A Fraude Anunciada
A boca de urna sinalizara uma vitória com sessenta por cento dos votos. O candidato Vladimir Putin, ladeado pelo atual presidente e antigo companheiro,Dmitri Medvedev, veio agradecer, emocionado, à manifestação de apoio do povo russo.
Sem embargo, as suspeitas de fraude generalizada são muitas. Que tais dúvidas quanto à legitimidade do triunfo apareçam, já é uma decorrência do presente sistema de votação e de apuração. Tudo se afigura direcionado para facilitar a fraude: a cédula preenchida a mão, a falta de informatização que permite a um eleitor comparecer a mais de uma seção para votar, a localização de muitas seções em fábricas e hospitais, com o intento de forçar o sufrágio no candidato de Rússia Unida, e o controle virtual da apuração, como se verificou nos comícios para a Duma (câmara baixa).
A oposição advertira que se as temidas práticas se repetissem, seriam organizadas manifestações multitudinárias em protesto ao menosprezo pela vontade popular. Muitos dos eleitores, se não mais morrem de amores por Putin, tendem a preferi-lo, como uma espécie de garantia, dentro da conhecida fórmula ruim com ele, pior sem ele.
Os comícios de protesto – se confirmados na realidade e com afluxo respeitável – poderão ser, dependendo sempre de seu número e força, sinais de intensidade variável para esse terceiro mandato do antigo funcionário da KGB.
Quem lhe passará a formalidade do poder em maio próximo, Dmitri Medvedev, é objeto de uma série de boatos. Como Putin não mais a ele se referiu, especula-se acerca de seu afastamento, não mais voltando a ocupar o cargo de primeiro ministro, como semelhara fosse prenunciado pela sua renúncia a disputar a reeleição.
Com efeito, a Federação Russa entra em fase de expectativa. Haja vista a alegada amplitude da fraude – e o precedente dos recentes protestos – aguardam-se as reações ao suposto esbulho da vontade popular.
Votação do projeto de Código Florestal
Mesmo se aceitar as tíbias mudanças introduzidas pelo Senado, o novo Código já será um mostrengo. As multas aplicadas por desmatamento ilegal serão revogadas, na proporção de três para quatro acima de um milhão. Nessa hipótese – pois há possibilidades ainda piores – 103 multas aplicadas até 2008, consoante assinala a Folha, serão suspensas. Somam R$ 492 milhões e se referem à destruição de área equivalentes a duas São Paulo.
Mas as coisas podem se agravar. Valendo-se de uma maioria na Câmara – que não corresponde ao sentir da opinião pública – o relator do projeto, Deputado Paulo Piau (PMDB-MG) pretende alterar o texto aprovado pelo Senado. O clima de vale-tudo se reflete no desígnio do relator de desfazer os magros ganhos ambientalistas votados pelo Senado. Assim, Piau se opõe ao corte de crédito rural para os proprietários que não regularizarem suas terras em prazo de cinco anos; ao embargo obrigatório da produção em áreas desmatadas ilegalmente, e até mesmo a proteção dos manguezais.
O despropósito não pára aí. O documento do senhor Piau também é contra a exigência de recuperação da vegetação nativa em áreas de preservação permanente (APP), às margens dos rios. Esta regra – que o relator do PMDB deseja apagar – representa a magra conquista ambientalista no Senado, e, por isso, seria considerada o principal pilar do Código Florestal.
O desrespeito às APPs já teve trágicas consequências tanto no norte do Estado do Rio, quanto em Santa Catarina, para sublinhar apenas dois garrafais erros cometidos.
Por outro lado, o descompasso existente entre a opinião pública e as bancadas ruralistas no Congresso apontam para a necessidade urgente de que tais textos – que não consultam o interesse nacional e que favorecem a desmatadores, com o perdão de multas milionárias – sejam adequados a uma realidade que preserve os recursos naturais do Brasil, ora em acelerado processo de devastação.
Será que pela ganância de uns poucos, vamos prosseguir na marcha batida da Malásia e de tantos outros países, que estupidamente se desfizeram de sua riqueza natural ?
Além dos aviões de carreira, pairam no ar muitos outros projetos. O embargado choro da Presidente da República, ao dar posse ao Senador Marcelo Crivela, após a demissão forçada do petista Luiz Sérgio, transmite mensagens que vão além dos acenos das cerimônias do Palácio do Planalto.
A fraqueza política do candidato Haddad – que preteriu, por capricho de Lula, o recurso à provada força nas urnas de Martha Suplicy – é um dado objetivo, e importa em ulteriores esforços na busca de duvidoso resultado positivo.
O súbito internamento do grande cabo-eleitoral do PT, o ex-presidente Lula, no Hospital Sirio-Libanês não é eventualidade desimportante.
Ao tentar carregar para a prefeitura de São Paulo nessa íngreme ladeira das preferências citadinas o seu pré-candidato, o Partido dos Trabalhadores deverá ter presente duas condicionalidades: (a) a popularidade de Lula não se transfere necessariamente para o pupilo Haddad; (b) a sua capacidade de influenciar na disputa está limitada pelas necessidades (e reflexos) do tratamento médico-hospitalar a que deve submeter-se.
Não são os fatores acima os únicos a incidirem no resultado da campanha. No entanto, o seu peso político não pode ser desconhecido, ainda mais se levarmos em conta o calibre do adversário a que se propõe sobrepujar.
(Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de S.Paulo)
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