Forte na
teoria, mas deficiente na prática, seria descrição adequada de Barack
H.Obama, o 44º Presidente dos Estados Unidos da América ?
Existe
prevenção, a que já me referi, do eleitorado americano quanto a um primeiro
mandatário que se defina como intelectual.
O que em outros países é visto como qualidade, na terra de Tio Sam a condição de intelectual não é necessariamente um ponto
positivo na avaliação do eleitor para postulante à Casa Branca.
Por uma série
de fatores, essa característica não foi empecilho para que o Senador por
Illinois vencesse a favorita Hillary
Clinton nas primárias do Partido Democrata para a nomination e, chegado aos comícios de 2008, superasse, sem maiores
dificuldades, o candidato republicano e igualmente Senador, John McCain.
No entanto,
este imprevisto contratempo na implementação da Reforma Sanitária Custeável (Affordable Care Act), que o GOP chama derrisoriamente de Obamacare, constitui, na realidade,
decorrência da personalidade e do estilo político de Barack Obama.
Semelha de difícil compreensão, à primeira
vista, que um problema técnico – na verdade rasteiro – represente óbice para a
implementação do ACA, este grande
esforço legislativo aprovado no primeiro biênio presidencial sem um voto sequer
do Partido Republicano, e, posteriormente, para surpresa de muitos, validado pela
Suprema Corte de maioria conservadora, sob a liderança do Chief Justice (presidente da Corte) John G. Roberts.
Como definir
o que um político democrata corretamente qualificara como simples problemas técnicos na implantação de um site, a controvérsia nacional surgida em
torno da implementação da reforma da saúde ?
Antes de procurar situar, analisar e entender
a matéria, tenha-se presente que nos recentes comícios as dificuldades com o Obamacare foram problema de âmbito nacional, e
contribuíram para aumentar os juízos negativos na opinião pública quanto à sua
qualidade. A tal propósito, muitos senadores da bancada democrata – sobretudo
os que devem enfrentar as urnas em 2014 em estados vermelhos, i.e.,
republicanos – estão inquietos e tentam minorar os supostos aspectos negativos
da reforma através de projetos de lei pontuais.
Por outro
lado, o GOP e, em especial, a facção
extremista do Tea Party, tenta pescar
em águas turvas através de sessões na Câmara de Representantes (com maioria do GOP desde a debacle de 2010) que
exploram a ineficácia na implementação e as dificuldades encontradas pelos
cidadãos que desejam inscrever-se no programa.
Dessa
maneira, um aspecto técnico (a configuração do site do ACA) tem sido usado para desmerecer e, mesmo, ridiculizar a
qualidade e a importância da Reforma da Saúde.
O Presidente
Obama viajou ao Texas para sublinhar uma escolha sectária do governo do Estado
que prejudica a população carente daquela unidade federativa. Por ora, os
republicanos controlam o Texas. Dada a presença maciça de cidadãos de origem
mexicana naquele estado, as possibilidades de a médio prazo o Texas continuar
como um estado vermelho (i.e., republicano) são no mínimo discutíveis. Há uma
luta já em curso nesse sentido, para que no futuro ocupe a governança político
que venha a resgatar a herança de Ann
Richards, a última democrata – foi derrotada por George W.Bush – a ocupar o
governo do Estado da Estrela Solitária.
Por decisão que decerto não consulta o interesse
da população, o governador do estado se recusou a instalar uma câmara (exchange) para o ACA no Texas. Como Obama sublinhou, isto implica em negar tal
benefício a um milhão de pessoas,
atualmente não cobertas pelo seguro médico. Essa decisão sectária, que pode valer-se da falsa polêmica sobre a
implementação da Lei, é decerto etica e politicamente inaceitável.
Como foi referido no blog de sete do corrente, o governador
Steve Beshear, democrata do Kentucky – um estado sulista limítrofe, mostrou
que as dificuldades com o site do ACA
podem facilmente ser vencidas, como estão sendo naquele estado.
Beshear na verdade fez tudo o que a
Secretária da Saúde Kathleen Sebelius
e o próprio Presidente Obama não
fizeram. O Kentucky não esperou que
soasse o prazo limite para a entrada em função do site para testá-lo e operacionalizá-lo. Para tanto, se vale de
auxiliares que orientam os interessados, a ponto de que a câmara daquela
unidade federativa registre já um bom número de inscritos (antes sem qualquer
cobertura). Ao abrir as portas do Medicaid
para os postulantes, se dissipam as polêmicas em torno da Assistência
Custeável.
Salta aos
olhos que estamos diante de um falso problema, criado tanto pela Secretária de
Saúde Sebelius – que deu na respectiva audição pelo Congresso impressão penosa
no que tange ao seu domínio de o que deva ser feito - quanto, pelo próprio Presidente, ao pairar
em autismo que recorda o seu desastroso distanciamento da opinião pública no
primeiro biênio.
É essa
liderança – como conseguir que as coisas sejam feitas – que parece colocar
inaudita dificuldade para Obama. Além de discursar – como foi o intuito de sua
viagem ao Texas – o presidente carece e muito de intervir no plano prático
para, afinal, evidenciar que a dificuldade da aplicação da reforma da saúde decorre,
na verdade, de má-administração (mismanagement),
como definiu o Senador democrata Mark
Begich, do Alasca (um dos mais ameaçados de perder o assento em novembro de
2014): “É absolutamente inaceitável que nos dias de hoje a Administração não
possa, na prática, atender (can’t deliver)
as promessas feitas aos americanos por
causa de problemas técnicos com um site na internet”
É esta dificuldade de lidar com o
prático mas indispensável (nuts and bolts)
que constitui um dos maiores inimigos de Barack H. Obama. Em certas ocasiões, o
Chefe de Governo tem de descer à arena do prático e do elementar. Manter-se
sempre nas alturas da intelectualidade pode implicar – como ocorre no presente
– em dar oportunidade ao adversário político de confundir a opinião pública, e
desmerecer da qualidade de um programa, que só precisa dispor de gente
eficiente (como no Kentucky) para
operacionaliza-lo e, assim, dissipar as inverdades e as calúnias do Tea Party e do próprio GOP contra a Reforma da Saúde.
(Fonte: New York Times)
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