Segundo os
especialistas em Ucrânia, esta antiga república soviética acha-se dividida
demograficamente em componentes bastante equilibrados. Se na área oeste do
país, a preferência é pelo Ocidente, já na área oriental o é pela Rússia. Nesse
contexto, em todo o país, perguntados acerca da questão central da presente crise
em que se debatem Presidente, partidos políticos, manifestantes e a própria
população em geral, a consulta sinalizou que 37% são a favor da União Europeia e 33%, da União Aduaneira com a Rússia.
Por força dos
problemas fiscais ucranianos, se julga que o presidente Vladimir Putin, na sua
disputa com Bruxelas, estaria assumindo consideravel risco ao subscrever o equivalente a quinze bilhões
de dólares de títulos da dívida de Kiev,
além de oferecer o substancial desconto no preço do gás natural (exportado pela
Rússia para a Ucrânia) de 25%, a par
de outras vantagens oferecidas a Kiev. Todo este pacote implicaria na adesão
pela Ucrânia da União Aduaneira com a Rússia (de que participam a Bielorrússia
e o Kazakstão). A pergunta que fica no ar é se Yanukovych poderá resistir à
reação das multidões que na Praça da Independência de Kiev contestam justamente
a sua liderança, por preferir Moscou a Bruxelas.
Se Viktor
Yanukovych é refutado pela maioria em Kiev, os especialistas em Ucrânia
recordam que este presidente fora eleito por doze milhões e quinhentos mil
votos em 2010, com a proposta de restaurar os laços com a Federação Russa.
A sua
principal adversária naquele pleito foi Iulia Tymoshenko, tendo sido a
contagem dos sufrágios contestada em certas áreas. Verifica-se, outrossim, pelo
cômputo geral, que o pleito foi assaz renhido, eis que a Tymoshenko obteve um
total de 45,47% (apenas três pontos percentuais a menos do que o rival
eleito).
Aí está a
verdadeira razão de todas as indignidades judiciárias que o regime de
Yanukovych tem manipulado para agrilhoar a candidata com as tranças camponesas.
No próximo pleito presidencial, marcado para 2015, Yanukovych quer ver o diabo,
mas não Yulia Timoshenko, pela real ameaça que ela representa para a sua
candidatura à reeleição.
Da
judicialização das disputas políticas nos países da antiga órbita soviética, a
Tymoshenko constitui o exemplo mais escandaloso. O recém-eleito Yanukovych
obteve de um dócil juiz pesada pena para a sua mais séria (e, portanto, mais
temível) rival. Todas as tentativas – inclusive da União Europeia – de pôr um
termo a tal escândalo judiciário – a ex-primeira ministra continua encarcerada
no lazareto de Kharkov – tem sido
contornadas pelo presidente. Para os dirigentes oposicionistas, Yanukovych pode
até mostrar seletiva clemência, mas tais anistias mais servem para falsear o
problema maior – a injusta prisão da Tymoshenko – e assim mostrar um suposto
mas espúrio espírito de conciliação. Como o óbvio escopo é mantê-la presa, tudo
não passa de um cínico espetáculo em que tudo é válido para Viktor Yanukovych, desde
que sua adversária-mor continue presa.
(Fontes: The New York Times; Folha de S. Paulo )
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