sexta-feira, 2 de março de 2012

Descalabro do Serviço Público no Brasil

                             
        Se os cariocas e fluminenses podem pensar que o serviço público no estado é o pioral no Brasil, logo encontrarão o dúbio consolo de que não estão sozinhos nessa nada invejável condição.
       Aqui o transporte coletivo continua não só ruim, mas afrontoso para os usuários.
       Quando o Presidente Lula da Silva se abalou até o Rio, em 20 de dezembro de 2009, para inaugurar a estação General Osório, já sob o cenário das eleições de três de outubro de 2010, valeu-se de atmosfera de pública euforia, como se o provisório ponto final do metrô fosse o alegre portador de boas novas para esse transporte de massa.
      Lula e o governador  Sérgio Cabral riam muito, mas decerto por outros motivos. A inauguração da extensão até Ipanema lhes terá sido útil nos sufrágios para a apadrinhada Dilma Rousseff, e para o próprio Cabral, que chegaria a prescindir de segundo  turno.
      Sem embargo, todo aquele júbilo oficial seria cortina de fumaça para o que se revelaria o desserviço do metrô. Com a conivência do poder público estadual, a concessionária vem descumprindo todos os prazos para o fornecimento de novas composições, cuja urgência salta aos olhos de qualquer observador, dado o estado lastimável dos atuais vetustos vagões.
      Com ar condicionado deficiente – e no clima do Rio esse tipo de refrigério é artigo de primeira necessidade -, dilapidados por décadas de uso, e reduzidos a quatro carros (ao invés dos prescritos cinco), o metrô se transformou, com o aumento das linhas e o pleno ingresso da Baixada Fluminense, em instrumento de suplício para os usuários.
      Como isso não bastasse, o Governo Sérgio Cabral permite agora que a concessionária aumente o preço da passagem. O povo carioca tem suportado quase com resignação esse arremedo de transporte público. Sem embargo, há limites para a paciência humana. Vendo-se abandonados pela instância estadual – assim como no transporte da chamada Supervia, na área da antiga Central do Brasil, onde já houve mais de uma manifestação de protesto dos usuários – até quando essa gente sofrida aguentará a conjunção da benévola (?) negligência do Estado, com as falsas promessas da concessionária.
       Os cariocas, no entanto, podem encontrar consolo na precária condição do atendimento sanitário (entre outros) que, ó surpresa !, é reservado para aqueles que são constrangidos a recorrer ao chamado Sistema Único de Saúde, o famigerado SUS.
       Por conta da reeleição, esse triste e deletério legado que nos deixou Fernando Henrique Cardoso, a campanha de primeiro turno do Governador Cabral foi quase um passeio, em que o principal candidato da oposição, Fernando Gabeira (cuja eleição a prefeito fora escamoteada pelo golpe de um ponto facultativo, permitido pela justiça eleitoral, e que ensejou a vitória por escassa maioria do aliado de Cabral, Eduardo Paes) muita vez não podia mostrar, na propaganda eleitoral dita gratuita, as reais condições dos hospitais a cargo do Estado de Cabral.
       Não há de espantar, portanto, que em sua manchete hodierna o Globo afirme: Município e Estado do Rio estão entre os piores do ranking nacional. O jornalão se refere ao SUS que ,na avaliação do próprio ministério da Saúde, só é bom para 2% dos brasileiros.
       De resto, os dados são mais do que condenatórios, penosos para o Rio de Janeiro. A exemplo de o que ocorre com a educação, o Rio está, depois do Piauí, como o pioral, as notas tampouco são luzentes para a antiga capital e o estado fluminense: com índice de 4,58 o estado do Rio é o antepenúltimo no Brasil (atrás do Pará e de Rondônia). Por sua vez, nos municípios com maior desenvolvimento humano, o Rio de Janeiro colhe a palma do desserviço, com 4,33, seguido por Belém (4,57) e Maceió (5,04).
      Haja vista o impostômetro – e a maligna desproporção entre tributos e retorno em matéria de serviços e obras – compreende-se de resto o afã de toda a grande aliança do PT com a chamada base, na qual, capitaneados pelo presidente Lula e sua candidata, em desconstruir o renome de José Serra como o maior ministro da saúde que por aqui passou, malgrado a circunstância um tanto incômoda, de que fosse o único não-médico a ocupar o posto. Talvez, de resto, o maior elogio à capacidade de Serra haja sido previamente pronunciado, pela frenética campanha contrária liderada pelo suposto aliado Antonio Carlos Magalhães.
      Na verdade, o estado do SUS e do atendimento público ao brasileiro não é, como diria o poeta, um retrato na parede, mas como dói !



( Fonte: O Globo )   

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