por frágil maioria em favor do atual Presidente.
Malgrado
as pressões de Putin, há observadores que explicam a opção de Yanukovytch em
favor da União Aduaneira de Putin, como uma escolha já anunciada. Para o atual
presidente – cuja força política reside precipuamente na região do país mais
ligada a Moscou – não surpreende deveras que conduza esta grande nação à aliança ainda mais estreita com o Kremlin, de que, de resto, participam as
‘democracias’ do Kazakstão e da
Bielorrússia, além da Moldova, país mediterrâneo (landlocked) e de parcos recursos.
Benvindos ao passado, pois!
(Fonte subsidiária: The New York Times)
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