domingo, 1 de dezembro de 2013

Colcha de Retalhos A 44

                                      

Estará pronto o site da Assistência da Saúde?

      Depois de dar tratamento burocrático à abertura do site da assistência custeável para a saúde (ACA), a mais importante reforma introduzida por Barack Obama, a Administração empreende um rush final, para colocar a porta de entrada para a inscrição no Obamacare realmente disponível para os usuários, com a previsão de que possa receber 50 mil acessos simultâneos neste domingo, primeiro de dezembro. Serão indispensáveis nesse sentido diversas atualizações e reparações no software para o fim de semana.
     Contudo, para atender aos prazos de inscrição, muito ainda resta a ser feito no site Healthcare.gov, de custo agregado para o Erário no montante de US$ 360 milhões. Os aperfeiçoamentos se destinam a receber a antecipada caudal de pessoas interessadas em adquirir o seguro de saúde do governo. De acordo com os técnicos, sem as mudanças adicionais, o site na internet poderia sofrer disfunções (quedas) em períodos de utilização intensa.

    Este esforço incluíu duas suspensões no site. Para ensejar a instalação dos upgrades (aperfeiçoamentos), ele foi fechado por onze horas na noite de sexta-feira, 29 de novembro. Além disso, na noite deste sábado, 30 de novembro, houve interrupção em quatro horas de tempo extra, necessárias para a manutenção e os retoques finais.
    Diante da delicadeza da situação, a Administração evitou fazer campanha de marketing para dezembro, temerosa de que o site venha a cair diante de súbita elevação no tráfego. Não obstante, ao contrário da displicência burocrática anterior, o desafio da implantação do site teve cinco semanas de trabalho intenso, frenético mesmo, de que resultaram visíveis melhorias para esta câmara federal de inscrição.

    De 24, último domingo de novembro até a quarta-feira 27, cerca de vinte mil usuários lograram inscrever-se no plano de seguro, enquanto durante todo o mês de outubro menos de 27 mil tinham conseguido registrar-se.
    Sem embargo, o ritmo nas inscrições terá de aumentar e muito para atingir a meta fixada pelo governo Obama de sete milhões de inscritos em fim de março (esse número é o fixado pelos asseguradores para distribuir (spread) os riscos e manter baixos os preços do registro).

    Há poucos sites estabelecidos pelos Estados. A maior parte da incumbência recai sobre o site federal (abrangendo 36 estados), com dois terços da população estadunidense  que a ele carecem de recorrer. Essa situação se deve em parte à tentativa de boicote ao Obamacare de parte do Partido Republicano.
     Esse erro do GOP não deixará, no futuro, de criar-lhe embaraços  políticos, eis que salta aos céus a conveniência para o cidadão de dispor da proteção de seguro de saúde.

    Pelo ritmo atual – que é artificialmente lento e pode ser bastante melhorado com esforço tardio, mas intenso da Administração – haveria no prazo de março um total de 1,l milhão de inscritos. Verifica-se, por conseguinte, que a meta de sete milhões de registrados não seria de fácil implementação, se o site se ativesse à sua relativa lentidão atual.
    Contudo, há muitos motivos para crer que, com a progressão na qualidade técnica do site, esse número poderá ser alcançado e até mesmo superado.

      Muito dependerá do resultado do rush para que a avaliação da presidência Obama se recupere, e que as perspectivas para as eleições intermediárias de 2014 sofram uma virada no sentido do Partido Democrata.

   
Pesquisa do Datafolha

 
        Os resultados da segunda pesquisa presidencial do Datafolha depois da abrupta queda de Dilma para 30%, sob o choque das passeatas de junho último,  indicam a relativa recuperação sustentada da Presidente.  Agora o índice de aprovação de seu governo passa de 38% (outubro) para o 42% de agora.

        Dilma bateria todos os concorrentes já no primeiro turno, com a única exceção de Marina.  O esbulho sofrido pela Rede de Sustentabilidade continua, por conseguinte, a pesar e muito no resultado final.

       Enfrentando a Aécio Neves, os totais seriam de 47 % (Dilma) contra 19% (Aécio Neves - PSDB) e 11% de Eduardo Campos (PSB).  Já tendo Marina (26%), como candidata do PSB, a performance de Dilma cai para 42%, mantida a candidatura de Aécio, agora com 15% . Se o candidato do PSDB for Serra, Dilma teria  45% e Serra 22% ( Eduardo Campos manteria os 11%).
          Por fim, cenário relativamente melhor para a oposição está nas candidaturas de Marina (24%)  e Serra (19%), com 41% para Dilma, que é o seu menor percentual nesta pesquisa.

          Diante destes números, as seguintes conclusões se impõem: Dilma ganharia no primeiro turno contra Aécio (cujo candidatura não parece estar decolando) e Campos, e possivelmente contra Serra, quando teria 45% contra 22%.
          Com a inclusão de Marina (PSB?), os totais de Dilma caem para 42% e 41% (neste caso, com a agregação da candidatura Serra).

          Assinale-se, no caso de o PT resolver recorrer a Lula da Silva, ele venceria a disputa sem necessidade de recurso ao segundo turno, com os totais respectivos oscilando entre 52% a 56%.
          Há, por fim, nesta consulta do respeitado instituto Datafolha, um óbvio sinal amarelo para a atual Presidenta.  Dois terços dos consultados dizem preferir que “a maior parte das ações do próximo presidente seja diferente” das adotadas por Dilma Rousseff.

          Tal manifestação do eleitorado se afigura como séria advertência para a Presidenta, e constitui clara abertura a ser explorada por candidato(a) da oposição. A disponibilidade dos consultados de avalizar outros candidatos, desde que ofereçam um rumo mais conforme às aspirações populares não poderia estar expresso de modo mais evidente.

 
Para 2014, segundo Dilma, tudo será melhor

 
           Segundo noticia o caderno de Mercado da Folha, realizou-se reunião secreta no Palácio da Alvorada, para definir os rumos da política fiscal de 2014, e construir assim a “narrativa econômica” de seu governo para fins da eleição presidencial.
         Foram convocados para a reunião os ministros Guido Mantega (Fazenda), Aloizio Mercadante (Educação) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior). Mantega foi, portanto, entre os ministros, o único convidado ratione materiae.[1] O prestígio de Mercadante cresceu muito, máxime em 2013, sendo usado para diversas incumbências que seriam mais da pessoa encarregada da Casa Civil. Por outro lado, Pimentel tem laços de amizade com a Presidenta, que já lhe valeram deveras como no caso das consultorias.

        É de presumir-se, igualmente, que esteve presente no conciliábulo o ex-Ministro do regime militar Antonio Delfim Netto, que tem exercido papel de conselheiro informal da Presidenta.  Quanto ao cumprimento em 2014, da meta do superávit primário – os sucessivos recuos na previsão do superávit para o corrente ano foram prejudiciais à imagem do governo Dilma, sobretudo no que tange à confiabilidade fiscal - parte de sua equipe econômica considera que apenas a Presidente da República teria credibilidade para convencer, de forma taxativa, o mercado de que, a partir de agora, a meta será cumprida.
        Essa tese vem sendo defendida pelo conselheiro informal Delfim Netto, como a única forma de proteger o país de o que chama de “tempestade perfeita” –rebaixamento da nota brasileira (por uma das agências classificadoras americanas) e a disparada do dólar, por causa do fim dos estímulos à economia dos EUA em 2014 (como se antevê seja a orientação de Janet Yellen, a provável nova presidente  do Federal Reserve Bank, a qual deverá suceder a Ben Bernanke na direção do Fed, após aprovada pelo Senado Federal.

           Em crítica indireta à equipe econômica – na qual o mercado não mais acredita quando o assunto é credibilidade fiscal – na avaliação do muy amigo Delfim Netto somente a presidente Dilma Rousseff tem confiabilidade e deveria usá-la para assumir uma meta neste patamar.
           Resta saber se dona Dilma acolherá o conselho do seu colaborador informal. Na avaliação do círculo palaciano o ano que vem será melhor do que 2013, por causa dos investimentos que serão gerados pelos leilões de concessão e porque, até junho, a inflação não deve ser problema.

           De acordo ainda com a reportagem – que presumivelmente reproduz as doutas opiniões das autoridades presentes na dita reunião secreta – o risco está concentrado em julho e agosto, quando a taxa anualizada corre o risco de subir, e isso exatamente nos meses que antecedem a eleição presidencial.

 
Manifestações anti-Yanukovych em Kiev

         Com a reunião da União Européia em Vilnius, na Lituânia, chegando ao fim – e com isso a possibilidade de que o presidente Viktor Yanukovych assine acordo comercial com Bruxelas – realizaram-se manifestações populares na capital ucraniana. Na primeira, houve intervenção da polícia, que bateu em diversos manifestantes.
         Em consequência, revoltados por estarem sendo impedidos de expressarem pacificamente as suas opiniões – e em especial o acordo com a União Europeia que o presidente Yanukovych desdenhou à última hora, optando pela participação na União Aduaneira do presidente Vladimir Putin, da Rússia – milhares de pessoas se congregaram pacificamente em praça central de Kiev, na manhã deste sábado.

         Além de protestar contra o cerceamento da opinião, enfatizado pela violência policial da véspera, o comício manifestou o próprio desagrado com a opção de Yanukovych por Moscou, que fecha a avenida que seria aberta pela assinatura do documento em Vilnius.

          Com isso também correm cinicamente pelo ralo os diversos e inconclusivos acenos do Presidente por uma associação mais estreita com Bruxelas, o que sinalizaria para o povo ucraniano um futuro mais ocidental e democrático, inclusive pela licença de afastamento do país da líder da oposição Yulia Timoshenko, que sofre no lazareto de Kharkov pelos efeitos de condenação politicamente motivada, feita sob medida de seu adversário Yanukovych, para dispor da via desimpedida para a ansiada reeleição.

          Enquanto isso, nesse modo oriental de neutralizar a antagonista – que sofre de sério problema de coluna – se inviabiliza o seu tratamento em hospital digno desse nome.

 

 (Fontes: The New York Times, Folha de S. Paulo)



[1] Em razão da matéria.

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