Berlusconi tem algo a ver com Mensalão ?
Com o seu
habitual cinismo, Silvio Berlusconi quis comparar a própria expulsão do Senado
com perseguição política. A sua
tentativa anterior de derrubar o gabinete de coalizão, encabeçado pelo jovem
político da Esquerda, Enrico Letta, ao ensejo da confirmação definitiva da
condenação judicial, já falhara miseravelmente.
Agora a saída
forçada de Palazzo Madama (a sede do
Senado), ele tenta impingi-la como se fora
‘perseguição política’. O cavaliere tenta demonstrar revolta – o dia
é definido como “de luto para a democracia”, e para completar a encenação uma
faixa foi colocada diante da suntuosa residência romana (Palazzo Grazioli), com os dizeres “É golpe de Estado”.
Berlusconi,
ao aprontar o que o italiano comum define como sceneggiata (atitude artificial), há de motivar um número cada
vez mais reduzido de partidários. Todos sabem que foi condenado pela Justiça
italiana, depois de valer-se de todos os recursos e os melhores advogados.
A sua
própria fisionomia de canastrão não impressiona deveras, eis que nem ele logra transmitir
a impressão de que esteja levando tais argumentos a sério.
O
interessante é que a sua tática defensiva tem muitas semelhanças com o
escândalo do Mensalão, i.e., com os figurões petistas colhidos pela Ação Penal 470, que procuram passar para
a sociedade a imagem de que são ‘perseguidos políticos’. Não se tem dúvida de
que os braços levantados de José Dirceu
e José Genoino são gestos patéticos,
feitos para o grupo petista, assim como a mão levantada, com um vago aceno não
se sabe para quem, do pluri-condenado Berlusconi, que com o seu partido Força, Itália, quer porque quer voltar à política, por motivos cada vez
mais óbvios.
A fábula
de Berlusconi parece encaminhar-se para o fim de seu longo domínio sobre a
política italiana. O populismo desvairado do Cavaliere, assim como os diversos
episódios de corrupção hão de espantar no futuro, com a singela pergunta de
como foi possível que um Primeiro Ministro e um líder relevante tenha carecido
de fazer tantas, antes de ter a sua vitoriosa progressão enfim atolada no
chavascal do continuado abuso de tudo – ou quase tudo – que um político não
é suposto fazer.O principal obstáculo às negociações entre a Chanceler Angela Merkel, da C.D.U., e a liderança da S.P.D. (sociais democratas) estava no resultado negativo da última grande coalizão para esses últimos.
Apesar
de sua esmagadora vitória, a Merkel não logrou obter a maioria absoluta para o Bundestag (assembleia federal), o que ocorreu
pelo malogro do F.D.P. (os liberais
democratas), que não conseguiram superar a barreira
dos 5%. Em consequência disso, os habituais sócios minoritários dos
cristãos democratas morreram na praia. Dai a dificuldade em obter a
concordância da SPD, e o longo tempo
consumido pelas negociações interpartidárias.
A
principal exigência da SPD foi a da criação
do salário mínimo (Euros 8.50 – R$ 26,35, por hora). Atualmente, cerca
de 17% dos assalariados não ganham tal soma. Outras vantagens arrancadas pelos
sociais-democratas são o compromisso de aperfeiçoar o sistema previdenciário e
a concessão de dupla nacionalidade para filhos de imigrantes nascidos no país
(os turcos são a principal minoria).
A
Chanceler declarou que manterá o controle das finanças, aumentando
investimentos em educação, pesquisa e infraestrutura.
Por
exigência da SPD, será necessário que o acordo CDU-SPD para a grande coalizão seja referendado pelos 470 mil filiados dos sociais democratas.
Se a
coalizão passar por esta última barreira, o gabinete presidido pela Merkel terá
504 votos dos dois partidos (na
verdade três, pois há também a CSU,
que é a União Cristã da Baviera) dos 631
membros do Bundestag. Tal votação
que afinal dará à Alemanha um gabinete com o referendo da maioria do Parlamento está
marcada para 17 do corrente mês de dezembro.
(Fonte: Folha de S. Paulo)
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