quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Trincheiras da Liberdade (X)

                                  
Manifestações na Ucrânia

 
       Os manifestantes ucranianos se preparam para  longa estada nos salões da prefeitura de Kiev. Com efeito, mesmo antes da entrada do inverno boreal, as temperaturas já estão bastante gélidas sobretudo à noite (15° graus abaixo não surpreende). Trouxeram, portanto, sacos utilizados para acampar, de modo a melhor enfrentarem o frio noturno.

       O Presidente Viktor Yanukovych, atualmente em visita a Beijing, procura manter-se informado sobre a evolução da situação em seu país. Enraivecidos pela súbita mudança de posição do governo, em atenção às pressões do Kremlin, para que a Ucrânia também se alinhasse na União Aduaneira de gospodin Putin, irromperam protestos em diversos centros desse grande país (que se libertou de Moscou, com a dissolução da URSS em 1991).
       A comparação com a revolução laranja de 2004, irada reação do povo diante das demasiadas fraudes na eleição de Yanukovych para presidente tende a prenunciar um cenário diverso para a evolução da crise.

      Então, o segundo turno de votação se realizara em dezessete dias, com o subsequente triunfo de Yushchenko sobre Yanukovych. Desta feita, os prazos deverão ser mais longos, mesmo na hipótese de que os manifestantes quebrem a resistência do regime.
      Defrontados com a abrupta reviravolta de Yanukovych, cancelando a última hora o amplo acordo comercial com Bruxelas, resultado de longas negociações, optando pelo abraço do urso russo, boa parte da população saiu às ruas, tangida por  profundo desagrado, em especial pela expectativa de futuro mais promissor pela abertura com o Ocidente. Para quem via na associação com a U.E., encetada por acordo comercial, a promessa de melhores perspectivas tanto econômicas, quanto políticas, foi duro e determinante golpe a súbita mudança do governo Yanukovych, voltando à velha aliança, não importa se  sob o knut[1] de fortes  pressões russas, seja mesmo por tardio repensamento político.

      Não se deveria esquecer, nesse contexto,  a prometida liberação da prisioneira do lazereto de Kharkov, a ex-Primeira Ministra Yulia Timoshenko, de início para tratamento da coluna em hospital alemão, que era uma das condições de validação do acordo a ser assinado na reunião de Vilnius, na Lituânia.
     São conhecidos os laços de Viktor Yanukovych com Moscou, eis que o seu partido cultiva o apoio de parte de população ucraniana que ainda emprega o idioma russo, e que tem laços mais estreitos com o antigo poder imperial e comunista. Nesse sentido, para boa parte dos ucranianos é  proposta com ressaibo do passado adentrar a União Aduaneira sob a égide de Moscou. Para a intelligentsia e boa parte da opinião pública é uma opção que recende muito da antiga Ucrânia, província do império russo.
        A própria constituição da dita União Aduaneira, com o seu viés autoritário, e a associação forçada de pequenos países sem condições de resistir às ameaças (e retaliações de Moscou) não constitui proposta para motivar boa parte do povo ucraniano. Como se sabe, a União Aduaneira conta com a participação da Bielo-Rússia e do Kazaquistão, além de pequenos países como os “convidados” Moldova e Armênia. O sonho democrático não convive bem com este súbito retrocesso.

         Por isso o entusiasmo dos manifestantes e a sua disposição de enfrentar as asperezas das noites passadas nos amplos salões da prefeitura. Dada a experiência pregressa, os populares que mergulharam nesse projeto exigem a saída do presidente Viktor Yanukovych, a demissão do Primeiro Ministro e de todo o gabinete.

        Têm eles como seu norte a revolução laranja. Resta verificar se desta feita a evolução lhes será uma vez mais favorável. Nesse sentido, vieram preparados para a Prefeitura de Kiev. Montaram todo um esquema de armadilhas (booby-traps) que não são letais, mas atrapalhariam deveras o avanço das forças da polícia e assemelhados.

 

Visita do Vice-Presidente Joe Biden a Beijing.

 
        Com sua conhecida desenvoltura, em entrevista com o presidente Xi jinping, Biden foi bastante enfático em manifestar a preocupação americana com as recentes medidas pela República Popular da China de zona aérea de identificação. Causou apreensão na região o modus faciendi desse estabelecimento (na área relativa às ilhas de ocupação japonesa e cuja posse territorial é disputada pela RPC e outros países), eis que o governo de Beijing procedeu de forma súbita e sem qualquer aviso.

      Outro tópico levantado em sua conversação com o líder chinês se reporta à situação dos correspondentes estadunidenses do New York Times e do Bloomberg News.

      Em função da reportagem investigativa publicada pelo New York Times, com extensa cobertura dos negócios de familiares do antigo Primeiro Ministro chinês Wen Jiabao.  Às considerações sobre a riqueza da família do ex-Primeiro Ministro se seguiram problemas com situação consular dos repórteres da sucursal chinesa do New York Times. A questão se arrasta desde o ano passado e há indicações de que o visto dos correspondentes não será renovado, o que, na prática, implicaria no fechamento virtual da representação do grande jornal nova-iorquino.

      Também os sites do New York Times (em chinês e em inglês) e do Bloomberg News estão bloqueados desde então.

      Por sua vez, o Bloomberg News  tem ameaçados igualmente os membros de sua representação de virtual expulsão (pela não-renovação do visto). Por outro lado, terá sido por pressão governamental chinesa que o serviço Bloomberg decidiu não publicar as próprias investigações a respeito dos laços dos líderes do Partido Comunista chinês com Wang Jianlin, o homem mais rico da China.

 

(Fontes: New York Times;  O  Globo; Rede Globo )



[1] Açoite, chicote.

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