Cota racial para deputados ?
Embora existam
setores na imprensa que tenham procurado examinar com seriedade a proposta de
emenda – como Hélio Schwartsman na Folha – dada a inanidade de o que se
pretende impingir, não pode deixar de assinalar que ‘expandir esse princípio para o Parlamento (...) é complicado, para não
dizer ridículo.’
O princípio da
quota racial para as universidades – que é questionado por muitos – tem
exemplos em outros países e pode servir
função social. Trazê-lo para o Congresso (e os legislativos estaduais),
se esta quota eleitoral para os negros é
demagógica, ridícula e insensata, ela não será rechaçada por tais
características. Basta a sua gritante inconstitucionalidade para jogá-la na
lata de lixo da história.
O Atentado na Praça da Paz Celestial
Na segunda-feira,
28 de outubro, um carro com placas de Xinjiang,
região dita ‘autônoma’ na fronteira oeste da China, explodiu na Praça da Paz
Celestial, provocando a morte dos seus três passageiros, além de um turista
filipino e de uma chinesa da província de Guangdong.
Assim como no
Tibete - cuja grande figura é o Dalai Lama - em que a população desse antigo
país sofre a ocupação chinesa (e a invasão de hordas de chineses da etnia
majoritária han), o Xinjiang é outra área do Império do Meio, em que a população autóctone (os uighurs) se vê submetida a um status colonial, enquanto deva ceder
sempre mais espaços à etnia han.
Os uighures, de
credo muçulmano, procuram resistir ao imperialismo chinês. Tudo leva a crer que
o ‘acidente’ da Praça Tiananmen tenha
sido, na verdade, um atentado suicida, feito para divulgar a resistência do povo uighur contra o domínio chinês.
Entre os restos
carbonizados do veículo foram encontrados vasilhames para gasolina, duas facas,
uma barra de metal e flâmulas com inscrições fundamentalistas islâmicas.
A polícia chinesa
informou que os três pertenciam à mesma família. O motorista, Osman Hasan, estava acompanhado da mãe e
da esposa. Por outro lado, no domicílio de cinco detidos (também oriundos do
Xinjiang) foram encontrados sinais de convocação para a jihad.
Para o regime
comunista chinês, quanto menos notícia acerca da repressão aos uighures e os
distúrbios na área colonizada (hoje anexada à China), melhor.
Compreende-se,
por conseguinte, a indisposição das autoridades ao verem os rebeldes uighures
trazerem problemas para a hoje turística Praça Tiananmen. Como o leitor
decerto não ignora, a referida Praça foi palco de manifestações estudantis
pró-democracia em 1989, até que tudo terminou com o massacre de três de junho.
Depois, salvo erro ou omissão, a referida Praça tinha sido tranquila.
Será que a
insatisfação em certas províncias distantes provocará outros distúrbios naquela
espaçosa praça ? Os suicídios pelo fogo (o ateando às vestes),
como referi em blog anterior, vem
ocorrendo com terrível e trágica persistência nas alturas tibetanas.
Há muitas
diferenças entre os dois povos submetidos ao tacão chinês. O Tibete, terra
antiga, unido pela crença (pacifista) do budhismo, tem etnia com a maiúscula
presença do atual Dalai-Lama, que por sua obra foi galardoado com o Prêmio
Nobel da Paz. A unidade tibetana está construída não só em torno da personalidade do
Dalai-Lama, mas também pela sua unidade no
credo budista. Pelo seu carisma e a despeito do respectivo pacifismo, o
Dalai sofre campanha odienta e contínua de Beijing e dos eventuais sátrapas
chineses em Lhasa.
O Xinjiang está unido ao Tibete pelo
sofrimento que lhe é imposto pelo poder central chinês. Além desta forçada
condição subcolonial, não há outras similitudes entre estas duas regiões da
China.
A fronteira
oeste, anexada por força da última guerra mundial, trouxe para o Império do
Meio mais uma etnia, esta muçulmana e uighur
(relacionada com os turcos, que, como
se sabe, migraram para o ocidente e se apoderaram do Império Bizantino, em
processo plurissecular). Se não têm a mesma exposição, a sua resistência assume
feições mais fortes, ao se verem inundados pelas correntes da etnia han (a majoritária na China), que lhes
abocanha os empregos e as posições. De
donos do próprio nariz, se viram convertidos em servos. E de acordo com a velha
máxima francesa – é um cão muito feroz, quando
o atacam ele se defende!- os vice-reis de Beijing têm a vida difícil quando se demoram neste longínquo confim
do extremo oeste chinês (Hu Jintao, o
presidente chinês que antecedeu, de 2002
a 2012, ao atual Presidente Xin Jinping,
foi um destes).
Cristina Kirchner ganha batalha contra o Clarín
Cristina,viúva
de Kirchner, pode não mais ter a antiga popularidade, mas com o vasto poder que
lhe resta terá conseguido o que em um
país realmente democrático se afiguraria impossível – vale dizer mais do que a
mutilação, a brutal redução da antiga pujança do grupo Clarin a um simples
resto.
Como é
amplamente conhecido, a Corte decidiu por mínima margem (4x3 !), na prática a
pilhagem legal das propriedades na mídia do Grupo. Como se ressaltou, o defunto
Nestor não está morto politicamente, eis que pela via travessa de suas quatro
indicações para a dita Corte Constitucional (que são, ó coincidência feliz)
justamente os votos que, como a espada de Breno, caíram sobre os pratos da
justiça, e transformaram a longa espera
da Viúva Cristina – hoje amargada por tantas derrotas eleitorais, e pelo Sunset Boulevard que se desenha à sua
frente – em mágica reviravolta, que, pensa, lhe há de proporcionar o gozo
inefável da vingança, iguaria indigesta é verdade, e que em geral se come fria.
Pergunto-me, se, na terra de Pindorama, exista situaçâo símile. Há decisões judiciais que
podem ter ares de legalidade – como a condenação pela Suprema Corte Espanhola
do juiz Baltazar Garzón a onze anos de suspensão (até 2021) da magistratura –
mas que entremostram, no seu aparente legalismo, estarem eivadas de injustiça.
Nos últimos
anos, o juiz espanhol – que se celebrizou por lograr que a justiça inglesa
mantivesse por muitos meses em prisão domiciliar o ex-presidente Augusto
Pinochet, então em Londres em visita à amiga Margaret Thatcher. Foi uma
decisão-marco que fez justiça, ainda que tardia, às tantas vítimas do ditador
chileno.
Agora, enquanto o
processo Clarin entra em nova fase, que pode ser traumática para o grupo
familiar que sofreu derrota na Corte Constitucional, mas que, se não me engano,
dificilmente acena adentrar em fase onde tudo seja azul para a Senhora
Presidente.
Nesse contexto,
aquela celebérrima vítima de injusta sentença estaria envolvida com Cristina de
Kirchner. É um desenvolvimento decerto imprevisto e sem lógica, como é
característica do amor.
Cabe-nos
aguardar, porém, como este último caso há de evoluir. A vítima do Tribunal Supremo de Espanha acaso
se relacionará com o algoz do Grupo Clarín, como se propala na mesma mídia que
sofreu tal baque ? O futuro dirá.
Como sempre
nesses casos, os demagógicos cultores da mídia, com a sua falta de princípios
éticos erigida em norma diretora básica, criaram uma situação limite, que levou
à incôngrua união dos principais partidos de Sua Majestade Britânica, pelo
estabelecimento de um órgão regulador da Mídia.
Com a
votação pelo Parlamento, fracassaram na justiça os intentos dos editores de
jornais e revistas para tentar impedir que a chamada “Carta Real” fosse
encaminhada pelo conselho de assessores do governo para aprovação da Soberana.
Como é
sabido, a Rainha não pode dissentir de decisão do Parlamento. Somente por
questões de procedimento e, por conseguinte, adjetivas, a assinatura do
Soberano reinante pode ser postergada.
Como
malogrou a ação dos editores de grandes jornais e revistas (v.g., Daily Mail, The Telegraph, The Mirror, The Times e “The Sunday Times”-
esta uma publicação semanal ), presume-se que doravante a grande imprensa (The Guardian, cuja relevância cresceu
com a difusão das revelações de Edward
Snowden, mantém uma posição de neutralidade) atuará como se a Carta Real, e a introduzida Regulação da
Imprensa, não existissem.
Tal se
afigura posição difícil de ser mantida. Espanta que um país com tamanha
tradição democrática venha a recorrer a este sistema de regulação, que se
pouco tem a ver com a sonhada regulação petista da
imprensa (preconizada – mas felizmente engavetada - por tantos, como Franklin
Martins, José Dirceu et caterva)
sempre traz consigo o germen do controle
estatal e da incipiente censura.
Esta
figura, que no Brasil persiste de forma inconstitucional pelo ramo judicial
(que faz de conta inexistir a cláusula pétrea anti-censura da Constituição
Cidadã),ora se aninha na terra que sucedeu a Atenas Clássica como mãe da
liberdade e da democracia.
A
Organização Independente de Padrões de Imprensa, conquanto estatutariamente
prometa respeitar o direito de expressão,
o sigilo das fontes, e não preveja censura prévia, sem embargo exige respeito à
privacidade onde não há justificativa de interesse público. Nesse sentido,
poderá aplicar multas de até um milhão
de libras.
Muita
vez, o problema não está nas regras, mas sim naqueles que as interpretam. E então, quem sabe, pagarão os justos pelos
pecadores. O News of the World, este tabloide centenário, mas repulsivo nos
seus métodos e ambições, apesar de extinto, semelha muito vivo agora que deixou
o fruto da censura incipiente, mas sempre censura.
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