O furacão Sandy – cuja inaudita violência deixou marcas profundas na costa dos
estados de New Jersey e New York – chegado pouco antes das eleições gerais, terá
sido mais um desses parênteses (como a
onda de tornados no Meio-Oeste americano) a provocarem manifestações de políticos em que apenas se
lamenta o desastre natural, sem adotar nenhuma outra providência prática ?
Agora é a vez
do tufão Haiyan. A violência dos elementos continua a crescer,
as doações internacionais se empilham nos armazéns, e, coincidência inaudita, o
devastador fenômeno irrompe de forma coincidente com a conferência das Nações
Unidas sobre o Clima em Varsóvia. Delegados caem em pranto, discursos
emocionados são proferidos, e Naderev
Saño, Chefe da Delegação Filipina, afirma
que, em solidariedade às vítimas da tempestade, ele não se alimentará até que
solução significativa esteja em vista.
As Conferências das Nações Unidas
para enfrentar o desafio climático não têm correspondido às expectativas desde a
de Copenhague, em que Obama compareceu, a par do Segundo da China. Tais
palavrosos encontros têm refletido, não digo o cinismo internacional, mas pelo
menos uma atitude de calculada indiferença coletiva em termos de ações
práticas.
Parece que o
mundo se faz de desentendido do descalabro climático. Na antiguidade clássica,
as tempestades e as devastações decorrentes eram atribuídas às divindades
olímpicas, que careciam de ser propiciadas (por centenas de bois, ovelhas e
muitas fogueiras). Os povos de então, atemorizados pela ira celeste, tomavam as
providências que lhes cabiam como infelizes mortais.
Hoje, os deuses – tanto os celestes, quantos
os ctônicos – foram apeados desse pedestal. Sem embargo, se prolonga
artificialmente a querela entre a responsabilidade humana ou não para o inferno
climático. Com exceção dos que não querem, por motivos pouco confessáveis,
curvar-se diante da óbvia cumplicidade no desastre ambiental do bicho-homem e
são marcada minoria, posto que vociferante. Por sua vez, a Humanidade peca por criminosa inação nas
providências ineludíveis para tentar reduzir tanto o número, quanto a força da
fúria dos elementos.
Para o povo
infeliz das Filipinas, o tufão Yolanda
(heterônimo de Haiyan) veio agravar a
pobreza e a miséria, além de dizimar um número ainda imprecisado de vítimas.
Pelo reduzido aporte que trouxe para a calamidade padecida pelo vizinho país, a
República Popular da China sublinhou não só atitude tacanha, mas também indicou de modo marginal
e indireto o quão pouco tem feito para combater o desafio climático.
Não sei o que
fará da infausta coincidência a Conferência de Varsóvia. Além de palavras, o
que produzirá diante da brutal entrada em cena em reuniões que, em outras
latitudes, se têm assinalado por serem palavrosas, concorridas e, em fim de
contas, ineficazes ?
Pensando bem, a
reação política em face da ameaça climática se, em determinados países se
mostra bem-intencionada, o agregado geral ainda é demasiado deficiente. A par
de esforços isolados, que conjunção de ações efetivas e abrangentes são
discerníveis nos Estados Unidos, na China, na Federação Russa e até mesmo no
Brasil?
Aqui, o
Governo Dilma assistiu impotente à aprovação de um Código Florestal que não honra o nome. Na atualidade, se repete a patacoada da
Amazônia. Dá~se às madeireiras todo o tempo do mundo para derribarem aquelas
partes da Floresta que mais lhe aprouverem, para depois, muito depois que a festa
acabou, virem os ambientalistas aos jornais para anunciar que o desmatamento
está em alta, com uma devastação, acreditem!, de até 20%.
Como se vê,
também no Brasil, nada mudou, em termos de tempo. No passado, porque o
progresso não chegara, essas destruições maciças só poderiam ser realizadas
pelos deuses olímpicos que, felizmente, sempre se abstiveram dessa inútil
exteriorização de bárbara violência.
Hoje, o progresso está entre nós, e com ele a tecnologia criadora de savanas e desertos.
O que me
pergunto é por que os instrumentos da modernidade – e os satélites estão aí, à
disposição _- devam ser sempre restringidos a funções cartoriais, e não a uma
ação preventiva ?
Qual o proveito
de ficar de braços cruzados e nada fazer, para depois chorar lágrimas teatrais
não sobre o leite derramado, mas sobre a floresta invadida, esquadrinhada, e
metodicamente decepada e extirpada? Será
apenas para coordenar-se com a untuosa inação dos órgãos da diplomacia
internacional ?
(Fontes: O Globo, New York Times)
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