Os baixos índices de ibope se repetiram mesmo na emissão comemorativa de número 2.000, o que veio sublinhar o caráter irreversível do fenômeno.
Precedido pelo exitoso Programa do Faustão, essa inglória luta de preservação de espaço de audiência motiva as frequentes adaptações de horário do início do Fantástico. Assim, valendo-se da penetração de seu programa de auditório diante da concorrência das diversas redes menores, o ponto de partida do Fantástico vai depender dessa situação, de modo a garantir-lhe um público aceitável para o respectivo início.
De acordo com o seu caráter jornalístico, o Fantástico tem procurado reforçar a sua faixa de audiência através de denúncias fundadas em louvável trabalho de jornalismo investigativo.
Nesse sentido se insere a sua reportagem sobre a corrupção nas licitações de empresas do ramo hospitalar. Decorrente de um longo esforço, com o habitual uso de câmeras secretas, a denúncia mostrou o cinismo dos implicados, a óbvia banalização de atividade delituosa, a par de sua flexibilidade e abertura para todas as práticas relacionadas com o desvirtuamento da lisura do processo licitatório.
No entanto, uma vez divulgada a denúncia, temos o coro das autoridades que condenam a prática da corrupção assinalada pelo programa, e se comprometem a tomar todas as medidas para coibi-la, com a punição dos envolvidos.
Provoca espécie, no entanto, que a exposição dessas manifestações da hidra da corrupção partam em geral desse tipo de jornalismo investigativo. Até que se venha a declarar a nudeza do rei, a atitude das instâncias competentes será sempre evocativa da imagem dos três símios que nada vêem, nada ouvem, e nada dizem.
Nesse contexto, é importante o papel desempenhado pelo Fantástico, nas suas denúncias rituais de atividades delituosas, desveladas nos vários níveis de responsabilidade das autoridades federais, estaduais e municipais.
Para um povo morigerado e honesto, essas práticas aéticas causam mais do que consternação. Sem embargo, a exposição dos malfeitos, a eventual punição dos responsáveis, terá inegável efeito positivo, como uma reação na longa luta contra a invadente corrupção, nos seus vários avatares, que principiam pela chamada lei de Gerson e congêneres.
Todavia, esse gênero de denúncia, o aporte trazido pelo Fantástico, deve ser contextualizado. Assim como a pobreza e a miséria não podem ser superadas pelas tópicas atividades caritativas de segmentos mais abastados, de igual modo cumpre ter presente o fôlego curto e o âmbito restrito desse tipo de programação.
Assim, seria realmente passível de dúvida que reportagem anterior do Fantástico, com grande repercussão, sobre a situação das cadeias públicas no Maranhão, terá tido um efeito duradouro ? Acaso não se afigura provável que, passada a exposição da mídia, o estado campeão do programa assistencialista da Bolsa Família continuaria a assinalar-se tristemente por prisões que são verdadeiro libelo em termos de desrespeito aos direitos humanos ?
Releva sublinhar que os programas de denúncia do Fantástico têm importância. Sem embargo, se a sua sequência for a do imediatismo – dado o caráter perecível desse tipo de notícia – o que, em essência, se aplicaria na audiência seriam gotas de beladona, com o transitório alívio que essa medicação pode trazer.
(Fonte: Rede Globo)
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