Entram e saem prefeitos e governadores no Rio
de Janeiro (cidade e estado), as suas promessas e providências serão sempre as
mesmas, com as chuvas alagando grandes extensões – de preferência, a periferia
da antiga capital e a Baixada. A região serrana treme no anúncio de fortes
aguaceiros. Entra ano, sai ano, o cenário não costuma mudar muito. Seja na
inclemência das tempestades de verão, que alagam ruas com bueiros entupidos, os
muitos rios vicinais viram impetuosas torrentes, capazes de invadir pobres
casas e até afogar infelizes, seja nos desastres maiores, com direito a inundar
avenidas, ilhar veículos sem distinção entre calhambeques e carros de último
tipo, e até flamantes ônibus e caminhões com suculentas, irresistíveis cargas
para os saques do anônimo povo de comunidades e vilas sem saneamento básico,
sempre candidatas às perenes águas altas, que vem para carregar camas, mobílias
e eletrodomésticos, comprados a suadas, sofridas prestações ou até com
programas do governo federal...
Em meio aos mortos
e desaparecidos, que variam nas cruéis tabulações, as coberturas de reportagem,
com direito a interromper até novela, há sempre uma constante. A séria,
confrangida fisionomia das autoridades, municipais e até estaduais, que ali
estão, solícitas e disponíveis, para dizer o quanto lamentam o desastre
natural, a inundação, o soterramento ou o que valha. Dos mais velhos, quem não
se lembra de Ulysses Guimarães e a turba malta de acompanhantes, se esgueirando
em cima de trilha precária, para expressar em Petrópolis a solidariedade da
vez... E as ocasiões variam, dependendo da localização e da gravidade do
sinistro ou até calamidade pública, mas o cenário básico, fundamental desse
grande teatro existencial, não. A presença da autoridade, federal, estadual ou
municipal se ajusta à maravilha ao impacto e às consequências do desastre.
Depois da chuva e dos fenômenos decorrentes, tampouco há originalidade nas promessas
e nos compromissos. Naquele momento solene - sob as câmaras e olhares
circunspectos – o céu é o limite (sem trocadilhos, por favor).
Mas, com o passar
do tempo e das desgraças, a dúvida, e mesmo algum ceticismo, poderão ser
imaginados no olhar do flagelado. Enfim, passa o tempo, mas não a lembrança da
tragédia, incômoda e desagradável, na circunstância de arranchar-se em
precários galpões e abrigos, em que a situação de propriedade desaparece e nada
é de ninguém. A corrupção, mesmo não convidada, se faz presente: no furto das
doações, no desvio dos fundos para grandes e definitivas obras, mas sobretudo
na continuada desatenção no saneamento básico, nas tubulações de escoamento das
águas pluviais, em tudo o mais o que já foi feito nos bairros nobres, e que a
burocracia faz emperrar nas zonas da periferia, onde a coleta do lixo pode ser
moeda de troca, e até de vingança eleitoral...
A pobreza são os
pés de barro de uma elite que pode chorar, na véspera de eleições e sob o
chicote de situações de calamidade pública. Eis apelativo altissonante que quer impressionar o grande público, mas
não engana povão e as vítimas. Nesse pomposo título vêem arremedo de
sentimento, que costuma evaporar-se sob o sol inclemente das tarefas e deveres
de uma vida que infelizmente tem o mais que fazer do que amofinar-se com
tragédias da véspera...
(Fontes subsidiárias:
O Globo, Rede Globo, Folha de S. Paulo)
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