quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Yanukovych e as manifestações

                                             
                          
      A situação na Ucrânia continua a caracterizar-se pela insatisfação da opinião pública, diante da opção pró-Rússia do Presidente, e as tentativas deste último de alternar repressão com promessas inconclusas, a refletir-lhe o  desejo de ganhar tempo e de jogar com a diminuição do ardor nos protestos.
     Ontem à noite a sua polícia de choque forçou o avanço na Praça da Independência, posto que, pelos inúmeros obstáculos colocados pelos manifestantes não terá logrado afastá-los por completo dessa área central de Kiev. Alguns milhares de testemunhas da liberdade ainda lá persistem.

     Em reunião com a ‘ministra das relações exteriores’ da União Européia, Catherine Ashton, o Presidente prometeu que “opositores presos nos protestos seriam libertados”. Por outro lado, no encontro de “mesa redonda” com a trindade de ex-presidentes – Leonid Kuchma, Leonid Kravchuk e Viktor Yushchenko – houve verdadeiro diálogo de surdos, quando Viktor Yanukovych asseverou que, ao contrário de aprofundar a opção Europa ocidental, ele não abre quanto a restaurar as relações comerciais com a Rússia.
      O discurso pró-Rússia do Presidente – quando a revolta das ruas é justamente derivada da maneira desabrida com que cortara os laços com Bruxelas – aponta para uma diferença capital: enquanto a multidão e a oposição falam da perspectiva da União Europeia, ele repisa, de forma inequívoca, posto que indireta, a sua dependência do grande irmão do Norte.   A pressão que sofre de Vladimir Putin é muito clara, e a pergunta que paira no ar é se Yanukovych continuará a abraçar a “opção russa” a ponto de exacerbar a oposição popular, que favorece a abertura para a Europa e a democracia, por intermédio do acordo com Bruxelas.

       A Ucrânia de Yanukovych tem dívida de US$ 60 bilhões com a Rússia, mormente pelos contratos de fornecimento de gás. Dessarte, a ‘proposta’ de Putin de que Kiev ingresse na União Aduaneira é apenas o contrapeso da dependência energética, na qual a Ucrânia beira a inadimplência.

        Daí, essa lógica de afogado de Yanukovych. Por mais que a aliança com o Kremlin seja detestada pela maioria da opinião, ele persiste em declarações do tipo “nós não podemos conversar sobre o futuro sem falar em restaurar as relações comerciais com a Rússia.”
       Pressionado, Yanukovych tenta conciliar o inconciliável, com a promessa de enviar a Bruxelas nesta semana representantes para dialogar sobre novas condições financeiras para o acordo comercial com a U.E.  Diz a respeito que pretende negociar com a UE apenas sobre este ponto, mas não sobre a participação na União Aduaneira, que permanece firme.

      Politica e ideologicamente, Yanukovych está muito mais próximo de gospodin Putin.  Daí, a pressão deste último o forçaria a tomar posições pró-Moscou, que já são de seu manifesto agrado. O problema de Viktor Yanukovych parece ser, portanto, a população que enche ruas e praças de Kiev, para manifestar a sua ligação com a União Europeia, Bruxelas, e tudo o que isto significa em termos de escolha política pró-liberal.
       Se pretende seguir nesta linha, Yanukovych terá de depender sempre mais da via autoritária. Ele a tem seguido de forma consistente, a começar pela judicialização da disputa política (colocou a principal líder da oposição na cadeia, Yulia Timoshenko, valendo-se de um dócil juiz). O problema de que segue tal caminho é o que fazer com o povo ? Se lograr a repressão por meio do aparato policial, como ficará a situação quando das próximas eleições presidenciais ?

        Como contornar a manifesta indisposição popular com as opções do pró-russo Yanukovych? Pensará acaso em mais uma eleição trucada, como a que originou a revolução laranja de 2004?
        Se pensa em Ucrânia democrática, como resolver a quadratura do círculo ?  Terão alguma utilidade no capítulo os conselhos do ex-KGB Vladimir V. Putin, na Rússia, e de Aleksandr Lukashenko, na Bielorússia ?  

 

(Fonte:  Folha de S. Paulo)

Nenhum comentário: