Nunca
presidente de uma nação mostrou mais flagrante desrespeito pela vontade da
maioria de seu povo. Depois de longa
negociação com a União Européia, subitamente Viktor Yanukovych encontra-se com seu vizinho, o Presidente Vladimir Putin, da Federação Russa, e, sem mais, sinaliza para os ucranianos
que se apresta a entrar para a União Aduaneira organizada por Moscou, a que se
associam a Bielorrússia, o Kazakstão e outras ex-repúblicas da esfera
soviética.
Quanto ao
longamente negociado Acordo com a União Europeia, que a população ucraniana vê
com favor, ao firmar laços com o Ocidente, Yanukovych, sem pestanejar, o joga
às urtigas. Assim, a longamente planejada reunião em Vilnius, na Lituânia, dela
não mais participará o governo de Kiev.
A maneira
abrupta e desdenhosa com que desfaz da vontade do povo ucraniano não poderia
ter sido expressa de forma mais brutal por alguém que, ao invés, deve ter
sempre presentes as prioridades da nação.
Sem mais a quem
recorrer do que a si próprio, e a manifestar nas ruas e na praça da
Independência o que, nem o Gabinete, nem o Parlamento, se acha em condições de
fazê-lo, o povo acorre ao centro de Kiev, vindo de todas as partes do país,
para manifestar sua indignação e restabelecer a vontade soberana da sociedade,
no sentido de que Yanukovych não mais olhe para o passado e a antiga metrópole,
mas encare a opção do Ocidente e da democracia.
A coragem e a
fortaleza da multidão por duas vezes prevalece, arrostando rigor e inclemência do tempo, assim como os embates
com a polícia de choque, desmoralizando a cada vez os intentos de sufocar seja
pela força, seja pelo cansaço o propósito de uma gente que prefere a liberdade
aos acenos de gospodin Putin,
sucessor dos tzares e secretários-gerais da União Soviética.
Nem a lição da
mesa redonda de 2004 que, com a revolução
laranja, anulara a eleição fraudulenta de Yanukovych, e no reconvocado
pleito, escolhera Viktor Yushchenko, parece capaz de mostrar ao
presidente atual a importância de respeitar a vontade do Povo.
Mais uma vez, o
presidente enjeita a preferência do povo, e se reúne com Vladimir Putin. Sob as
muralhas do Kremlin, Yanukovych se reúne com Putin. Surdo aos protestos, e
agindo como se fora um autista, o presidente ucraniano revela que o novo-velho acordo abrange
indústria, agricultura, defesa, construção e transporte. Na conformidade do cenário imperial, os dois
presidentes proclamam que a planejada cooperação será benéfica para os dois
países.
Ainda mais,
acrescenta Putin, ‘Estamos prontos a examinar a possibilidade de maior
aproximação nas esferas econômica e política’.
Diante de
presidente que diz uma coisa na véspera – sob a pressão de seus predecessores e
dos líderes parlamentares, que buscam expressar o sentir da maioria – mas logo
atende aos chamados de gospodin Putin,
para dar o dito por não-dito, só resta ao Povo da Ucrânia voltar às gélidas
praças e aos palácios sem calefação, para impor a própria vontade.
Como para
eles a liberdade e o direito de decidir do respectivo destino são conquistas
recentes, preferem defendê-las como se fossem antigos e preciosos bens, a
exigir todo tipo de sacrifício.
De longe, a
tudo assiste do catre de Kharkov
vítima ilustre de Viktor Yanukovych. Mas não há opróbrio que sempre dure, nem
fasto que nunca se acabe.
Pois a
paciência da multidão revolucionária, sobretudo se à frente desfraldam os
estandartes da democracia, pode ter limites, para que uma vez mais se repitam
os trágicos choques entre o déspota de turno e a anônima, mas luzente
infantaria da liberdade.
(Fonte: CNN)
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