Todos os prêmios com que foi galardoado Nelson Mandela como que se apequenam diante da grandeza do personagem.
Não nascido
em berço de ouro, Mandela pela trajetória de vida e a capacidade de assimilar
lições mostra que um ser humano feito com o barro que moldou Madiba pode
surpreender não só correligionários, mas também os adversários e até mesmo seus
algozes.
A história da
vida de Mandela é relevante menos pelos anos de sofrimento e de forçada
reclusão, do que pela resposta que soube encontrar, em vários momentos
determinantes de sua existência.
Arnold Toynbee em sua obra[1],
hoje esquecida (quem sabe temporariamente), nos mostra a importância nas
civilizações não só do desafio (challenge),
senão e sobretudo da resposta (response).
Dessarte, a História nos ensina que o êxito reside na qualidade e na inventiva
da resposta.
Na vida de
Mandela se patenteia com demasiada força que os desafios – e que desafios! prisão
perpétua, depois comutada - não foram obstáculos, mas na verdade degraus para
que surgisse o político Nelson Mandela.
Sempre com
generosidade e firmeza, venceu a todos os óbices (sem falar do regime do apartheid, os abusos da segunda esposa[2] e
parentes, a resistências de antigos co-militantes) e caminhou para lograr o que
muitos reputavam impossível, a união de negros e brancos.
Após derrotar
a Frederik de Klerk, no pleito de
1994, não fundou a própria ação na vingança,
mas sim na reconciliação. Teve a
força necessária de controlar pelo exemplo e a autoridade franjas provocadoras na comunidade negra, que
buscavam, na suposta justiça retributiva, enveredar pela senda sem retorno do
ódio, da contraposição e da desagregação social.
Ao enjeitar
a caça às feiticeiras, teve a indispensável firmeza de dar o exemplo, confirmando as autoridades constituídas
no seu respeito às instituições. Para tanto, não lhe faltou carisma, nem
coragem, e tampouco inventiva, como demonstraria na utilização do campeonato
mundial de rugby, antes esporte da
minoria branca, como forma de soldar a união de todas as camadas populares –
negros e brancos. Com empenho, denodo e a personalidade do líder, pelo exemplo e a
equanimidade, soube conduzir e possibilitar, diante do público multirracial nos
estádios, a difícil, quase impossivel vitória-símbolo da União Sul Africana
sobre a equipe adversária, a temível Nova Zelândia.
Os
presidentes sul-africanos que o sucederam – Thabo
Mbecki que enxergou a Aids
através do prisma racial, uma desculpa no seu entender, para reforçar
estereótipos de africanos como primitivos e incapazes de controlar a libido. Ao
combater a suposta centralidade dessa visão estereotipada, caíu presa de
charlatães, acreditando até em que o flagelo da Aids pudesse ser vencido através de remédios tribais; e Jacob
Zuma, com as façanhas conjugais e a maneira constrangedora de
instrumentalizar diante da mídia as aparições do nonagenário Mandela
combalido e contrafeito – nos mostram que são feitos de outra matéria que
Nelson Mandela.
A dizer
verdade, Mandela não carece deles para nada. O que dói é que com a partida de Madiba, a mediocridade ora se afirma como
a prevalente realidade na União Sul-Africana.
Pois os
grandes homens, quando caídos parecem ainda maiores.
(Fonte subsidiária:
Folha de S. Paulo)
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