Os discursos de Dilma Rousseff, ao servir-se
das datas marcantes no calendário, costumam delas valer-se como oportunidade política.
Adentrando o ano em que pleiteará a reeleição, não é a primeira mandatária que
se dirige ao povo brasileiro, ao ensejo do Ano Novo, mas sobretudo a candidata
à reeleição já em campanha.
Que os seus
adversários ainda sejam sombras de um cenário em formação, pior para eles, que
não dispõem de tal oportunidade.
Essa
considerável vantagem – implícitas na alocução, as promessas de realizações
futuras se sucedem, para que o eleitor não esqueça um só momento o que é
suposto perder se der tento ao outro lado – a presidenta a utiliza com considerável
desenvoltura, chegando a afirmar que seu governo sofre ‘guerra psicológica’ na
área econômica.
Se o viés é de
campanha – como o pronunciamento não deixa muitas dúvidas – Dilma tem sempre
presente (e o marqueteiro está aí para relembrar-lhe) que a melhor defesa será
sempre o ataque. A vantagem se afigura
tanto maior, que, ao contrário de outros países – que pensam na importância do
contraditório para a informação da cidadania – aqui não há tempo em rede nacional para o representante da
oposição.
Como indica a Folha, em três anos de governo, a presidenta
já encosta no seu criador (em matéria de discursos em rede nacional). Assim, já
foram dezessete, em três anos, enquanto o antecessor, em dois
mandatos completos, teve 21
pronunciamentos.
Tão assídua
presença deve corresponder à recomendação do marqueteiro, dadas as
peculiaridades de menor conhecimento inicial pelo público da candidata da
algibeira de Lula.
Como assinala
igualmente a Folha, o monólogo
presidencial teve de parte de Eduardo Campos (PSB) – que terá,
como possível companheira de chapa Marina Silva por peripécias
jurídico-eleitorais demasiado conhecidas – a oportuna observação da minuta de Medida Provisória que dormiu na Casa
Civil desde março de 2012, e que só agora, ao ensejo da catástrofe no Espírito
Santo, foi publicada no Diário Oficial.
A referida MP se propõe
facilitar o acesso a recursos para municípios atingidos por desastres
naturais. Para alertar o povo
brasileiro, Eduardo Campos só pode servir-se de seu perfil no Facebook para acusar o governo federal
de ‘esperar o pior acontecer’ para agir no Espírito Santo.
Da fala
presidencial, o eleitor brasileiro – que aí não ouviu qualquer menção do fato
político mais importante de 2013 (os protestos de rua, iniciados em São Paulo,
em junho, com o movimento do Passe-livre) – é induzido a supor que os problemas
da inflação e os artifícios fiscais (provocados pelos gastos excessivos do
governo, sem amparo nas receitas) decorrem da ‘guerra psicológica’, que
proviria de campanha instilada por ‘alguns
setores’, ‘para inibir investimentos e retardar iniciativas’. O ataque presidencial é duro, mas não define
a parte da coletividade (empresariado?) a que se dirige.
Habilidades
marqueteiras à parte, e eventuais manipulações populistas ou até neo-chavistas,
há ainda muito chão pela frente da candidata oficial. O importante é que a
campanha se aprimore em liberdade e equidade, sem a desenvoltura de outros
rincões, que se valem do Estado como se fora prolongamento dos ocasionais detentores
do poder.
É importante não
imitar – nem arremedar – seja o fraudulento PRI,
no regime mexicano hoje defunto, seja as variações neopopulistas do chavismo e
do peronismo, que, embora agressivas, são plantas estrangeiras para a
democracia brasileira.
Não se deve jamais
esquecer que o Estado é conquista da cidadania, e seus instrumentos estão a
serviço do Povo soberano, e nunca de partidos políticos por mais tempo que
estejam empoleirados no poder.
(Fonte: Folha de S. Paulo)
Nenhum comentário:
Postar um comentário