domingo, 29 de dezembro de 2013

Da Burrice Patrimonialista

                                       

        De volta, após breve pausa neste blog, a tevê e a leitura dos jornais apontam mostra que, como na fábula, o governo de Pindorama só vê, no seu breu mental, que a solução de seus problemas de caixa está para sempre encastoada na inchação da bolsa tributária.
        Muitos dos leitores se recordarão que os inconfidentes mineiros aguardavam como senha para tentar repetir a revolução americana – que sacudira os grilhões da pérfida Albion – o anúncio da temida derrama pelos prepostos de dona Maria a Louca. Assim, o braço imperial da metrópole lusa pensava resolver os problemas de sua  decadente ineficiência apelando para o burro, escorchante mais, como se não houvesse outra saída diante dos desafios da administração.

       As monarquias ibéricas atravessavam o século das luzes no black-out do absolutismo dos gostos suntuários e da condenação de irremediável retrocesso. Debaixo de sua pesada e entorpecida mão, se agitavam os espíritos impacientes de súditos que ansiavam por liberar-se de tão empedernidas estupidez e falta de imaginação.
      Será que o Brasil mudou tanto assim depois do iluminismo (que aliás esteve longe da península ibérica e, por conseguinte, de suas oficiais dependências coloniais) ?

      Sabemos que a ineficiência ibérica cuidou, pelas vias travessas da respectiva obtusidade, que o ouro das Minas Gerais e a prata dos veios de hispano-américa fossem parar na City de Londres, e até nas irrequietas províncias da Nova-Inglaterra. Essa ciência, no entanto, não parece aproveitar-nos de muito, eis que os governos da Terra de Santa Cruz continuam a incidir nos mesmos erros do colonizador.   
      O impostômetro – essa contribuição digital da Paulicéia – está aí, com os seus tristes recordes, para nos lembrar da sanha burra dos publicanos de hoje – federais, estaduais e municipais – arrecadando sempre e mais, seja para o ralo da corrupção, seja para as inelutáveis despesas estatais.

      O Brasil – e vai nisso um crescimento vegetativo que espelha o quão pouco se pensa sobre o assunto – tem carga tributária de primeiro mundo e serviços básicos à população de terceiro e quarto.
      Quando se falou em reforma fiscal e política – e esta oportunidade costuma surgir apenas no discurso de posse e nos primeiros míticos cem dias – a novel Presidente não se mostrou à altura do desafio. Preferiu delegar o assunto ao Congresso, o que equivale a enterrá-lo.

      Agora, com as compras de brasileiros no exterior, e os enormes, previsíveis déficits  nas contas correntes, a solução que o dílmico governo encontra para o desafio é a da repetição do erro. A Fazenda do Senhor Mantega responde de forma estúpida e repetitiva. Afinal, onde está a metodologia? Será que não há interesse em examinar as causas do problema? Qual a razão do aumento das compras no circuito de Elizabeth Arden?

       Pois a razão é singela, conhecida de todo aquele que se dispõe a comprar lá fora e não aqui. Como os produtos do Norte maravilha não estão sobrecarregados pela maquinal cobiça de nossos tributos, a diferença de preços é tal que provoca toda esta atração do consumidor.
        Dessarte, pela sua resposta automatizada, o governo de dona Dilma erra outra vez. A sua reação para lidar com esse desafio é uma vez mais burra. Se a causa que está na raiz dos êxodos dos compradores brasileiras é a carga tributária, grita aos céus que a resposta do mais imposto (O  IOF sobre cheques de viagem e cartões pré-pagos subiu de 0,38% para 6,38% !) não resolve nada, porque o consumidor encontrará maneiras de lidar com mais engonço tributício.

       Todos (ou quase) todos sabemos, que Dilma Rousseff e seu governo gastam muito. Esse segredo de Polichinelo está em todos os mercados, inclusive o daqueles que antes nos valorizavam pela exação nas contas.
       Sente-se pena de uma administração chefiada por uma economista que envereda pelas maquiagens fiscais e pela propaganda mentirosa (como a daquele provecto senhor que entra nas nossas salas para gabar a qualidade do atendimento médico do SUS). Com as diferenças de tecnologia – no século XVIII eram as chamadas Vilas Poniatowski para iludir a soberana Catarina da Rússia – e hoje as patranhas do SUS, que a peregrinação de uma mãe nas clínicas do DF, logo desmonta, pela cruel negativa de tratamento de urgência a uma criança de poucos meses.

       Por que ao Governo é proibido pensar ? Quase trezentos anos já passaram e a derrama dos impostos – reais ou ameaçados – prossegue na sua marcha inglória. Será que esse acúmulo de respostas burras e tristemente ineficazes não terá fim ?

 

(Fonte: O  Globo)

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