domingo, 8 de dezembro de 2013

Colcha de Retalhos A 45

                                    

Apoio de Dilma a Arno Augustin ?

      A notícia de O Globo, inserida em página interna do caderno de Economia, na verdade chove no molhado. Como Dilma Rousseff poderia decidir não apoiar o secretário do Tesouro, Arno Augustin, se o referido senhor é uma criatura da Presidenta?
      Nos últimos dias, a imprensa noticiou uma reunião da equipe do Secretário do Tesouro que não saíu como esperava o senhor Augustin. Nada feito, para Dilma. Augustin, o secretário do Tesouro, continua prestigiado. A palavra, se tem um significado equívoco no jargão esportivo (técnico prestigiado pela diretoria é técnico ameaçado de iminente destituição), e tampouco foi expressamente dita por Sua Excelência, no entanto, está no ar, além dos aviões de carreira, na frase de Aporelli.

      A pergunta que o mercado há de fazer-se decorre da avaliação de Dilma segundo a qual “Augustin ainda tem condições de mostrar aos investidores que o governo está comprometido com um superávit primário – economia para o pagamento de juros da dívida – capaz de manter a dívida pública em trajetória de queda.”
      Nesse sentido, para a Presidenta “Augustin e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apontados como responsáveis pela deterioração das contas públicas, mudaram a política fiscal a partir do meio do ano, falando publicamente que não haveria mais manobras para se chegar ao (superávit) primário e suspendendo a política de desonerações, que vinha reduzindo a arrecadação”.

      De acordo com fonte governamental, “esta equipe que está aí fez uma política até o meio do ano e outra depois. Isso mostra que as pessoas são maleáveis. Portanto, hoje, não há intenção de mudar ninguém”.
      Nesse contexto, a rósea visão da unidade da equipe econômica e a propalada mudança na política fiscal sem manobras para se chegar ao (superávit) primário é comovente, mas alguma coisa aqui não bate. Como se interpreta a recentíssima tentativa de utilizar a Caixa Econômica (como antes o BNDES) para um empréstimo ao Tesouro afim de abater a dívida contraída o subsídio à conta de luz ?  Se a disposição de Augustin (e de Mantega) é assim tão firme na mudança da política fiscal sem mais maquiagens, porque essa operação foi mandada às urtigas pela péssima repercussão das primeiras sondagens?

       O quadro fica mais claro se soprarmos o segredinho de Polichinelo. Na verdade, as duas personagens, tanto o favorito Arno Augustin, quanto o Ministro Mantega, são executores de uma alegada (e assaz questionável) política fiscal que sai prontinha da usina de dona Dilma. Tanto um, quanto o outro, dançam conforme a música, e quem a está compondo e tocando por enquanto é a Presidenta Dilma.

 
O Brasil e as boas Notícias na Economia Americana

 
        As estatísticas do Departamento do Trabalho trouxeram boas notícias para os observadores da economia americana. Em novembro, houve aumento no emprego de 203 mil, bastante mais pronunciado do que as estimativas anteriores.  Com isso, o desemprego cai para o seu mais baixo nível em cinco anos, alcançando os totais de 2008, vale dizer 7% da força de trabalho.
         Ainda há muito caminho a percorrer para se alcançar números  que se insiram na faixa do pleno emprego (em torno de 5,5%).  Existe ainda muito desemprego (inclusive aquele de longa duração), sobretudo nos setores menos sofisticados da economia.

          No entanto, a notícia é sem dúvida  boa  e assaz positiva para a Administração Obama. O Presidente, decerto, a saudará com entusiasmo, máxime depois da serie de problemas com as barbeiragens na implantação do site da reforma da saúde, a qual, diga-se de passagem, a julgar-se pela discrição da mídia,  aponta agora para o lado positivo, com a inegável melhora no site Healthcare.gov
          Por outro lado, boas novas na terra de Tio Sam nem sempre são motivo de idêntico júbilo nas economias emergentes, como, v.g.,  o nosso mercado. Com o melhor desempenho da economia da superpotência, principiam os rumores sobre eventuais novos procedimentos da Federal Reserve, no que tange à política de estímulos. Transformadas as condições, os instrumentos da Junta de governadores do Banco Central americano carecerão de adaptações  às novas circunstâncias econômico-financeiras.

          A tendência, se a recuperação se reforçar e a recessão ficar para trás, aponta para possível e mesmo provável  mudança na política atual do dólar barato, com os presentes juros, próximos de zero. Se a taxa de juros do dólar estadunidense for alterada em tal sentido pelo Fed, haverá alguma inquietude em Pindorama, se o fluxo dos greenbacks para os novos mercados (leia-se Brasil) tiver inflexão que, por força do crescimento das oportunidades na maior economia do planeta, não será exatamente um desenvolvimento em nosso favor, eis que o fluxo das inversões deverá decrescer.

         O dinheiro é volúvel e está sempre à procura de aplicações mais vantajosas. Essa regra do Conselheiro Acácio é geral. Só se dão mal aqueles que pensam que as épocas de ventos favoráveis e de bonança são permanentes.

 

 A Revolução Ucraniana

 
          Passam as semanas e as manifestações continuam a crescer em Kiev. Aumentou a indignação do povo com a recente reunião entre os presidentes Viktor Yanukovych e Vladimir Putin. Vindo da China, Yanukovych encontrou-se com o presidente russo em Sochi. Embora as autoridades neguem, existe a forte suspeita de que os dois líderes teriam chegado a um acordo, em que o ingresso da Ucrânia na Zona Aduaneira seja agilizado com a concessão de vantagens no gás ( que Kiev adquire da Rússia) e outras mais não especificadas.

          A suspeita de grande parte da população é de Yanukovych firmou acordo secreto com Putin. Malgrado o desmentido do Primeiro Ministro Mykola, as suas declarações ainda mais contribuíram para aumentar a suspicácia, eis que este último afirmou que se ‘avançara  em parceria abrangente e estratégica’.

          Grande parte do povo ucraniano depositava esperança no anunciado pacote de acordos políticos e comerciais com a União Européia. Que Viktor Yanukovych os tenha jogado fora do dia para a noite, representou uma bofetada na população. A via europeia ocidental de uma probabilidade teria passado para certeza de progresso tanto no domínio econômico e comercial, quanto no político (democracia). Na revolução laranja de 2004 já este anelo estava presente, e a circunstância de que as conquistas (eleição de Yushchenko) não tenham trazido grandes avanços, permanece o anseio pela democracia.

            Daí a concordância com a liberação de Yulia Timoshenko, dado o manifesto injusto julgamento de que foi vítima, tão impregnado da judicialização do regime autoritário russo de Vladimir Putin.
            Como o Presidente Viktor Yanukovych dispôs dessa esperança do povo ucraniano, é mais do que compreensível o denodo e a raiva das multidões que acorrem à capital, para exigir mudanças.

             Além do aumento do poder do Presidente, e a maneira brutal com que mandou às urtigas o acordo com a União Europeia, a oposição do povo ucraniano está plenamente consciente de que não pode forçar a renúncia de Yanukovych por meios legais. Daí, as reivindicações se tenham orientado para exigir a renúncia do também impopular Mykola Azarof, o primeiro ministro de Yanukovych, e de cambulhada todo o gabinete ministerial.

              Como o número dos manifestantes só tem feito crescer, compreende-se as cautelas do poder simbolizado por Yanukovych. Hoje está prevista na principal praça de Kiev uma grande manifestação, e os comitês informais de liderança contam com a possibilidade de que se reúna um milhão de pessoas.

              Esse número – que obviamente é impossível de ser computado aritmeticamente – pode, no entanto, impor-se pelo flagrante afluxo de gente e pela avassaladora aparência da realidade. Esta mágica conjunção, se acaso sentida pelos partícipes, poderá criar situação revolucionária. Como na revolução laranja, o movimento de agora escreverá as próprias regras, mormente se se tornar presente e real a formação desse mítico quórum do repúdio da massa aos acordos secretos de Yanukovych e à sua manifesta intenção de impor fatos consumados ao Povo, que nas ruas, praças e espaços públicos se crê soberano, e quer democracia com mais Ocidente, e menos Kremlin e a mediocridade da União Aduaneira mercadejada por gospodin Putin.

 

(Fontes:  Folha de S. Paulo;  O Globo;  The New York Times)

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