segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Saudação de Ano Novo ?

                                     

         Os discursos de Dilma Rousseff, ao servir-se das datas marcantes no calendário, costumam delas valer-se como oportunidade política. Adentrando o ano em que pleiteará a reeleição, não é a primeira mandatária que se dirige ao povo brasileiro, ao ensejo do Ano Novo, mas sobretudo a candidata à reeleição já em campanha.
       Que os seus adversários ainda sejam sombras de um cenário em formação, pior para eles, que não dispõem de tal oportunidade.

       Essa considerável vantagem – implícitas na alocução, as promessas de realizações futuras se sucedem, para que o eleitor não esqueça um só momento o que é suposto perder se der tento ao outro lado – a presidenta a utiliza com considerável desenvoltura, chegando a afirmar que seu governo sofre ‘guerra psicológica’ na área econômica.
      Se o viés é de campanha – como o pronunciamento não deixa muitas dúvidas – Dilma tem sempre presente (e o marqueteiro está aí para relembrar-lhe) que a melhor defesa será sempre o ataque.  A vantagem se afigura tanto maior, que, ao contrário de outros países – que pensam na importância do contraditório para a informação da cidadania – aqui não há tempo em rede nacional para o representante da oposição.

      Como indica a Folha, em três anos de governo, a presidenta já encosta no seu criador (em matéria de discursos em rede nacional). Assim, já foram dezessete, em três anos, enquanto o antecessor, em dois mandatos completos, teve 21 pronunciamentos.
      Tão assídua presença deve corresponder à recomendação do marqueteiro, dadas as peculiaridades de menor conhecimento inicial pelo público da candidata da algibeira de Lula.

      Como assinala igualmente a Folha, o monólogo presidencial teve de parte de Eduardo Campos (PSB) – que terá, como possível companheira de chapa Marina Silva por peripécias jurídico-eleitorais demasiado conhecidas – a oportuna observação da minuta de Medida Provisória que dormiu na Casa Civil desde março de 2012, e que só agora, ao ensejo da catástrofe no Espírito Santo, foi publicada no Diário Oficial.  A referida MP se propõe facilitar o acesso a recursos para municípios atingidos por desastres naturais.  Para alertar o povo brasileiro, Eduardo Campos só pode servir-se de seu perfil no Facebook para acusar o governo federal de ‘esperar o pior acontecer’ para agir no Espírito Santo.       
       Da fala presidencial, o eleitor brasileiro – que aí não ouviu qualquer menção do fato político mais importante de 2013 (os protestos de rua, iniciados em São Paulo, em junho, com o movimento do Passe-livre) – é induzido a supor que os problemas da inflação e os artifícios fiscais (provocados pelos gastos excessivos do governo, sem amparo nas receitas) decorrem da ‘guerra psicológica’, que proviria de campanha  instilada por ‘alguns setores’, ‘para inibir investimentos e retardar iniciativas’.  O ataque presidencial é duro, mas não define a parte da coletividade (empresariado?) a que se dirige.

      Habilidades marqueteiras à parte, e eventuais manipulações populistas ou até neo-chavistas, há ainda muito chão pela frente da candidata oficial. O importante é que a campanha se aprimore em liberdade e equidade, sem a desenvoltura de outros rincões, que se valem do Estado como se fora prolongamento dos ocasionais detentores do poder.
      É importante não imitar – nem arremedar – seja o fraudulento PRI, no regime mexicano hoje defunto, seja as variações neopopulistas do chavismo e do peronismo, que, embora agressivas, são plantas estrangeiras para a democracia brasileira.

      Não se deve jamais esquecer que o Estado é conquista da cidadania, e seus instrumentos estão a serviço do Povo soberano, e nunca de partidos políticos por mais tempo que estejam empoleirados no poder.



(Fonte:  Folha de S. Paulo)

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