A retração do PIB de 0,5%
surpreendeu como um raio em céu sem
nuvens. Essa inflexão de 0,5% do terceiro trimestre é motivo de espécie por um
certo número de causas.
Em primeiro
lugar, é a primeira queda neste tipo de comparação desde o início de 2009, em
plena recessão (a dita marolinha), após a eclosão da grande crise financeira,
anunciada pela falência do Banco Lehman
Brothers.
Com base neste resultado, as
consultorias revisaram suas estimativas para a expansão do PIB em 2013, a
maioria para baixo. O PIB teria no último trimestre expansão entre 2,2% e 2,4%,
vale dizer o dobro do crescimento de 1% de 2012.
Pela ótica da
produção (oferta), a agropecuária teve uma queda de 3,5% (devido à falta da
soja), e o crescimento na indústria e nos serviços foi de 0,1%.
Já pela ótica
da demanda, o consumo ganhou fôlego (1%), enquanto os investimentos caíram
(-2,2%), repetindo um modelo de crescimento baseado mais nos gastos das
famílias (o que, consoante os especialistas, se está esgotando). No que tange
ao setor externo, ele apresenta contribuição negativa ao PIB (exportações
-1,4%; importações -0,1%).
No
entendimento de Zeina Latif (sócia da Gibraltar Consulting) – “O fato é que o
país cresce pouco. Teremos um 2013 com expansão maior que em 2012, mas com uma
fraqueza disseminada.”
No campo
internacional, quem mais cresceu foi a Coreia do Sul, com 1,1%. Seguem-se
México e Reino Unido, com 0,8%, os EUA, com 0,7% e o Japão, com 0,5%. Dentre os
resultados negativos, o Brasil está em terceiro, com os ditos -0,5%. Na sua
frente, França e Itália, com -0,1%.
Por sua vez, o
Ministro Guido Mantega, o otimista de plantão, atribuíu o baixo crescimento da
atividade econômica brasileira no terceiro trimestre aos ajustes feitos pelo
IBGE no cálculo do PIB do primeiro e segundo trimestres (sic).
A par disso,
Miriam Leitão externa sua preocupação com a iminente nota a ser dada ao Brasil
pela principal agência de avaliação de risco, a Standard & Poor.
O ceticismo de
muitos comentaristas econômicos sobre o governo Dilma aparece também no artigo
de Vinicius Torres Freire “Não poderia ser melhor: economia já mal das pernas
foi contaminada ainda pelo tumulto político e financeiro do trimestre”. Parece-me de interesse cotejar o parágrafo
inicial com o final: “Ator principal da comédia de erros encenada desde o fim
de 2011, o governo foi coadjuvante menor do filme B do PIB do período”. E para
completar: “para que nossa história em 2014 não seja pior que a de 2013,
teríamos de contar com uma reviravolta incrível da política econômica de Dilma
Rousseff, com uma transição suave nos EUA e com uma surpresa positiva no
crescimento mundial. Muita sorte.”
Com a devida vênia, talvez o colunista
acrescente ao fator Dilma muitas outras incógnitas. O conselho da prudência é
cair na real, e na reportagem da Folha “Indefinição fiscal leva Tesouro a
‘lavar roupa suja’. Arno Augustin, Secretário
do Tesouro, reuniu há dez dias a equipe para “lavar roupa suja”. Como costuma
ocorrer em tais situações, a agenda da reunião fugiu do controle de quem a
convocara. Por um lado, técnicos quiseram saber se há limites para as operações
do BNDES, principal financiador da área
econômica.
O inquirente
não saberia da última manobra atribuída ao petista: um empréstimo da Caixa para
a Eletrobrás pagar dívidas com o setor elétrico (diante da reação negativa, a
operação teve de ser abortada, embora houvesse sido decidida em reunião com o
Ministro Mantega e a própria Presidenta.
Arno Augustin, em 2012, lançou mão de o que foi chamado de “contabilidade criativa”, para engordar o caixa do Governo sem, de fato, economizar. Essa prática consiste em tirar da conta dos gastos despesas como as feitas com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e inflar as receitas, antecipando, por exemplo, a entrada de dividendos de estatais. Arno Augustin também é responsabilizado pela falta de transparência nas estatísticas oficiais.
Os leitores
me perdoem a suposta falta de coerência de certos personagens. Mas pensando
bem, talvez essa aparente confusão ajude não só a enquadrar melhor a situação,
mas especialmente lograr compor as peças deste quebra-cabeça.
E não é que tudo fica mais claro quando
nos recordamos que a Presidente da República, Dilma Rousseff, é economista ?
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo)
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