Apoio de Dilma a Arno Augustin ?
A notícia de O Globo, inserida em página interna do
caderno de Economia, na verdade chove no molhado. Como Dilma Rousseff poderia
decidir não apoiar o secretário do Tesouro, Arno Augustin, se o referido senhor
é uma criatura da Presidenta?
Nos últimos
dias, a imprensa noticiou uma reunião da equipe do Secretário do Tesouro que
não saíu como esperava o senhor Augustin. Nada feito, para Dilma. Augustin, o
secretário do Tesouro, continua prestigiado.
A palavra, se tem um significado equívoco no jargão esportivo (técnico
prestigiado pela diretoria é técnico ameaçado de iminente destituição), e
tampouco foi expressamente dita por Sua Excelência, no entanto, está no ar,
além dos aviões de carreira, na frase de Aporelli.
A pergunta que o
mercado há de fazer-se decorre da avaliação de Dilma segundo a qual “Augustin
ainda tem condições de mostrar aos investidores que o governo está comprometido
com um superávit primário – economia para o pagamento de juros da dívida –
capaz de manter a dívida pública em trajetória de queda.”
Nesse sentido,
para a Presidenta “Augustin e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apontados
como responsáveis pela deterioração das contas públicas, mudaram a política
fiscal a partir do meio do ano, falando publicamente que não haveria mais
manobras para se chegar ao (superávit) primário e suspendendo a política de
desonerações, que vinha reduzindo a arrecadação”.
De acordo com
fonte governamental, “esta equipe que está aí fez uma política até o meio do
ano e outra depois. Isso mostra que as pessoas são maleáveis. Portanto, hoje,
não há intenção de mudar ninguém”.
Nesse contexto,
a rósea visão da unidade da equipe econômica e a propalada mudança na política
fiscal sem manobras para se chegar ao (superávit) primário é comovente, mas
alguma coisa aqui não bate. Como se interpreta a recentíssima tentativa de
utilizar a Caixa Econômica (como antes o BNDES)
para um empréstimo ao Tesouro afim de
abater a dívida contraída o subsídio à conta de luz ? Se a disposição de Augustin (e de Mantega) é
assim tão firme na mudança da política fiscal sem mais maquiagens, porque essa
operação foi mandada às urtigas pela péssima repercussão das primeiras sondagens?
O quadro fica
mais claro se soprarmos o segredinho de Polichinelo. Na verdade, as duas
personagens, tanto o favorito Arno Augustin, quanto o Ministro Mantega, são
executores de uma alegada (e assaz questionável) política fiscal que sai prontinha
da usina de dona Dilma. Tanto um, quanto o outro, dançam conforme a música, e quem
a está compondo e tocando por enquanto é a Presidenta Dilma.
As estatísticas
do Departamento do Trabalho trouxeram boas notícias para os observadores da
economia americana. Em novembro, houve aumento no emprego de 203 mil, bastante
mais pronunciado do que as estimativas anteriores. Com isso, o desemprego cai para o seu mais baixo nível em cinco anos, alcançando
os totais de 2008, vale dizer 7% da força de trabalho.
Ainda há
muito caminho a percorrer para se alcançar números que se insiram na faixa do pleno emprego (em
torno de 5,5%). Existe ainda muito
desemprego (inclusive aquele de longa duração), sobretudo nos setores menos
sofisticados da economia.
No entanto,
a notícia é sem dúvida boa e assaz positiva para a Administração Obama. O
Presidente, decerto, a saudará com entusiasmo, máxime depois da serie de
problemas com as barbeiragens na implantação do site da reforma da saúde, a
qual, diga-se de passagem, a julgar-se pela discrição da mídia, aponta agora para o lado positivo, com a
inegável melhora no site Healthcare.gov
Por outro
lado, boas novas na terra de Tio Sam nem sempre são motivo de idêntico júbilo nas
economias emergentes, como, v.g., o
nosso mercado. Com o melhor desempenho da economia da superpotência, principiam
os rumores sobre eventuais novos procedimentos da Federal Reserve, no que tange à política de estímulos.
Transformadas as condições, os instrumentos da Junta de governadores do Banco
Central americano carecerão de adaptações
às novas circunstâncias econômico-financeiras.
A tendência,
se a recuperação se reforçar e a recessão ficar para trás, aponta para possível
e mesmo provável mudança na política
atual do dólar barato, com os presentes juros, próximos de zero. Se a taxa de
juros do dólar estadunidense for alterada em tal sentido pelo Fed, haverá alguma inquietude em
Pindorama, se o fluxo dos greenbacks
para os novos mercados (leia-se Brasil)
tiver inflexão que, por força do crescimento das oportunidades na maior
economia do planeta, não será exatamente um desenvolvimento em nosso favor, eis
que o fluxo das inversões deverá decrescer.
O dinheiro é
volúvel e está sempre à procura de aplicações mais vantajosas. Essa regra do
Conselheiro Acácio é geral. Só se dão mal aqueles que pensam que as épocas de
ventos favoráveis e de bonança são permanentes.
A Revolução Ucraniana
A suspeita
de grande parte da população é de Yanukovych firmou acordo secreto com Putin.
Malgrado o desmentido do Primeiro Ministro Mykola,
as suas declarações ainda mais contribuíram para aumentar a suspicácia, eis que
este último afirmou que se ‘avançara em
parceria abrangente e estratégica’.
Grande parte
do povo ucraniano depositava esperança no anunciado pacote de acordos políticos
e comerciais com a União Européia. Que Viktor Yanukovych os tenha jogado fora
do dia para a noite, representou uma bofetada na população. A via europeia ocidental
de uma probabilidade teria passado para certeza de progresso tanto no domínio
econômico e comercial, quanto no político (democracia). Na revolução laranja de 2004 já este anelo estava presente, e a
circunstância de que as conquistas (eleição de Yushchenko) não tenham
trazido grandes avanços, permanece o anseio pela democracia.
Daí a
concordância com a liberação de Yulia Timoshenko, dado o manifesto
injusto julgamento de que foi vítima, tão impregnado da judicialização do
regime autoritário russo de Vladimir
Putin.
Como o
Presidente Viktor Yanukovych dispôs
dessa esperança do povo ucraniano, é mais do que compreensível o denodo e a
raiva das multidões que acorrem à capital, para exigir mudanças.
Além do
aumento do poder do Presidente, e a maneira brutal com que mandou às urtigas o
acordo com a União Europeia, a oposição do povo ucraniano está plenamente consciente
de que não pode forçar a renúncia de Yanukovych por meios legais. Daí, as
reivindicações se tenham orientado para exigir a renúncia do também impopular Mykola Azarof, o primeiro ministro de
Yanukovych, e de cambulhada todo o gabinete ministerial.
Como o
número dos manifestantes só tem feito crescer, compreende-se as cautelas do
poder simbolizado por Yanukovych.
Hoje está prevista na principal praça de Kiev uma grande manifestação, e os
comitês informais de liderança contam com a possibilidade de que se reúna um
milhão de pessoas.
Esse
número – que obviamente é impossível de ser computado aritmeticamente – pode,
no entanto, impor-se pelo flagrante afluxo de gente e pela avassaladora aparência
da realidade. Esta mágica conjunção, se acaso sentida pelos partícipes, poderá
criar situação revolucionária. Como na revolução
laranja, o movimento de agora escreverá as próprias regras, mormente se se
tornar presente e real a formação desse mítico quórum do repúdio da massa aos acordos secretos de Yanukovych e à
sua manifesta intenção de impor fatos consumados ao Povo, que nas ruas, praças
e espaços públicos se crê soberano, e quer democracia com mais Ocidente, e
menos Kremlin e a mediocridade da
União Aduaneira mercadejada por gospodin
Putin.
(Fontes: Folha de S. Paulo; O Globo;
The New York Times)
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