domingo, 29 de dezembro de 2013

Revista da Semana (III)

                           

 A pichação de Drummond

          Estórias que acabam bem podem ser úteis.  O poeta Carlos Drummond de Andrade sofria sob a triste ignorância dos que lhe roubavam o par de óculos. Agora foi a vez da burrice militante da pichação, que acabou com a identificação do par de suspeitos – Pablo Lucas Faria, comerciante de Uberaba (MG), que vive no Rio, e a namorada Mel.
          Para os incautos, será bom lembrar que pichar bens públicos é crime ambiental, com pena de três meses a um ano de reclusão, além do pagamento de multa.

 
Memória Perdida de Ipanema

          Com esse título, a dezessete de setembro de 2009, escrevi blog sobre as placas de metal que foram metodicamente roubadas das calçadas de Ipanema. O propósito das ditas placas era o de preservar a memória de antigos moradores ilustres do bairro, de cinemas, sorveterias, bares, etc. Surpreende o afinco de tal saqueio do legado de Ipanema, feito de forma metódica e sem merecer qualquer alarme ou aviso.
        Atrevi-me na época a sugerir ao prefeito Eduardo Paes que as substituísse, com placas de concreto – as cicatrizes do atentado à memória de Ipanema continuam nas calçadas -, mas dele recebi uma resposta de pedra na indiferença de um silêncio que até ecoa sob os passos dos transeuntes.

 
O Separatismo Catalão

           A formação da União Européia – iniciada pelos acordos do carvão e do aço entre França e Alemanha – veio dar um basta aos conflitos que, por tantos séculos, haviam dilacerado o tecido do Velho Continente.
          O mais irônico epifenômeno dessa grande evolução está no pulular de pequenas nacionalidades que pensam redescobrir a soberania com séculos de atraso. Tudo isso se desenvolve sob o pressuposto de que poderão alimentar-se nas tetas de Bruxelas, o que é pelo menos discutível.

          Dentre os pretendentes, está a Catalunha. Nesse quadro, o Rei  Juan Carlos – que teve um péssimo ano de 2013 – sofreu a ignomia de não ter reproduzido, pelas antenas catalãs, a sua alocução de fim de ano, em que defendeu a unidade espanhola.

 

A  Mensagem  Urbi et  Orbi

       Dentro de sua linha de abertura – que é uma constante do respectivo Pontificado – no seu discurso, dirigido aos fiéis católicos, Papa Francisco resolveu inserir um público não tradicional, i.e.,  os ateus: ‘Convido também os não crentes a desejarem a paz. Todos unidos, ou com a oração ou com o desejo. Mas todos pela Paz.’

 
A Espionagem da NSA é constitucional ou não ?


       Mostrando que o destino da controvérsia jurídica só poderá ser determinado pela Suprema Corte, William Pauley,  juiz federal de Nova York, considerou ‘constitucional’ a coleta de dados de todos os telefonemas de americanos.
      Como anteriormente, outro juiz decidira em sentido contrário – posto que se reservasse examinar ainda o assunto -  tudo semelha indicar que o gesto de Edward Snowden, denunciando a Agência de Segurança Nacional (NSA), vai amadurecendo  para o exame resolutório da Suprema Corte.

 

O Salário Mínimo para 2014
 
      Para a dança inflacionária da indexação - vale dizer, a atualização automática de todos (ou quase todos) os índices – o convidado de rigor é o salário mínimo, com impacto nas contas da previdência e alhures.
     Para dona Dilma, o Twitter virou diário oficial. A partir de janeiro que anotem todos, o salário mínimo passará de R$ 678 para R$ 724 mensais.

     Para o país sem inflação, outros índices estão convocados, com o INPC (Indice Nacional de Preços ao Consumidor) à frente !

 
As Meninas do  Pussy  Riot
    
        Nadezhda Tolokonnikova e Maria Alyokhina, integrantes da banda punk Pussy Riot – e que pagaram por isso quase dois anos nas prisões de gospodin Putin – declararam aos jornalistas que o perdão “é truque de relações públicas” e, por isso, pregaram boicote aos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi, na Federação Rússa.

        Há muitas suspeitas de corrupção a pairar sobre esses jogos. Será que são intrigas da mendaz oposição ?

 
O dispendioso implante capilar do senhor Calheiros              

       Renan Calheiros prometeu ressarcir os cofres da União por ter usado avião da FAB para fins particulares (implante capilar e cirurgia nas pálpebras).  Assaltado, a posteriori da revelação, por dúvidas quanto à legalidade da boca-livre no transporte, Sua Excelência perguntou-se se havia cometido alguma “improbidade”.
      Ainda que a palavra do Senhor Renan mereça respeito,  seria quem sabe, importante verificar o montante da restituição pelo Senador alagoano.

 

Piranhas atacam na Argentina

       É impressionante a mobilidade tática da piranha, o não-tão simpático peixinho que ataca em geral em ordem unida. Os argentinos, que muitos pensavam livres de tais perigosas incursões, sofreram ataque próximo a Rosario, no rio Paraná, com pelo menos 70 feridos.
       No Brasil, a voracidade da piranha terá feito o nome do pescado ser apropriado por outras atividades, como a da personagem Aline, na novela Amor à Vida.

 

O STJD mantém Lusa rebaixada

 
       O leitor talvez saiba que sou um torcedor do Vasco da Gama. Essa condição, que é bem antiga, não me animaria, contudo, a defender a legalidade do recurso do Senhor Dinamite, para reivindicar a anulação da partida com o Atlético Paranaense.

       Mas também repugna ao meu sentido de justiça a punição à Portuguesa. O favorecimento ao Fluminense pode agradar à sua torcida – de resto acostumada a esse tipo de salvação, como a da operação de traslado da série C para a série A – mas o castigo ao time paulista foi excessivo e nunca deveria ter resultados esportivos com influência na colocação das equipes ao final do campeonato.

       Estas decisões no tapetão se deveriam circunscrever a faltas no campo e nunca à fixação da contagem de pontos, que será sempre melhor computá-las de acordo com os resultados no gramado, e não por votos de juízes esportivos.

       Daí o recurso à justiça comum, que aos gerarcas da FIFA horroriza. Dados os retrospectos respectivos, fico com a torcida da Portuguesa.

 

  A Crise de Recep Erdogan

        Há dois fenômenos que caracterizam amiúde os regimes personalistas mais duradouros.  O Primeiro Ministro Recep Erdogan evidencia ambos: a húbris, vale dizer a soberbia da autoridade, e a corrupção de seu partido islâmico.
        A investigação da corrupção levou à prisão de pessoas ligadas ao Executivo, como dois filhos do Ministro do Interior de Erdogan, assim como de outros dois membros da Pasta.

        Erdogan tentara sufocar as investigações, chegando a  estabelecer norma de que os investigadores submetessem suas descobertas previamente aos superiores. A Justiça, no entanto, bloqueou a medida. Por outro lado, um dos procuradores mais críticos às ações de Erdogan, Muammar Akkas, foi removido do cargo.
          Acuado, Erdogan tenta criminalizar os seus acusadores. De novo a praça Taksim, em Istambul, é palco de confrontos entre o povo e a tropa de choque.

     

 
(Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo)

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