segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Rescaldo do Fim de Semana

                                   

Berlusconi tem algo a ver com Mensalão ?

            Com o seu habitual cinismo, Silvio Berlusconi quis comparar a própria expulsão do Senado com perseguição política.  A sua tentativa anterior de derrubar o gabinete de coalizão, encabeçado pelo jovem político da Esquerda, Enrico Letta, ao ensejo da confirmação definitiva da condenação judicial, já falhara miseravelmente.
           Agora a saída forçada de Palazzo Madama (a sede do Senado), ele tenta impingi-la como se fora  perseguição política’. O cavaliere tenta demonstrar revolta – o dia é definido como “de luto para a democracia”, e para completar a encenação uma faixa foi colocada diante da suntuosa residência romana (Palazzo Grazioli), com os dizeres “É golpe de Estado”.

           Berlusconi, ao aprontar o que o italiano comum define como sceneggiata   (atitude artificial), há de motivar um número cada vez mais reduzido de partidários. Todos sabem que foi condenado pela Justiça italiana, depois de valer-se de todos os recursos e os melhores advogados.
           A sua própria fisionomia de canastrão não impressiona deveras, eis que nem ele logra transmitir a impressão de que esteja levando tais argumentos a sério.

           O interessante é que a sua tática defensiva tem muitas semelhanças com o escândalo do Mensalão, i.e., com os figurões petistas colhidos pela Ação Penal 470, que procuram passar para a sociedade a imagem de que são ‘perseguidos políticos’. Não se tem dúvida de que os braços levantados de José Dirceu e José Genoino são gestos patéticos, feitos para o grupo petista, assim como a mão levantada, com um vago aceno não se sabe para quem, do pluri-condenado Berlusconi, que com o seu partido Força, Itália, quer porque quer voltar à política, por motivos cada vez mais óbvios.
           A fábula de Berlusconi parece encaminhar-se para o fim de seu longo domínio sobre a política italiana. O populismo desvairado do Cavaliere, assim como os diversos episódios de corrupção hão de espantar no futuro, com a singela pergunta de como foi possível que um Primeiro Ministro e um líder relevante tenha carecido de fazer tantas, antes de ter a sua vitoriosa progressão enfim atolada no chavascal do continuado abuso de tudo – ou quase tudo – que um político não é suposto fazer.

 
Alemanha: de novo a grande coalizão.


             O principal obstáculo às negociações entre a Chanceler Angela Merkel, da C.D.U.,  e a liderança da S.P.D. (sociais democratas) estava no resultado negativo da última grande coalizão para esses últimos.

             Apesar de sua esmagadora vitória, a Merkel não logrou obter a maioria absoluta para o Bundestag (assembleia federal), o que ocorreu pelo malogro do F.D.P. (os liberais democratas), que não conseguiram superar a barreira dos 5%. Em consequência disso, os habituais sócios minoritários dos cristãos democratas morreram na praia. Dai a dificuldade em obter a concordância da SPD, e o longo tempo consumido pelas negociações interpartidárias.
             A principal exigência da SPD foi a da criação do salário mínimo (Euros 8.50R$ 26,35, por hora). Atualmente, cerca de 17% dos assalariados não ganham tal soma. Outras vantagens arrancadas pelos sociais-democratas são o compromisso de aperfeiçoar o sistema previdenciário e a concessão de dupla nacionalidade para filhos de imigrantes nascidos no país (os turcos são a principal minoria).

              A Chanceler declarou que manterá o controle das finanças, aumentando investimentos em educação, pesquisa e infraestrutura.
               Por exigência da SPD, será necessário que o acordo CDU-SPD para a grande coalizão seja referendado pelos 470 mil filiados dos sociais democratas.

               Se a coalizão passar por esta última barreira, o gabinete presidido pela Merkel terá 504 votos dos dois partidos (na verdade três, pois há também a CSU, que é a União Cristã da Baviera) dos 631 membros do Bundestag.   Tal votação que afinal dará  à Alemanha  um gabinete com o  referendo da maioria do Parlamento está marcada para 17 do corrente mês de dezembro.

 

(Fonte:  Folha de S. Paulo)

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